Fernando Pessoa, cineasta

•setembro 12, 2012 • Leave a Comment

Em passagem por Lisboa neste ano, tive a sorte de descobrir um livro magnífico que reúne uma série de textos de Fernando Pessoa relacionados ao cinema.

Trata-se de “Fernando Pessoa – Argumentos para Filmes”, publicado em junho de 2011 pela Editora Ática (Lisboa, Portugal). 

Fora os argumentos para filme – que o próprio título sugere e que são, aliás, escritos em inglês, francês e português – o livro ainda traz textos pessoanos de outras naturezas, obviamente sempre relacionados à sétima arte. São apontamentos críticos e bibliográficos sobre cinema, relatos de projetos que envolvem filmes, além da exibição de correspondências trocadas entre o poeta e pessoas relacionadas ao mundo cinematográfico. Uma riqueza sem tamanho!

Aos apaixonados por cinema e poesia, leitura absolutamente imperdível!

O Palhaço (2011)

•setembro 2, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: O Palhaço   

Origem: Brasil

Diretor: Selton Mello

Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicato

Com: Selton Mello,  Paulo José, Moacyr Franco

Bonito, divertido, sensível e cheio de simbolismos, o último filme de Selton Mello conta a história de um  homem em busca de sua identidade e é mais um bom exemplo da boa fase que atravessa o cinema brasileiro.

A história se passa no interior do Brasil, em mundo de gente simples, banhado de verde e vermelho. Lá, nesse universo bucólico e naïf, circula o Circo Esperança, lar dos palhaços Pangaré (Selton Mello)  e Puro-Sangue (Paulo José).

Pangaré ou Benjamim é um palhaço triste, que vive um momento de crise existencial, não tendo certeza de que esta seja sua verdadeira vocação. No entanto, como filho de palhaço, ele não conhece nenhuma outra realidade. Nasceu ali, cresceu ali e tudo em sua vida gira em torno do circo. Depois de anos fazendo os outros rirem, ele começa a desconfiar que não é este o seu chamado. Acaba entrando, então, em uma onda de depressão e de tristeza por achar que a felicidade se encontra em algum lugar fora do picadeiro e da lona de circo.  Assim, um belo (ou feio) dia, depois de uma crise profunda de tristeza, já sem forças para continuar a sorrir e a fazer rir, Pangaré / Benjamin tem a permissão e mesmo o incentivo de seu pai para partir em busca de seu verdadeiro eu.

O filme é todo trabalhado com filtros verde e vermelho e com elementos das mesmas cores. Da bicicleta vermelha do homem que vende o mapa da Venezuela – e que contrasta com o verde da vegetação –  até os chapéus vermelho e verde do palhaço pai e do palhaço filho, o filme inteiro vai sendo colorido com estas duas cores, permitindo-nos fazer uma porção de interpretações… O verde pode significar a esperança – que é também o nome do circo –, o vermelho, uma das cores símbolos do circo, pode simbolizar a realidade da dura vida do circo. O verde pode ser também um “siga em frente”, “corra atrás dos seus sonhos”. Aliás sonho que também pode ser interpretado pela figura do ventilador, espécie de obsessão de Benjamim. Uma imagem que aparece já logo no início e que significa um sonho, uma meta, um objetivo a ser atingido. Um símbolo de independência, de identidade, de felicidade, um objeto capaz de levar embora todos os problemas.

Pontuado por planos frontais, com personagens falando diretamente para câmera e para o espectador, O Palhaço apresenta, em várias cenas, o formato do cinema “dos primeiros tempos”. O jogo de cena meio artificial dos personagens também colabora para dar esse toque retrô à estética do filme. Os cenários são propositadamente artificiais, super coloridos, sempre obedecendo ao jogo verde/vermelho já mencionado, talvez relacionado a um daltonismo que troca as cores, que faz enxergar uma realidade no lugar de outra. Um estilo que faz lembrar um pouco o do diretor Wes Andersen do atual Moonrise Kingdom (leia a crítica aqui no post do dia 3/6). E que também parece homenagear o grande Charles Chaplin, que mesclava tão bem o riso e a lágrima e que encantava o mundo com  sua figura do trapalhão simples que fazia todos rirem, mas que acabava sempre solitário e triste. Aqui cabe um PS:  A cena de Benjamim indo embora de casa é uma homenagem explícita a Carlitos. Prestem atenção à sombra formada no chão na hora em que ele parte. Lindo!

O Palhaço de Selton Mello é, sem dúvida um filme de várias qualidades, mas que peca por uma simbologia muito explícita e excessiva. Como se fosse um poema composto por muitíssimas metáforas! Mas nem por isso deixa de ser bonito e gostoso de assistir!

Um filme para assistir em família, PRA SE DISTRAIR e PRA PENSAR um pouco.

Valente (2012)

•agosto 13, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Brave   

Origem: EUA

Diretor: Brenda Chapman, Mark Andrews

Roteiro: Brenda Chapman, Mark Andrews

Com as vozes de: Kelly MacDonald, Emma Thompson, Billy Connolly

Em um inverno pra lá de morno em termos de filmes de animação, com alguns repetecos como a Era do Gelo 4 e Madagascar 3, cheios de piadinhas mil vezes vistas, ou ainda de enredos não tão bem desenvolvidos como o Lorax – Em Busca da Trúfula Perdida, os estúdios Pixar chegam com todo o brilho para encantar nossos olhos e aquecer nossos corações.

Depois de um não tão convincente Carros 2 em 2011 – um filme-brincadeira-de-menino – neste ano os gênios da Pixar viram a página e nos presenteiam com seu primeiro “conto de fadas” estrelado por sua também primeira protagonista feminina. Uma princesa rebelde, determinada, independente com uma longa cabeleira ruiva, com cachos que balançam aos ventos de uma tecnologia de ponta.

O filme é um show de encantamento, de originalidade, de competência técnica, de beleza e candura!

Trata-se de uma história de amor sim, mas não daquelas que estamos acostumados a ver nos contos de fadas tradicionais. Tampouco como as dos contos repaginados que vêm ganhando as telonas nos últimos tempos – Espelho, Espelho (2012), Alice no País das Maravilhas (2010), etc… O amor tratado neste filme é um ainda maior, talvez o maior de todos eles: o amor de mãe. Esse sentimento tão grande, genuíno e infinito, que é capaz de vencer o egoísmo,  de perdoar, de se doar, de se entregar totalmente, dispondo-se a sofrer ou de morrer no lugar do outro. Talvez um tipo de amor só visto antes na Pixar em Nemo (2006) e que agora nos chega em sua versão feminina, emoldurado por um conto de fadas original e divertido.

A trama se passa na Escócia antiga, num reino feliz, verdinho, sem madrastas malvadas, nem grandes desgraças. Uma vida alegre em que um rei e uma rainha bem casados criam seus quatro filhos com amor. São eles Merida (Kelly Macdonald), a primogênita, e os trigêmeos pestinhas. Merida é uma jovem inteligente, de espírito rebelde e inventivo. Uma arqueira de mão cheia que não se curva diante de nenhum menino e que não é lá muito chegada em espartilhos, cabelos penteados nem regras de etiqueta. No entanto, como é de praxe, e por ser a primeira na linha de sucessão, desde pequena Merida vem sendo educada por sua mãe (na voz de Emma Thompson) para um dia se tornar rainha.

As duas vivem por isto uma relação delicada: a mãe tentando enquadrar a menina em todas as regras exigidas, a fim de que ela se transforme em uma grande rainha e esposa; e a menina tentando convencer a mãe de que não nasceu para isso e de que as coisas não precisam ser exatamente como manda a tradição. E é aí que vai morar todo o problema do filme. Vendo-se obrigada a casar com um dos príncipes dos reinos vizinhos, Merida foge para a floresta e encontra uma bruxa para quem revela seu desejo profundo de transformar sua mãe em uma mãe diferente. E para seu desespero, seu desejo é atendido e sua mãe é transformada em um ser que vai assustar todo o reinado, correndo o risco de ficar assim para sempre.

A história é ingênua, fantástica, mas até bem “plausível”, “real”. Afinal de contas, quem nunca teve vontade de transformar um dia sua mãe em uma mãe diferente a fim de ter um não transformado em sim?

Os diálogos, como já é tradição na Pixar, são bem escritos e tendem à originalidade, sem piadinhas prontas ou fáceis. Enquanto algumas falas fazem os pequenos gargalharem, outras levam os adultos a mergulharem em um mundo de reflexões e de emoções que podem até se reverter em lágrimas…

Uma ideia simples, fruto de uma imaginação infantil, e que a Pixar reveste de encanto, magia e muita tecnologia, transformando-a em duas horas de divertimento, prazer, beleza, emoção, com toques de poesia.

Um filme PRA SE DIVERTIR e PRA SE ENCANTAR, a não deixar de ver. Com ou sem crianças.

Oslo – 31 de Agosto (2012)

•julho 29, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Oslo 31 August   

Origem: Noruega

Diretor: Joachim Trier

Roteiro: Joachim Trier, Pierre Drieu La Rochelle

Com: Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Ingrid Olava

Angustiante, realista, sofrido, lento, mas muito bom! Um grito mudo de socorro de uma alma despedaçada!

O segundo longa metragem de Joachim Trier (parente distante do brilhante Lars von Trier) é baseado no romance Feu Follet, de Pierre Drieu La Rochelle, e conta a história de Anders (Anders Danielsen Lie), um jovem de 34 anos, ex-viciado em drogas que, após um longo tratamento  de desintoxicação, tenta se reinserir na sociedade e em sua própria vida.

No seu primeiro dia de liberdade – que é também o último dia do verão europeu – antes de se apresentar para uma entrevista de emprego, Anders tenta restabelecer contato com seus amigos e com sua família, a fim de resgatar seus afetos, seus laços, sua autoestima. Tudo em vão.

O filme vai girar, então, em torno da dificuldade de Anders de reconquistar a confiança e o amor das pessoas e principalmente os de si próprio, numa tentativa de mudar uma imagem feita anteriormente, numa mistura constante de esperança e desassossego.

As falas e diálogos do filme são excelentes e nos fazem mergulhar em um mundo de reflexões sobre os verdadeiros valores da vida. Questões como sentimentos, intelectualidade, sonhos, vaidades, família, amizade são levantadas e visitadas.

A sequência em que Anders está sozinho em um café é absolutamente genial!  A câmera vai girando, filmando-o de diversos pontos de vistas diferentes, enquanto o áudio nos apresenta trechos de conversas variadas vindas de pessoas distintas. Uma colcha de retalhos ou um quebra-cabeça que, por meio de peças diferentes, acaba fazendo todo sentido! Anders é, ao mesmo tempo, o centro de tudo – do filme, de sua vida, de seus problemas – e é também o centro de nada. Não se sente querido nem amado. O mundo gira, vive, acontece e ele centrado apenas nele mesmo e na tentativa desesperada de encontrar um sentido para vida ou, quem sabe, uma mão estendida para ampará-lo.

Esse sentimento de exclusão e de isolamento é evidenciado ainda pelos vários silêncios do filme. Um silêncio que sufoca, que angustia, que mata. Mas que também encanta pela escolha tão adequada e pertinente do diretor.

A montagem – em alguns momentos desorganizada e desconstruída, com cenas do futuro vindo antes do presente – dá uma certa dinâmica à narração lenta do filme e retrata bem o estado de alma totalmente despedaçada do protagonista.

O final do filme, previsível até para os que não leram o romance que lhe inspirou, é, apesar disso, acertado e bem feito, dando pleno sentido ao título e ao dia que marcou para sempre a vida deste jovem de 34 anos que só queria, no fundo, ser amado pelos seus.

Um filme excelente PRA PENSAR e PRA SE ANGUSTIAR que deveria ser visto por todos os pais, filhos e avós do mundo.

Para Roma, Com Amor (2012)

•julho 23, 2012 • Leave a Comment

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Título original: To Rome, With Love  

Origem: EUA / Itália / Espanha

Diretor: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen

Com: Woody Allen, Penélope Cruz, Roberto Begnini, Alec Baldwin, Ellen Page

Woody Allen está de volta, com mais um filme rodado no continente Europa, depois de Vicky, Cristina, Barcelona (2008) e de Meia-noite em Paris (2011). A grande novidade é que depois de alguns anos longe dos holofotes, desta vez ele volta a ocupar um lugar na frente das câmeras, em um filme que está mais para auto divertimento do que qualquer outra coisa. Mesmo assim, Para Roma, Com Amor não deixa de ser uma gostosa homenagem à Itália, com direito a músicas bonitas, lindas planos gerais de Roma, além da ironia tão típica de Woody Allen.

Abrindo com um plano geral da Piazza Venezia e com a narração de um caricato guarda de trânsito, o filme conta de forma teatral quatro histórias que nunca se encontram, não se complementam, no entanto, não se agridem, nem se atrapalham.

Uma delas é a de um arquiteto de renome (Alec Baldwin) que retorna a Roma trinta anos depois de lá ter morado para estudar arquitetura. Ao fazer um passeio solitário pelas charmosas ruelas da cidade, ele acaba vivendo um reencontro surpreendente, deixando-se conduzir pelo jovem arquiteto que um dia foi. Uma história divertida e cheia de paixão, de uma época em que seu coração se viu dividido entre a segurança e estabilidade do amor por sua namorada e a aventura de uma paixão arrebatadora pela amiga dela.

A segunda história apresentada é a de uma jovem turista americana perdida em Roma. Ao pedir ajuda, ela acaba sendo flechada pelo cupido. Quando os pombinhos resolvem casar, os pais da moça vêm então a Roma para conhecer o futuro genro e sua família. E é aí que começa a parte mais divertida do filme, com um Woody Allen de cabeleira totalmente branca e de falas inteligentes e bem divertidas. Nessa história, o contraste entre as culturas norte-americanas e italianas é colocado em evidência, contraponto capitalismo e socialismo, empresários e sindicatos, comerciantes e artistas. Tudo de maneira irônica e caricata, beirando o exagero.

A terceira história trata de fama instantânea e de tudo que vem e que vai com ela. O personagem principal é Leopoldo Pisanello, interpretado pelo ídolo italiano Roberto Begnini, com sua atuação sempre “over”, que faz rir no começo e cansa no final. Aliás, essa história segue também o mesmo modelo, sendo interessante no começo, tendo um propósito até justo e interessante, mas se tornando “over” e um pouco cansativa no final.

A quarta e última história é a de um jovem casal que chega a Roma para fazer fortuna na cidade grande. O rapaz super tímido e a moça, com cara de professorinha de interior, têm um encontro marcado com a família rica do rapaz. A moça, querendo impressionar, sai do hotel para fazer escova em um salão de beleza e acaba se perdendo, indo parar em um set de filmagens, onde encontra seus ídolos das telonas. Embalada pelo encanto e pela fantasia, a moça se envolve em uma aventura digna de cinema enquanto seu marido recebe a visita e a lição de uma experiente e bem relacionada prostituta, interpretada por Penélope Cruz.

Indo e vindo de uma história à outra, com cortes secos e, por vezes transições “tremidas”, o filme não se destaca pelas novidades tecnológicas, nem de estilo, mas mesmo assim presenteia nossos olhos com lindos planos de Roma e nossos ouvidos com algumas pérolas da música italiana.

Com um jogo de cena artificial à la Woody Allen e com seu humor de psicanálise, Para Roma, Com Amor certamente não é nenhuma obra-prima do autor – muito longe do extraordinário Match Point (2005) ou do encantador Meia-Noite em Paris (2010) – no entanto, o filme é leve, divertido, e proporciona boas risadas.

Um filme PRA SE DIVERTIR.

O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida (2012)

•julho 18, 2012 • Leave a Comment

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Título original: The Lorax 

Origem: EUA

Diretor: Chris Ranaud e Kyle Balda

Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul

Com as vozes de: Zac Efron, Taylor Swift, Danny Devito, Betty White

Baseado no livro de Dr Seuss, publicado em 1971, esta fábula ecológica parece hoje mais atual do que nunca. Uma pena que os olhos e mãos de seus diretores e roteiristas não tenham sido capazes de captar o “visionário” espírito de seu autor, concentrando mais suas energias nas cores artificias do mundo inventado do que nos tons escuros do mundo real abandonado.

A história se passa em um mundo totalmente artificial, cercado por muros altos, em que árvores e arbustos são de plásticos e portanto não fazem fotossíntese. O prefeito-todo-poderoso da cidade ganha a vida vendendo ar puro e por isso mesmo faz questão de preservar a ausência de árvores verdadeiras.

Assim como a onipresente Buy’n Large de Wall-E (2008), a O’Hare  – empresa do prefeito – detém o monopólio do comércio na pequena e hiper colorida Thneedville, controlando todos os passos de seus moradores e espalhando sua logo nos quatro cantos da cidade.

E é nesta cidade-bolha que mora o adolescente Ted (Zec Efron), um menino comum que mora com a avó e mãe, e que só tem olhos para sua vizinha Audrey (Taylor Swift). Uma moça bonita, inteligente, mais velha do que ele e que cultiva o sonho de ver um dia uma árvore de verdade. Como no passado!

Ted vê aí sua chance dourada – ou verde – de conquistar o coração da menina! E começa assim sua aventura em busca do verde verdadeiro, da verdade sobre o sumiço das árvores. Ele vai, então, “sair da caverna”, ultrapassando portões e muros para descobrir um mundo novo, cinza, abandonando, feio e pós-apocalíptico.  Um mundo real onde mora Umavez-Ildo (Ed Helmer), um velho rabugento que vive em exílio, escondendo-se de sua própria culpa de um dia ter desafiado Lorax – o guardião das árvores. Um prisioneiro de sua própria consciência e de sua vergonha de ter dado início à destruição da natureza em nome de uma carreira de sucesso.

É que, no passado, o jovem Umavez-Ildo – querendo impressionar sua família –  criou uma peça de roupa coringa, feita de trúfulas, sem função específica – o Thneed. Um objeto supérfluo que lhe deu fama e dinheiro para, em seguida, cair no esquecimento. Deixando como marcas “apenas” o nome da cidade e um mundo desprovido de árvores, de verdes e de ar puro.

Assim como o poético Wall-E (2008), O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida traz à tona uma série de questões importantes como o consumo excessivo, o desperdício, as necessidades reais ou inventadas, o descaso com a natureza, com o futuro e com o outro, etc. Tudo está ali, pronto para ser trabalhado e esmiuçado, mas, infelizmente o filme acaba ficando na superficialidade dos temas, sem nunca aprofundá-los nem realmente discuti-los. Assim como fazem os próprios moradores de Thneedville.

Apesar da falta de profundidadeque certamente incomoda mais adultos que crianças, O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida é divertido, colorido (talvez até demais!), e dinâmico. Um filme PRA SE DISTRAIR, bom para se assistir em família

 

A Branca De Neve e o Caçador (2012)

•julho 8, 2012 • Leave a Comment

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Título original: Snow White and the Huntsman  

Origem: EUA

Diretor: Rupert Sanders

Roteiro: Evan Daugherty, John Lee Hancock

Com: Kristen Stewart, Charlize Theron, Chris Hemsworth, Sam Claflin

Depois de alguns meses de espera, chega enfim às telonas a segunda adaptação do ano de Branca de Neve. Talvez não devesse, mas é impossível não comparar as duas versões do conto dos Irmãos Grimm, que saem em 2012, em um intervalo tão curto de tempo.

Espelho, Espelho Meu, de Tarsem Singh é alegre, colorido, caricato, kitsch, divertido, tal qual o sorriso largo da simpática madrasta Julia Roberts. Além de doce e cândido como o próprio rosto da novata Lily Collins. Dá até pra enxergarmos os passarinhos, coelhos e veadinhos cantando em volta dela, como na versão Disney que habita nossas cabeças de criança. Para saber um pouco mais, veja a crítica publicada em 29 de abril , neste mesmo site.

A versão recém-lançada de Rupert Sanders é, no entanto, bem diferente. Escuro, sombrio, tenso, no melhor estilo conto-fantástico-aventura-filme-de-batalha, Branca de Neve e o Caçador caminha mais pelas vias das grandes sagas fantásticas como Crônicas de Nárnia ou Senhor dos Anéis.  De cenário grandioso, cheio de monstros e figuras mágicas e assustadoras, passando pela atriz-vampira queridinha dos adolescentes, Kristen Stewart, no papel de Branca de Neve, e do ator Chris Hemsworth – de Thor (2011) e do recente blockbuster Avengers (2012) – tudo é feito para atrair em cheio o público adolescente.

Esqueçam a heroína frágil, ingênua, doce, que encanta passarinhos e anões. Essa Branca de Neve é uma prisioneira despenteada, suja, mal vestida e de unhas imundas, que foge por uma Floresta Negra, cheia de bichos esquisitos, perigosos e nojentos. Ela é corajosa, embora conhecedora dos seus limites, consciente do poder da rainha e da necessidade de ajuda para sobreviver. Da original restam a pele branca, os cabelos negros, as mangas bufantes e o coração bondoso. Coração esse que encanta não só um príncipe, mas dois guerreiros, dois belos homens que se curvam diante de sua beleza, coragem e bondade.

A madrasta, por sua vez, é maleficamente linda! Encarnada pela belíssima Charlize Theron que exige um trabalho extremo de maquiagem a fim de convencer seu espelho mágico – e o público – de que sua beleza possa ser  suplantada pela de Kristen Stewart.

Os anões também não ficaram de fora desta versão! Eles estão lá sim, mas ao invés de sete, são oito… E, se prestarmos bem atenção às suas carinhas sujas de floresta, vamos reconhecer alguns rostos, e vamos, então, nos questionar se já não os vimos mais altos em outros tempos (ou filmes)!

Um ponto alto da versão de Sanders é a chegada de Branca de Neve a uma aldeia à beira-rio, habitada apenas por mulheres e meninas que, para eliminarem a possibilidade de se  tornarem algum tipo de ameaça à beleza onipotente da rainha, mutilam seus rostos, deixando-lhes cicatrizes eternas. Sem dúvida um desvio no conto dos Irmãos Grimm, mas nem por isso desinteressante.

Aliás, os desvios do conto original são diversos, assim como foram também no recente Espelho, Espelho Meu. Mas acredito que os espectadores já entenderam e aceitaram que os Irmãos Grimm foram apenas a inspiração, o ponto de partida para esta aventura-competição aberta a diferentes leituras e interpretações.

O primeiro longa metragem do inglês Rupert Sanders – um expert em filmes publicitários – é, de fato, grandioso em seu todo, mas talvez um pouco longo e distante da originalidade desejada.

Um filme PRA SE DISTRAIR, bom para os fãs de filmes fantásticos

Adieu Berthe – L’Enterrement de Mémé (sem título no Brasil)

•julho 3, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Adieu Berthe  – L’Enterrement de Mémé

Origem: França

Diretores: Bruno Podalydès

Roteiro: Bruno e Denis Podalydès

Com: Valérie Lemercier, Denis Podalydès, Isabelle Candelier, Bruno Podalydès, Pierre Arditi

Uma comédia encantadora, feita com candura e poesia, capaz de levar-nos do riso à lágrima num passe de mágica!

O último filme de Bruno Podalydès conta a história de Armand (Denis Podalydès), um farmacêutico aspirante a mágico, dividido entre o amor à sua companheira de vida e de profissão – sua esposa Hélène (Isabelle Candelier) – e a paixão por sua parceira de aventuras, de magias e rebeldias – sua amante Alix (Valérie Lemercier). Um homem assumidamente dividido entre dois amores, duas vidas, dois sonhos, incapaz de tomar uma decisão por alguma das partes.

Em meio a esta crise de identidade e de desejos, Armand recebe a notícia da morte de sua avó Mémé, há algum tempo “esquecida” em uma casa de repouso. E é ele quem deve se ocupar da burocracia funerária, já que seu pai encontra-se incapacitado em função de alguma doença que o mantém longe do mundo real, vivendo em seu próprio mundo inventado.

É dada assim a partida para uma história que mistura humor, angústias, fantasia, realidade, poesia, arrependimentos, dúvidas e tantos outros sentimentos que nos acompanham durante nossas vidas.

Armand, que não é lá muito bom em tomar decisões, se vê, então, diante de uma série de questões tão importantes quanto desagradáveis de se resolver: Qual a empresa que vai cuidar do enterro de sua avó? Qual caixão escolher? Será ela cremada ou inumada? Qual teria sido seu último desejo?

Mas o que poderia ser trágico, deprimente, pesado ou triste é, ao contrário, tratado com extrema leveza, bastante humor e com pitadas de delicadeza e de poesia.

Assim, pouco a pouco, com a ajuda das memórias escondidas de sua avó, Armand vai navegando entre realidade e fantasia, vai abrindo gavetas e portas secretas, descobrindo e revelando-nos segredos, sonhos e paixões guardados no fundo do baú de sua alma.

Na sua decisão pela indecisão, o personagem Armand é humano, frágil, sincero, apaixonado e fraco. É crápula, mas é amigo. Mente, omite, revela, se entrega. Num jogo de esconde-esconde tão ingênuo quanto malandro. Tão infantil quanto adulto.

Adieu Berthe é um filme  que nos faz enxergar a vida (e a morte) como um grande número de magia, tão capaz de esconder como de revelar partes da realidade. Um espetáculo cheio de mistérios e de encantos!

Um filme PRA RIR e PRA SE ENCANTAR!

Bienvenue Parmi Nous (2012)

•junho 25, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Bienvenue parmi nous  
Origem: França
Diretor: Jean Becker
Roteiro: Jean Becker e François d’Épenoux
Com: Patrick Chesnais, Jeanne Lambert, Miou-Miou, Jacques Weber

Um filme singelo, agradável aos olhos e ao coração, mas que peca pelo excesso de clichês e por tratar a depressão de forma tão simplista e superficial!

O novo filme de Jean Becker – diretor do encantador Minhas Tardes com Margueritte (2010) – é baseado no livro homônimo de Eric Holder, publicado em 1998. Ele conta a história de Taillandier (Patrick Chesnais), um pintor bem sucedido no passado, mas que já não encontra mais alegria na vida… Nem na sua pintura, nem na sua família, nem em nada do que construiu ao longo dos anos.

Desesperado, já não sabendo mais o que fazer, Taillandier decide então se matar. Compra uma arma, escreve uma carta curta para sua esposa e sai de casa numa noite chuvosa, sem nenhuma intenção de voltar.

Vencido pela vida, Taillandier não é capaz de puxar o gatilho. Irritado com sua fraqueza, ele entra no carro e acelera rumo ao desconhecido até ser parado por um sinal vermelho. Lá, ele é surpreendido pelo pedido de carona de uma adolescente de cabelos pintados – Marylou (Jeanne Lambert) – que também tenta fugir de sua própria vida. No caso, de um padrasto que a violenta e de uma mãe covarde, que a põe pra fora de casa por acreditar nas injúrias do marido.

Assim, sem nenhum planejamento, os dois vão juntos seguindo viagem rumo ao incerto, ao acaso, a um novo mundo inventado, longe dos problemas e angústias que os sufocavam.

Duas gerações aí então se confrontam em um jogo de clichês mil vezes explorados. O velho ranzinza que, apesar de tudo que conseguiu na vida, já cansou de lutar e não vê nada além do que escuridão à sua frente. E a jovem rebelde, cheia de vida, mal tratada, mas que, apesar de tantos problemas reais, ainda enxerga cor e beleza na vida. E claro, os dois mundos batendo de frente, se questionando, brigando, até um fazer o outro amolecer, ceder, sorrir. A jovem aprendendo com o velho, o velho aprendendo com a jovem, retomando o fôlego para a vida, reencontrando as cores de sua paleta e, mais que tudo, uma nova musa para sua arte.

Certamente, Bienvenue Parmi Nous é um filme com muitos ingredientes para entrar na categoria PRA SE ENCANTAR, mas que peca por ter ficado no raso, no superficial, no clichê do artista sem musa e na solução fácil e rápida para seu desfecho.

O mais certo seria colocá-lo então na categoria PRA PENSAR, já que – clichês à parte – ele nos leva a pensar e repensar sobre as cores que escolhemos para pintar nossas vidas.

Ferrugem e Ossos (2012)

•junho 18, 2012 • 5 Comments

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Título original: De Rouille et d’Os  

Origem: França / Bélgica

Diretor: Jacques Audiard

Roteiro: Jacques Audiard, Thomas Bidegain

Com: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Armand Verdure, Corrine Masiero

Um filme com tudo para ser um dramalhão piegas, meloso, e mil-vezes visto, mas que, ao contrário, é de um realismo, de uma simplicidade e de uma grandeza estonteantes!

Em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, De Rouille et d’Os conta as histórias de Ali (Matthias Schoenaerts) e de Stéphanie (Marion Cotillard) e de como seus destinos se cruzam e se emendam. O roteiro é baseado no livro de Craig Davison e traz para o cinema alguns de seus personagens.

Ali é um homem imenso, forte, simples, rude, um ex-lutador de boxe desempregado, que se vê de repente responsável por um filho de 5 anos (Armand Verdure) com quem ele nunca teve contato. Os dois saem da Bélgica rumo ao sul da França, em busca de um abrigo na casa de Anna (Corrine Masiero), irmã de Ali. Sem dinheiro, a dupla segue pegando carona e comendo as sobras de comidas deixadas pelos mais afortunados.

Stéphanie é uma moça mignon, de aparência frágil, sem filhos e que exerce uma profissão incomum: ela é adestradora de orcas em um parque aquático em Antibes na Côte d’Azur, França. Lá ela mora com um companheiro e leva uma vida estável de classe média francesa.

Chegando ao sul da França, o destino de Ali começa a mudar. Logo ele arruma um emprego de segurança em uma boate e é lá que ele conhece Stéphanie, em uma noite em que ela se envolve em uma briga, leva um golpe no nariz e é ele quem a ajuda, levando-a para casa. Eles trocam telefones e Ali vai embora.

Nos dias que se seguem, Stéphanie sofre um acidente de trabalho. Enquanto faz uma de suas costumeiras apresentações no Mariland, ela é atacada por uma de suas orcas “adestradas” e tem suas pernas amputadas. O drama – jamais extrapolado – tem então início.

Depois de alguns meses “de luto”, Stéphanie decide ligar para Ali. Eles começam uma relação original de amizade, prática, meio fria, meio estranha, sincera, sem melindres ou, usando a linguagem do próprio personagem, simplesmente “operacional”. Ali, em sua natural frieza e “falta de modos”, trata Stéphanie sem pena, sem constrangimento, sem vergonha, sem censura. Ele não vê na amputação de suas pernas nenhum motivo para que ela deixe de fazer as coisas, nem para que ela tenha pena dela mesma. Trata-se apenas de um fato, de uma circunstância e de uma realidade. E é aí que está a beleza do filme!

Stéphanie, por sua vez, não julga Ali por sua condição de brutamontes-lutador-sem-instruções, pai desatento de um filho de mãe desconhecida. Pra ela nada disso parece importar. Eles vivem suas vidas e sua relação sem se preocupar com ninguém nem com nada, numa espécie de bolha paradoxal ao realismo que domina o filme.

Jacques Audiard não se preocupa nem em nos contar o passado dos personagens. No seu roteiro, recheado de elipses, não importa muito de onde eles vêm, o que já fizeram, quem foram… o que conta é o agora, é o que eles são hoje e o que podem fazer a partir de então.

Quanto à estética do filme, talvez fosse justo dizer que Audiard optou pela não-beleza ou, pelo menos, pela não-exploração da beleza estética. Não que o filme seja feio. Ao contrário! Mas não há, por exemplo, grandes planos de mar azul, nem de sol brilhando, nem de praias lindas com gente bonita passeando, como se espera de um filme rodado no sul da França. Tudo é bem mais simples e natural do que isso. Certamente, há o mar, há o sol, e há até mesmo o azul, mas não em seu esplendor. O que predomina são os dias comuns, às vezes nublados, a pobreza, as casas feias, as cores pálidas. Nada de glamour. A própria Marion Cotillard está sempre de cara lavada e cabelo lambido, com sua falta-de-pernas à mostra…

Na verdade, a beleza maior do filme é justamente a de tratar tudo com simplicidade, sem “maquiagem”, sem artifícios, sem excessos, sem melindres. A vida é como ela é, do jeito que ela pode ser, sem tempo para grandes reflexões nem julgamentos de valores. E a grande estrela aqui é o corpo, explorado por magníficos close-ups e câmeras lentas. O corpo é o centro de tudo. Seja ele forte, franzino, flexível, machucado, saudável, amputado, corpo de gente, de animal, de homem, de mulher, de baleia. Corpos diversos que cumprem seu papel de roupa da alma, ou de fantasias para o que somos de verdade.

De Rouille et D’Os é um filme PRA PENSAR.

 
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