J. Edgar (2011)

•janeiro 22, 2012 • Leave a Comment

Título original: J. Edgar   

Origem: EUA

Diretor: Clint Eastwood

Roteiro: Dustin Lance Black

Com: Leonardo DiCaprio, Armie Hammer, Naomi Watts

Ano após ano Clint Eastwood vem se firmando como um grande diretor, que me perdoe meu fantástico professor Mr. Albéra a quem muito prezo e admiro! Mas foi assim com Além da Vida (2010), com Gran Torino (2008), Cartas de Iwo Jima (2006), Menina de Ouro (2004) e tantos outros.

Em 2011, com J. Edgar (2011) a coisa não é diferente. O filme é muito bom!

Ele conta a história de J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), homem brilhante e controverso,  que esteve a frente do FBI durante quase 50 anos, desde sua criação, deixando-o somente no dia de sua morte, em 1972. Sempre acompanhado por sua leal secretária Helen Gandy (Naomi Watts) e por seu adjunto, fiel escudeiro e amor Clyde Tolson (Armie Hammer).

Por meio de vários flash-backs que se alternam com cenas do presente (anos 70), Eastwood nos apresenta Edgar, já que Hoover é conhecido do público (americano): um homem solitário, inseguro,   eternamente dependente da aprovação de uma mãe dominadora que, entre outras coisas, nunca lhe permitiu assumir sua homossexualidade. A história é narrada pelo próprio Edgar, que nos apresenta, assim, a sua versão dos fatos.

O filme é composto portanto de um insistente vai-e-vem, onde o trio DiCaprio-Watts-Hammer aparece jovem ou maduro, mudando de maquiagem e de tempo de uma cena para outra. O que se nota, no entanto, é que apesar das mudanças de tempo,  no íntimo, nenhum deles muda com o passar dos anos. Continuam os mesmos obcecados pelo trabalho,  sem vida pessoal, sem coragem para assumir seus desejos e vontades mais íntimas. Um bom exemplo disto é a cena do elevador, onde eles entram em uma época e saem em outra. O tempo passa, mas eles não mudam. A não ser pela maquiagem que os anos nos impõem a todos!

J. Edgar vai assim acontecendo quase na escuridão, o que ressalta ainda mais o lado Edgar da vida de Hoover. Um lado perdido, medroso, infantil, desprotegido, que contrasta com o homem público de sucesso que ele foi. Há momentos em que mal vemos DiCaprio, que, aliás dá um show de interpretação, apesar de ter perdido ontem o Globo de Ouro pra George Clooney por Os Descendentes (2011)!

O filme de Eastwood – que compõe também a trilha sonora – conta, finalmente, a história de um homem dividido entre a luz dos “holofotes” (do poder e da glória) e a escuridão da intimidade (da solidão, da insegurança, da impossibilidade de se entregar ao amor e da falta de escrúpulos). Uma vida marcada pelo peso da relação doentia com uma mãe que tanto sonhou, planejou e interferiu na vida do filho,  que acabou sim por conseguir fazer dele um homem de sucesso, no entanto, alguém também de incompleto, sem paz e infeliz.

Eu recomendo!

A Fita Branca (2009)

•janeiro 16, 2012 • Leave a Comment

Título original: Das weiße Band       

Origem: Alemanha

Diretor: Michael Haneke

Roteiro: Michael Haneke

Com: Christian Friedel, Ernest Jacobi, Leonie Benesch

Já que estou publicando o “Filme da Semana” com atraso, devido ao fato de estar em trânsito, resolvi aproveitar o embalo e escrever sobre um filme de 2009, que só ontem tive a chance de assistir: “A Fita Branca”, de Michael Haneke.

Ganhador da Palma de Ouro em Cannes 2009, este filme alemão, rodado em preto e branco, é austero, profundo, denso, pesado, triste, cruel e de uma elegância e beleza de arrepiar!

A história se passa em um vilarejo no norte da Alemanha, no período pré-I Guerra Mundial. Um local onde a religião católica norteia a vida dos moradores, que são criados de maneira absurdamente severa a fim de evitar as tentações e os pecados. As mulheres e sobretudo as crianças estão em segundo (terceiro, quarto… ou último plano), sendo constantemente mal tratados e humilhados pelos homens. A fita branca – amarrada ao braço ou ao cabelo das crianças – funciona como símbolo da inocência, da pureza, da ausência de pecados, e serve como um lembrete para que se ande sempre no “caminho do bem”, escapando assim das tentações.

A trama nos é apresentada por um dos personagens da história – o professor do vilarejo (Christian Friedel) – que é também o instrutor das crianças no coral da igreja. Ele vai, pouco a pouco, nos apresentando o modus operandi da cidade, assim como alguns de seus personagens principais, nos oferecendo, assim, uma amostra dos diferentes extratos daquela sociedade: as crianças, o barão, o médico, a parteira, um homem do campo, etc.

O professor-narrador – sem nome na história – vai, então, nos relatando atos de violência (ou crimes) que vão sendo cometidos na cidade, e cujos autores são desconhecidos. Nem os personagens nem os espectadores sabem quem são os culpados. Tudo fica no ar, preso a suposições, a suspeitas, a achismos, enchendo assim o ambiente de tensão e de desejo de vingança.

A escolha do preto e branco dá ainda mais peso e mais austeridade à trama. Fora a ausência de música e os inúmeros momentos de silêncio que, perdidos em repetidos planos fixos, longos e muitas vezes vazios de personagens, causam em nós, espectadores, sensações de angústia, raiva, impotência e de total descrença na humanidade.

“A Fita Branca” é um filme que fala de culpa, punição, medo e violência, que vão se perpetuando de geração em geração e que, “por acaso” culminam com uma I Guerra Mundial, deixando traços para o aparecimento do nazismo e de uma II Guerra.

Um filme excelente, lindo e triste de se ver! Super recomendado!

Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)

•janeiro 11, 2012 • Leave a Comment

Título original : The Girl with the Dragon Tattoo      

Origem: EUA

Diretor: David Fincher

Roteiro: Steven Zaillian, Stieg Larsson (autor do livro)

Com: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer

Forte, denso, intenso, envolvente!

Apenas dois anos após o lançamento do filme  “The Girl with The Dragon Tattoo” pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, David Fincher – o premiado diretor de “A Rede Social” (2010) – nos oferece agora sua versão cinematográfica do best-seller de Stieg Larsson.

O filme conta a história de um jornalista – Mikael Blomkvist (Daniel Craig) – que, após ter sido acusado por difamação, decide se afastar de suas funções na revista Millennium, de onde é co-proprietário. Ao mesmo tempo, ele é contatado pelo industrial milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer), que o convida para escrever a história de sua complexa família, como pano de fundo para seu verdadeiro objetivo: o de desvendar os mistérios do desaparecimento de sua sobrinha Henriet Vanger, sumida há 40 anos. Mikael vai então se recolher em um chalé da família, numa ilha distante e gelada, onde todo o clã Vanger habita. Em suas investigações, ele vai contar ainda com a ajuda de Lisbeth Salander, uma hacker brilhante, coberta de pierciengs e tatuagens, uma figura exótica, sofrida, cheia de mistérios e de ressentimentos.

A montagem de Fincher nos prende a todos os instantes, auxiliada pela fantástica música de Trent Reznor e de Atticus Ross, que enfatiza o clima de suspense do filme. A última meia hora é uma verdadeira “montanha-russa”, com picos de atenção e de tensão, intercalados por momentos de alívio e de sensação de tudo resolvido.  Tudo isto ressaltado ainda pelos tons escuros, sombrios e frios da neve da Suécia.

Pra completar, Fincher ainda nos presenteia com alguns fantásticos planos subjetivos, agoniantes, angustiantes, totalmente tensos.

Um filme que, sem dúvida, vale a pena ser visto. Uma diversão com boa dose de tensão!

Nosso Top Ten 2011

•janeiro 7, 2012 • Leave a Comment


Estamos chegando ao fim da primeira semana de 2012 e, conforme prometido, aí vai a lista dos Top Ten 2011, sugerido por vocês, cinéfilos internautas.

Alguns filmes são de 2010, mas como chegaram ao Brasil em 2011, puderam também ser incluídos na lista.

–       Cisne Negro (2010), de Darren Aronofsky

–       Arvore da Vida (2011), de Terrence Malick

–       A Pele que Habito (2011), de Pedro Almodóvar

–       Meia-noite em Paris (2011), de Woody Allen

–       Os Descendentes (2011), de Alexander Payne

–       Super 8 (2011), de Steven Spielberg

–       Melancolia (2011), de Lars von Trier

–       Em um Mundo Melhor (2010), Susanne Bier

–       O Artista (2011), de Michel Hazanavicius

–       Histórias Cruzadas (2011), Tate Taylor

Obrigada a todos que contribuíram com suas sugestões ! E Feliz 2012!

Os Descendentes (2011)

•janeiro 3, 2012 • Leave a Comment

Título original : The Descendants

Origem : EUA

Diretor : Alexander Payne

Roteiro : Alexander Payne

Com : George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller

Um Clooney diferente…

Esqueçam o galã, o conquistador ou o homem bem sucedido normalmente interpretado por George Clooney. Em “Os Descendentes”, o grisalho bonitão encarna alguém de absolutamente comum, marido relapso e distante, pai ausente, e ainda por cima com um guarda-roupa em nada atraente. Um advogado que, pego de surpresa pelo acidente sofrido pela esposa, mergulha em um mundo de reflexões, de “mea-culpa” e de descobertas.

A história se passa no Havaí de hoje e começa com um acidente de barco. Elisabeth (Patricia Hastie), casada com Matt (George Clooney), mãe de duas filhas – Alexandra (Shailene Woodley) e Scottie (Amara Miller) – , e viciada em esportes radicais, sofre um acidente ainda no prólogo do filme e entra em coma. A trama vai então se desenvolver em torno do fato de Matt se ver, de um dia para o outro, responsável pela condução do dia-a-dia de suas duas filhas, de quem se havia pouco a pouco distanciado. Fora isso, há ainda, como pano de fundo, uma questão de venda de terras recebidas por meio de uma herança. Uma história, aliás, que parece, em princípio, meio perdida no enredo do filme, mas que, devagarzinho, vai fazendo sentido (não muito) no todo da história.

De uma estética não muito típica (comercial) americana, o filme de Alexander Payne privilegia os “closes” nos personagens – já desde a primeiríssima cena -, explora as paisagens como planos de transição, e – em função de um ritmo de narração mais lento – acaba por aproximar o espectador de seus personagens. As cores são meio desbotadas, como que lavadas pela chuva que cai em vários momentos do filme, e que revelam ainda o estado de espírito dos personagens.

O filme recebeu 5 indicações ao Globo de Ouro, inclusive o de melhor filme e o de melhor ator principal. É um filme que emociona, que toca, embora não necessariamente encante. Só não consegui entender a razão de ser do amigo Sid (Nick Krause) no filme. Aguardo opiniões.

Le Tableau (2011)

•dezembro 26, 2011 • 2 Comments

Título original : Le Tableau

Origem : França / Bélgica

Diretor : Jean-François Laguionie

Roteiro: Anik Le Ray

Com as vozes de : Jessica Monceau, Adrien Larmande, Thierry Jahn, Chloé Berthier,, Jean-François Laguionie

Mais uma vez neste 2011 a França nos presenteia com uma obra-prima do cinema. Um filme ousado, magnífico, um verdadeiro poema em forma de animação!

Depois de nos ter oferecido “The Artist” – filme mudo e preto e branco – no primeiro semestre, o cinema francês safra 2011 nos regala agora com “Le Tableau”: um filme de animação 2D que, sem usar a tecnologia como sua arma principal, dá um baile em muitos 3D’s que se prezam.

Embalado por uma música original magnífica (Pascal Le Pennec) e por um roteiro altamente filosófico e original, Jean-François Laguionie nos apresenta, neste fim de ano, um esplendoroso filme de arte. O filme todo é de uma originalidade e beleza capazes de provocar em nós, espectadores, o que o poeta francês Pierre Reverdy chamou um dia de “choc poétique”.

A história começa dentro de um quadro onde coabitam três categorias de personagens: os “Toupins” (os todo pintados), os “Pafinis” (não terminados) e os “Reufs” (os esboços). Os “Toupins” se sentem superiores por sua aparência finalizada e composta de diversas cores.

São eles, portanto, os que ditam as regras do quadro, sendo também os únicos a poderem adentrar o castelo, a frequentar os seus bailes e suas belas cores.

Na floresta escura que rodeia o castelo, pintada com cores mais frias e sombrias, vivem os “Pafinis” e os “Reufs”, os personagens marginalizados da “quadrociedade”.

Acontece, porém, que um “Toupin” – Ramo (Adrien Larmande) – vai se apaixonar por uma “Pafinie” – Claire (Chloé Bertier) –  e começar a questionar o status-quo do quadro onde mora. Porque o fato de ser mais pintado ou menos pintado faz alguém superior a outrem? Quem disse isto?  Baseado em quê?

E o líder dos “Toupins” tenta convencer a todos de que eles foram os escolhidos pelo Pintor. Eles são os eleitos do Artista, os “todo-pintados”, os que iriam compor o quadro em toda a sua plenitude e beleza! Para todo o sempre!

Assim, Ramo é preso por sua rebeldia. Mas consegue fugir e acaba sendo perseguido. Com a ajuda de Lola (Jessica Monceau) –  uma “Pafini”- e de Plume (Thierry Jahn) – um “Reuf”- eles rompem as fronteiras do quadro, na tentativa de encontrar o Pintor, único ser capaz de reestabelecer a ordem e a igualdade no quadro. Eles acreditam que uma vez todos pintados, a paz irá reinar por aquelas bandas.

Começa aí então uma aventura poética, em que os três representantes da “quadrociedade” vão percorrer diversos quadros em busca de seu Autor.

A ideia toda do filme é linda. Os diálogos são super inteligentes, profundos e filosóficos!  A questão da relação entre um Autor e sua Obra é muito presente! Fora é, claro, toda a questão divina de criação, de igualdade das raças, etc, etc, etc. Menção especial ao diálogo entre Lola e o “Autoportrait” do Artista – que é, aliás, interpretado pelo próprio Laguionie). Magnifique!

Quanto à estética do filme, seus planos são pinturas lindas, fauvistas, expressionistas… lindas homenagens a Matisse, a Gauguin, a Picasso e a diversos artistas do mundo moderno!

Um filme imperdível para todos os que apreciam as artes plásticas, a música, a poesia, a filosofia e a beleza!

The Lady (2011)

•dezembro 19, 2011 • 1 Comment

 

Origem : França / Inglaterra

Diretor : Luc Besson

Com: Michelle Yeoh, David Thewlis, Jonathan Raggett, Jonathan Woodhouse

Preparem os lenços e o coração!

O último filme de Luc Besson conta a história (real) de Aung San Suu Kyi, eleita primeira ministra da Birmânia (hoje Mianmar) em 1990, sem nunca ter podido assumir o poder, impedida pela ditadura que até hoje reina em seu país.

Prisioneira em sua própria casa durante quase 20 anos, sem contato com o mundo exterior nem com sua família, a “orquídea de ferro” – como foi por vezes chamada, teve que abrir mão da convivência com seus filhos e marido em nome do amor e do dever à sua pátria.

Filha do último grande líder da libertação da Birmânia, coronel Aung San – assassinado quando ela ainda era criança -, Aung San Suu Kyi (Michelle Yeoh) acabou se casando com Michael Aris (David Thewlis) – um professor universitário britânico – passando a viver em Oxford, onde  – longe de sua pátria – teve seus dois filhos.

Em 1988, chamada para voltar a seu país em função do estado grave de saúde de sua mãe, Aung San Suu Kyi parte, então, para Birmânia, em uma viagem sem volta.

Chegando lá, ela se depara com uma situação de extrema violência, pobreza e ditadura: uma nação que desconhece a palavra democracia. Os valores libertários tão defendidos por seu pai lhe enchem o espírito e ela sente que não pode apenas cruzar os braços e deixar seu país afundar sem esperanças. E é aí que seu martírio começa e sua liberdade termina.

Diante de tão rica história, Luc Besson – que começou a trabalhar neste filme em 2007, sem possibilidade de contato com sua heroína – poderia ter seguido vários caminhos para nos apresentar a vida de Suu Kyi: o da política, o da família, o do drama existencial… Acabou optando pelo viés da emoção e da beleza para mostrar ao mundo a biografia desta grande mulher.  E provavelmente por esta mesma razão, ele esteja sendo tão criticado pela imprensa francesa, que é sempre mais favorável às questões existencialistas, à introspecção ou ao realismo extremo (sem floreios).

O fato é que o filme é lindo, emocionante, tendo o diretor conseguido dar a sua obra o mesmo traço marcante da mulher que ele retrata: uma fortaleza ornada de flores.

A guerra, a violência, a ditatura e o sofrimento nos são apresentados com extrema delicadeza, elegância, beleza e poesia. As cenas são belíssimas! Os efeitos de câmera-lenta, os closes, os planos gerais, todos são extremamente agradáveis aos olhos e ao coração!

E o que toca mais de toda esta história é saber que tudo que estamos vendo estava (e está ainda) se passando enquanto levávamos (e levamos) nossa vidinha livre e feliz!

As atuações de Michelle Yeoh e de David Thewlis são de tirar o chapéu!

Os críticos franceses podem até ter razão em dizer que Besson se rendeu ao dramalhão, ao filme “à grand budget”,  comercial, etc. Mas isso não impede que o filme seja extremamente sensível, emocionante, belo, repleto de cores e planos de tirar o fôlego! A cena em que Aung San Suu Kyi anda por entre as metralhadores, em câmera lenta, mergulhada em seu mundo silencioso e cheio de paz é absolutamente magnífica!

Que me desculpem os tão respeitados Cahiers du Cinéma, Positif, Télérama etc, mas eu adorei o filme! Trata-se de um belo “portrait” de uma  grande mulher, de seu grande companheiro e de um amor sem limites por uma pátria ! Super recomendado!

PS. Em novembro de 2010, Aung San Suu Kyi conseguiu enfim a “liberdade”, mas sua luta está longe de ter chegado ao fim. O filme de Luc Besson é também uma maneira de lembrar ao mundo que atrocidades deste tipo ainda acontecem em várias partes do globo.

O Testamento do Dr. Mabuse (1933)

•dezembro 17, 2011 • Leave a Comment

Título original : Das Testament des Dr. Mabuse

Origem : Alemanha

Diretor : Fritz Lang

Roteiro : Fritz Lang, Thea von Harbou e Norbert Jacques

Com : Rudolf Klein-Rogge, Otto Wernicke, Gustav Diessl

Mais uma obra-prima de Fritz Lang!

“O Testamento de Dr. Mabuse” é uma sequência ao filme “Dr. Mabuse, o jogador” (1922), também de Lang, contando, inclusive com boa parte de seu casting. A ele seguiu-se ainda um terceiro filme, lançado em 1960 e intitulado “Os Mil Olhos do Dr. Mabuse”.

O filme conta a história de Dr. Mabuse (Rudolf Klein-Rogge), um paciente de um asilo psiquiátrico,  que vive em estado catatônico, e cuja única comunicação com o mundo exterior é feita via textos que escreve compulsivamente e que descrevem roteiros para crimes perfeitos.

Coincidentemente, enquanto Dr. Mabuse escreve seu “Testamento”, trancado em sua cela, vários crimes misteriosos vão acontecendo na cidade,  liderados por um líder sem rosto, capaz de eliminar sem piedade todo aquele que mostre ter uma opinião.

A fim de impedir que os crimes continuem acontecendo, o Inspetor Lohmann (Otto Wernicke) é chamado a dar início às investigações. Para isso, conta com o auxílio do psiquiatra responsável pelo tratamento de Dr. Mabuse, Professor Baum (Sir Oscar Beregi).

O filme é magnífico! Aliás, cada vez que assisto a um filme de Lang, mais me encanto com sua genialidade ! Com sua capacidade de dizer o “indizível”, o absolutamente proibido, por meio de personagens-metáforas, ou das não-palavras.

Sem falar, é claro, na perspicácia, inteligência e beleza com que compunha seus planos, suas sequências… seus filmes! E ainda, na riqueza dos seus diálogos, com suas mensagens subliminares, tão claras para nós hoje, cidadãos do século XXI.

Uma sequência que me marcou foi a que nos mostra um dos assassinatos do filme, em que buzinas de carros são usadas para abafar o som dos tiros… Todos os carros saem, menos um. E imediatamente entendemos toda a ação. Sem palavras, sem diálogos.  Nada precisa ser dito e tudo é compreendido.

 “O Testamento do Dr. Mabuse” é o segundo filme falado de Fritz Lang e foi proibido na Alemanha de Hitler, censurado por seu todo-poderoso Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels.

De fato, se atentarmos aos diálogos do filme, rapidamente entenderemos que qualquer semelhança com o que se passou na Alemanha de Hitler não é mera coincidência…

Grande pedida para o fim de semana ou para o novo ano que se anuncia!

Top Ten 2011 – Cahiers du Cinéma

•dezembro 14, 2011 • 10 Comments

Como acontece todos os anos, o Cahiers du Cinéma – uma das mais respeitadas revistas sobre cinema no mundo – publicou, em seu último número, a lista dos filmes Top Ten 2011

Compartilho, então, com vocês a lista elaborada pelos críticos do Cahiers, deixando-a desde já como sugestão para o ano que se inicia.

  1. Habemus Papam, de Nanni Moretti (Itália / França)
  2. O Estranho Caso de Angélica, de Manoel Oliveira (Portugal / França)
  3. A Árvore da Vida, de Terrence Malick (EUA)
  4. Hors Satan, de Bruno Dumont (França)
  5. Essential Killing, de Jerzy Skolimowski (Polônia / Noruega / Hungria / Irlanda)
  6. Melancolia, de Lars von Trier (Dinamarca / Suécia / França / Alemanha)
  7. Un Été Brulânt, de Philippe Garrel (Itália / França / Suiça)
  8. Super 8, de J.J. Adams (EUA)
  9. L’ApollonideOs Amores da Casa de Tolerância, de Bertrand Bonello (França)
  10. Meek’s Cutoff, de Kelly Reichardt (EUA)

Aproveito também para lançar uma proposta. Que tal montarmos a nossa própria lista Top Ten 2011?

Escreva em “Comentários” qual foi o filme mais marcante deste ano e porquê. Se não quiser ou não tiver tempo, não precisa dizer o porquê, só envie o nome do filme. Assim, conseguiremos montar a nossa listinha.

Na primeira semana de janeiro, publicarei os resultados.

Fico aguardando as sugestões!

As Neves do Kilimanjaro (2011)

•dezembro 11, 2011 • Leave a Comment

Título original : Les neiges de Kilimandjaro                                                                  

Origem : França

Diretor : Robert Guédiguian

Com : Ariane Ascaride, Gérard Meylan, Jean-Pierre Darroussin, Marilyne Canto

Realista, crítico, contemporâneo, emocionante, belo !

Apesar de não trazer nenhuma novidade estética, nenhum plano de tirar o fôlego, o filme de Guédiguian é envolvente, denso e emocionante!

A história é baseada no poema de Victor Hugo “Les Pauvres Gens” e se passa em Marseille, em uma família de um sindicalista que acaba de perder seu emprego.  Apesar da situação difícil, a família se mantém unida, alegre, aproveitando o tempo livre para curtir a companhia um do outro. Até que um dia, um roubo acontece e vira tudo de pernas pro ar. O clima leve e descontraído da primeira parte do filme dá lugar a um clima mais denso, mais carregado e menos feliz. Como se saíssemos de um sonho e entrássemos na dureza da realidade – desemprego, pobreza, injustiças, maldades.

 “As neges de Kilimandjaro” é um filme sobre perdão, sobre gente justa, honesta, gente que ainda é capaz de se angustiar com as injustiças do mundo, gente simples que se questiona, que erra, que acerta, mas que tenta, acima de tudo, fazer “o bem”.  Pode parecer utópico, piegas, ou clichê, mas ainda assim, faz bem ao coração pensar que num mundo tão cheio de injustiças ainda exista gente assim!

Os diálogos são muito bem escritos, profundos, sensíveis! Nos fazem refletir sobre uma porção de coisas e situações que nos cercam. Nos fazem pensar sobre o comportamento humano – o nosso e o de outrem – e sobre nossas reações e ações ao longo de nossas vidas.

Aliás, Robert Guédiguian é conhecido como um humanista, um cineasta engajado, um “naïf”. Um cara que é capaz de fazer um filme de crítica social com um olhar otimista, com traços de esperança no ser humano. Um Cândido da sétima arte!

Absolutamente recomendado a todos os que apreciam filmes que nos fazem pensar sobre a vida e sobre o comportamento humano.

 
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