O Lado Bom da Vida (2012)

•março 3, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Silver Linings Playbook   new-trailer-silver-linings-playbook-bradley-cooper-jennifer-laurence

Origem: EUA

Diretor: David O. Russell

Roteiro: David O. Russell

Com: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker

Uma comédia romântica (dramática) elegante, inteligente, sensível e encantadora!

Como o próprio título sugere, o último filme de David O. Russell nos faz enxergar a vida com bons olhos! Faz-nos ver o copo meio cheio, deixando-nos com aquele gostinho bom de felicidade na alma.

O filme – baseado no livro The Silver Linings Playbook (2008) de Matthew Quick – conta a história de Pat Solatano (irresistível Bradley Cooper), um ex-professor de história que sofre do hoje famoso transtorno bipolar. Após um período de oito meses internado em um hospital psiquiátrico, ele volta para a casa dos pais a fim de tentar se reintegrar à vida “normal”. Seu sonho (e obsessão)? Reconquistar sua esposa, recuperar seu emprego e ser feliz.

Acontece que no meio do caminho de Pat havia uma pedra (ou flor?!) chamada Tiffany, uma Jennifer Lawrence esbanjando charme e talento. Jovem viúva ninfomaníaca, que, de volta à casa dos pais, também sofre para se reintegrar à vida “normal” após perder o emprego, o marido e o rumo.

Essas duas almas perdidas se encontram e fazem, então,  um acordo de cooperação mútua: ela vai ajuda-lo a reconquistar sua esposa, funcionando como pombo-correio entre os dois; ele, em troca, compromete-se a participar com ela de um concurso de dança.

E é desse encontro desajeitado entre dois seres “atípicos” e de suas respectivas e semelhantes tentativas de se enquadrar no que a vida chama de normal que nasce a beleza de O Lado Bom da Vida.

Filmada com uma câmera nervosa, angustiada, que segue os personagens de maneira esquizofrênica, a primeira parte do filme é mais tensa, mais centrada em nos apresentar o mundo bipolar em que vive seu protagonista. Ela sobe e desce, vira para um lado e para o outro, de maneira brusca, inquieta, nervosa. Na cena do flashback, quando Pat conta sobre a noite em que atacou o amante de sua esposa, a sensação de desconforto é ainda maior devido a uma câmera subjetiva totalmente desnorteada. Sentimo-nos de fato na pele de Pat. Sentimos sua raiva, seu desespero e seu descontrole.

No entanto, à medida que as coisas vão se ajeitando na vida do rapaz, à medida que ele vai se acalmando, ou conseguindo controlar seus quadros de depressão ou mania, a câmera parece também suavizar seus movimentos. Os dois (câmera e protagonista) estão em sintonia. Ela já não se mexe mais de forma tão caótica, tão afogueada. Ele já não sofre mais crises tão severas. Mas isso acontece de forma sutil, gradativa, quase imperceptível.

A fotografia do filme não é tampouco exatamente a que se espera de uma comédia romântica hollywoodiana. Ela é mais fria, mais seca, menos glamorosa, menos cara. Sobretudo nas sequências do início, em que penetramos no mundo de sofrimento do protagonista. É bem verdade que David O. Russell segue mais a linha dos diretores independentes dos EUA – como Wes Andersen, do recente Moonrise Kingdom, ou Jonathan Dayton e Valerie Faris, de Pequena Miss Sunshine – fazendo menos uso de grandes “budgets” e mais uso do jogo de atores e dos diálogos trocados. E é esta, sem dúvida, a maior riqueza do filme.

Robert De Niro, no papel de pai de Pat, um fanático por futebol americano, colecionador de TOCs, está muito bem, leve, descontraído, até mesmo jovial. Jacki Weaver, por sua vez, no papel da mãe preocupada, super empenhada em ver o filho sair da crise, também está excelente.

Para completar esta bem sucedida comédia romântica (ou dramática) a trilha sonora assinada por Danny Elfman é excelente e expressa com precisão os vários sentimentos vividos no filme. Destaque para My Cherie Amour (1969), de Steve Wonder, leitmotiv do filme e desencadeador de uma enxurrada de sentimentos do protagonista Pat.

O Lado Bom da Vida é um filme bem equilibrado – ao contrário de seu tema bipolar – que sabe dosar com elegância o humor e o drama. Delicioso de se ver, é um filme PRA SE ENCANTAR e PRA SE DIVERTIR.

Os Miseráveis (2012)

•fevereiro 27, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Les Misérables   Os-Miseraveis

Origem: EUA

Diretor: Tom Hooper

Roteiro: William Nicholson, Alain Boublil, Claude Michel Schönberg, Herbert Kretzmer

Com: Anne Hathaway, Hugh Jackman, Russell Crowe, Amanda Seyfried, Sasha Baron Cohen, Helena Bonham Carter.

Primeira coisa a ser dita: trata-se de um musical!

Pode parecer óbvio, mas esta informação é de suma importância, pois ela pode (e deve) ser decisiva na hora de sua escolha de ir ou não ao cinema para assistir Os Miseráveis.

Caso você goste de musicais, vá em frente, compre seu bilhete e se deixe levar por este filme, baseado na obra de Victor Hugo, ou mais precisamente, no musical encenado na Broadway, inspirado, por sua vez, na obra do grande escritor francês.

Agora, se você for do tipo que acha chato (ou mesmo ridículo) ficar ouvindo cada linha de texto ser dita em forma de canção, esqueça! Não vá ao cinema. Alugue depois para ver em casa, se achar que vale a pena. Mas, por favor, não atrapalhe o prazer dos que conseguem embarcar nesta viagem. Não há nada pior do que ser abduzido do filme pelas risadinhas ou piadinhas de vizinhos mal educados.

A obra de Victor Hugo – mil vezes revisitada – conta a história de um homem, Jean Valjean (Hugh Jackman) que vai preso por haver roubado um pão para matar a fome de seu sobrinho. Depois de cumprir sua longa pena, ao contrário de ser liberado, ele é surpreendido com a informação de que continuará ali até o fim de sua vida. Indignado com a notícia, ele foge e erra pelo mundo, tentando recomeçar sua vida. Mas todos fecham as portas a um ex-presidiário sem papéis. Jean Valjean passa frio, fome, dorme na rua, até ser socorrido por um padre. Ele lhe dá pão, abrigo e esperança. Dali a alguns anos, com outro nome, ele se tornará prefeito de uma cidade e um defensor dos pobres e oprimidos. Um homem sedento de justiça que, ao se dar conta de não ter sido capaz de impedir a demissão injusta de uma de suas funcionárias – Fantine (Anne Hathaway) – acaba prometendo-lhe zelar por sua filha Cosette.

A produção é grandiosa! A cena de início, no navio é digna de grandes épicos. A música, naturalmente, é fantástica  (para quem aprecia musicais, claro)! Tudo é over, exagerado, como no teatro.

Repito: estamos aqui diante de um musical transformado em filme! Não vá, portanto, esperando nada de muito real.

Ao contrário, os inúmeros closes nos rostos calculadamente sujos dos atores são testemunhos dessa falta de compromisso com o real. No entanto, ajudam-nos a adentrar aquele mundo musical e a viver bem de perto as emoções dos personagens.   As tomadas aéreas, que contrastam fortemente com os closes, no entanto, lançam um qualquer olhar divino sobre aquele povo tão sofrido, servindo também para separar as sequências (ou os atos) do filme.

Assim sendo, encare Os Miseráveis de Tom Hooper como uma fábula! Uma história de onde se pode tirar uma moral. Ou, em caso extremo, até como um tipo de Ídolos (ou X-Factor, The Voice, etc), em que os atores hollywoodianos têm que provar suas habilidades musicais.

Aprecie cada plano como se fosse um quadro vivo! Eles são belos, bem estudados, bem enquadrados (mesmo com seus ângulos esdrúxulos)! Sua tonalidade escura reflete bem a dor dos miseráveis, dos injustiçados franceses daqueles tempos, daquele povo que carecia  tanto de luz.

E você verá, então, que vale a pena! O elenco é bom! Hugh Jackman está excelente! Anne Hathaway também, tanto que levou o Oscar de Melhor Atriz coadjuvante domingo passado. É verdade que Russell Crowe pena um bocado para cantar, tendo certa dificuldade para convencer-nos na pele do malvado Javert. Mas, mesmo assim, o filme ainda vale, nem que seja como uma nova experiência cinematográfica.

Vamos lá, abra seu coração e receba Os Miseráveis como ele é! Esqueça por algumas horas (o filme é bem longo!) o mundo real. Não fique o tempo todo pensando que no dia-a-dia ninguém canta suas falas daquele jeito. Mergulhe nesta fábula de corpo e alma. E deixe-se levar pelas músicas, pela interpretação e pela beleza dos planos!

Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA PENSAR (caso você consiga de fato embarcar na viagem).

O Mestre (2012)

•fevereiro 24, 2013 • Leave a Comment

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Título original: The Master   Movie_trailer__The__295953a

Origem: EUA

Diretor: Paul Thomas Anderson

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Com: Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams

Longo demais, um pouco confuso, O Mestre vale, sobretudo, pelo show de interpretação dos dois atores principais e por suas falas inteligentes, densas e interessantíssimas.

O último filme de Paul Thomas Anderson – diretor de Magnólia (1999) e Sangue Negro (2007) – é um filme de roteiro complexo, cheio de vais-e-vens um tanto confusos, recheado de diálogos altamente elaborados e de planos bem estudados.

Realizado em 70 mm – formato mais utilizado nos anos 50 e 60 -, o filme é composto de planos amplos, belos, bem contrastados, de numa estética retrô, bem de acordo com a época em que a história se passa. O formato, aliás, permite uma nitidez incrível das imagens.

O Mestre conta a história de Freddie Quell (Joachin Phoenix), um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, que sofre tentando se reenquadrar à vida pós-guerra. Alcóolico, violento, cheios de traumas e com um desejo sexual incontrolável, Freddie erra pelo mundo, acumulando tropeções, até o dia em que conhece, por acaso, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). Uma figura extremamente carismática e envolvente, espécie de líder espiritual que segue à frente de uma seita (apesar de esta palavra jamais ser usada no filme) chamada A Causa.

E é sobre este encontro (e tantos outros desencontros) que o filme vai girar.

Ao receber o perturbado Freddie de braços abertos em sua família, Lancaster Dodd o domina, o adestra, usa e abusa de sua frágil condição. Ele lhe dá abrigo, ao mesmo tempo em que suga-lhe a alma.  Ele usa o ex-combatente de guerra em suas experiências psicológicas, explicitamente declarando que ele será seu “porquinho da India” (cobaia). Freddie passa a ser sua fonte de inspiração, o novo alimento para a construção de seu segundo livro, a melhor propaganda para o crescimento de sua seita. Dodd não se dá conta, porém, de que, pouco a pouco, é ele que se torna o dominado, dependente.

Afinal de contas, quem domina quem? Quem é o dominador e quem é o dominado? Quem é o Mestre e quem é o discípulo? Quem precisa de quem nessa história?

Questões, aliás, super pertinentes para um mundo pós-guerra, terreno fértil para o surgimento de fórmulas mágicas capazes de aliviar sofrimentos e traumas, em que religiões ou seitas como A Causa podem surgir como A solução. O filme de Anderson tenta, no entanto, nos fazer perceber que o livre arbítrio ainda parece ser o melhor caminho.

Nessa questão de interdependência vale mencionar também o papel da esposa de Dodd, interpretado por Amy Adams – que lhe valeu, inclusive, indicações para o Golden Globe, o Bafta e também para o Oscar – e que, apesar de pouco explorado, mostra a força, o poder e a dominação de uma mulher de aparência frágil sobre um marido e um movimento de aparência forte.

Por fim, muito se fala sobre o filme ter sido inspirado na Cientologia e em seu criador L. Ron Hubbard.  O diretor de O Mestre afirma, no entanto, que o filme não é baseado na religião que já angariou tantos discípulos hollywoodianos, apesar de assumir que buscou ali muito de sua inspiração. É ver para crer!

Um filme PRA PENSAR.

Orquestra dos Meninos (2008)

•fevereiro 20, 2013 • Leave a Comment

Para quem gosta de produção nacional, aí vai uma dica que, apesar de não ser nenhuma Brastemp, conta uma história que é uma grande lição de persistência, coragem e determinação!

Trata-se de Orquestra dos Meninos, do diretor Paulo Thiago, um filme fraco enquanto produção cinematográfica, porém forte enquanto história de vida.

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O filme conta a história de Mozart Vieira (Murilo Rosa), músico do agreste pernambucano que, a partir de um sonho de menino, montou, nos anos 1990, uma orquestra sinfônica com as crianças carentes de São Caetano. Na ficção, Pernambuco foi substituído por Sergipe e São Caetano virou São Mariano.

Para ver seu sonho realizado, este músico de nome e de alma vai confrontar poderes políticos locais e estaduais,  a imprensa, angariando, ao mesmo tempo, o apoio da Igreja (na figura de Dom Helder Câmara) e de artistas nacionais e estrangeiros.

Inteiramente rodado em Sergipe, ao ar livre, com uma bela luz natural, Orquestra dos Meninos é um filme de narração linear e de fácil compreensão, com um argumento fantástico e com tudo para ser emocionante e inesquecível. O que, infelizmente, não é…

Para saber o porquê, leia a crítica completa no blog do CEBRAC – Centro Brasil Cultural.

http://blogdocebrac-acervo.blogspot.ch/

Ficha técnica:

Título original: Orquestra dos Meninos 

Origem: Brasil

Diretor: Paulo Thiago

Roteiro: Paulo Thiago

Com: Murilo Rosa, Priscila Fantin, Othon Bastos, Laís Correa

Lincoln (2012)

•fevereiro 17, 2013 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Lincoln     trailer-lincoln-destaque

Origem: EUA

Diretor: Steven Spielberg

Roteiro: Tony Kushner

Com: Daniel Day-Lewis, Sally Fields, Tommy Lee Jones, David Strathairn

Quando se pensa em Spielberg se pensa logo em super produções recheadas de cenas de ação, feitas com tecnologia de ponta!

Mas não se engane! Em seu último filme – Lincoln – Spielberg fugiu a esta tradição! Não que o filme seja pobre de produção. Longe disso! Ele é, a bem da verdade, grandioso, em todos os sentidos da palavra. Acontece que as cenas de ação deram lugar, desta vez, às cenas de diálogos, maravilhosamente escritos por Tony Kushner, de uma complexidade e inteligência de tirar o chapéu. Nunca um filme de Spielberg foi tão centrado na fala, na argumentação e na arte da retórica.

Lincoln conta os últimos meses na vida de um dos maiores presidentes que os Estados Unidos tiveram, Abraham Lincoln. Um homem que virou monumento, herói e mito, interpretado por um Daniel Day-Lewis absolutamente perfeito.

O filme se concentra, na verdade, em sua última grande batalha e talvez um de seus maiores legados: a abolição da escravatura, por meio da aprovação da 13ª Emenda Constitucional. Ao mesmo tempo que  negociava o fim da Guerra de Secessão e o reestabelecimento da União.

Acontece que, para chegar até lá, o mito Lincoln se fez homem, desceu à terra e lançou mão de vários artifícios do jogo político. “Comprou” votos, levantou a voz, fez uso de seus poderes de presidente da república, mentiu, adiou o fim da guerra – que matava tantos cidadãos americanos – mas acabou conseguindo o que se pensava impossível e que ele julgava fundamental na conquista da paz entre os homens. A partir do dia 31 de janeiro de 1865 é abolida a escravatura nos EUA.

Mas nada foi em vão, muito menos sem sofrimento. E Spielberg nos mostra isso, sem nunca cair na armadilha do melodrama. Um Lincoln humano, forte e fraco, com defeitos e qualidades. Um pai, um marido, um filho, um presidente. Um homem público que sofre em sua intimidade para tomar e sustentar suas decisões.

Poucos filmes mostraram tão bem o jogo político sem se deixar contaminar pela mania do julgamento de valores, feitos, muitas vezes, a partir de contextos tão distantes e distintos, que acabam por conduzir a conclusões equivocadas. Spielberg foi mais inteligente que isso. Ele conseguiu nos mostrar de maneira sensível e intimista as nuances do poder. Talvez o fato de ter como protagonista um homem-herói, um homem-mito, uma figura “intocável” da história tenha o ajudado nesta missão. O Lincoln de Spielberg é um homem público (e privado) que soube enfrentar seus próprios medos e limites éticos a fim de atingir um objetivo maior, que julgava necessário para a evolução dos direitos humanos e da própria vida em sociedade.

Com relação à estética, Spielberg optou pelos tons escuros, pela imagem contrastada e, sobretudo, pelo uso do contre-jour. É incrível a quantidade de planos feitos contra a luz. Resultado: imagens envolvidas por uma névoa branca, com uma luminosidade excessiva que cega parcialmente. Uma luz tão intensa que não nos permite ver em detalhes personagens nem objetos. Apenas suas sombras e silhuetas. E não era isso que acontecia nos EUA (e no mundo) daquela época? Uma espécie de cegueira coletiva?  Em que a maioria das pessoas não conseguia enxergar com nitidez o que nos parece hoje tão claro: que todos somos iguais perante à lei e mesmo fora dela.

Ao mesmo tempo, uma luz que é também a esperança de mudança, que vem para iluminar as ideias tão escurecidas daquela época e daquelas pessoas. Que abre novos caminhos, novas janelas, portas e cabeças. A cena de Lincoln com o filho na hora em que termina a votação da 13ª emenda ilustra bem isso!

Destaque também para a sequência do sonho de Lincoln, que se inicia com imagens que lembram uma animação de Alexeieff *, em que o presidente está de pé em um barco que navega em grande velocidade durante a noite escura. Mas mesmo assim, ele ainda consegue enxergar, lá ao longe, uma linha de luz no horizonte. Linda imagem para se guardar na mente como uma metáfora do grande sonho do “capitão” Lincoln.

Um filme PRA APRENDER e PRA PENSAR.

* Alexandre Alexeieff foi um animador, cineasta, criador – junto com sua esposa Claire Parker – da técnica do “écran d’épingles”  (tela de alfinetes): um dispositivo para realizar filmes de animação em que uma luz é projetada sobre uma tela branca, onde alfinetes de aço são enfiados e movidos para dentro e para fora, criando, assim sombras que compõem formas diversas. (Veja os curtas Une Nuit sur le Mont Chauve (1933) ou o prólogo do filme de Orson Welles, O Processo, de 1962).

 

Populaire (2012)

•fevereiro 4, 2013 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer!populaire

Título original : Populaire

Origem : França

Diretor : Régis Roinsard

Roteiro : Régis Roinsard, Daniel Presley e Romain Compingt

Com : Déborah François, Romain Duris, Bérénice Bejo, Shaun Benson

Quem disse que a França não sabe fazer comédias românticas sem pretensões intelectualóides?

Populaire é a prova – junto com tantos outros bons filmes lançados nos últimos dois anos na França – de que há uma nova geração de cineastas na terra de Asterix que já entendeu que não é crime algum produzir ou realizar filmes divertidos, leves, bonitos, sem que para isso, tenha que se desprezar a inteligência do espectador.

O primeiro filme do diretor Régis Roinsard é um filme alto astral, romântico, original, inteligente e delicioso de se assistir, no melhor estilo Audrey Hepburn de ser! Os fãs dos românticos filmes americanos dos anos 50 e 60, tipo Sabrina (1954), Férias Romanas (1953), My Fair Lady (1964) e companhia, ou ainda dos filmes do cineasta francês Jacques Demy – Os Guarda-Chuvas do Amor (1964) – vão se regalar com esse momento retrô e leve do cinema francês!

A trama se passa em 1958, em Lisieux, pequena cidade da Normandia. Lá mora Rose Pamphyle (Déborah François), uma jovem de 21 anos, filha de um pequeno comerciante, prometida em casamento ao filho do dono da oficina. A jovem, que trabalha com o pai em sua mercearia, sonha, no entanto, com uma vida diferente, mais grandiosa e glamorosa do que a que leva. Como muitas garotas da sua época, Rose quer ser secretária, conhecer um monte de gente e viajar o mundo, fazendo o que sabe de melhor: bater à máquina.

Com isso em mente, ela enfrenta seu pai, recusa-se a casar com seu pretendente local e se apresenta para uma entrevista para o cargo de secretária em uma empresa de seguros. O chefe é Louis Echard, jovem solteiro de 36 anos, um ex-atleta de coração endurecido.

A entrevista é um fiasco, mas Rose acaba conseguindo o cargo quando o competitivo Louis Echard descobre seu dom de datilógrafa. Sua condição para contratação é, porém, que ela participe – e ganhe – um concurso de rapidez datilográfica, muito em voga naquela época. Ele será, então, seu “coach”, despertando o atleta que estava nele adormecido.

Num cenário charmoso e colorido, totalmente anos 50, o filme flui com facilidade ao ritmo e som dos teclados duros das antigas máquinas de escrever. Aliás, ela – a máquina de escrever – é, na verdade, a personagem principal desta história, tornando-se o objeto-fetiche do filme, sendo-nos apresentada em closes e ângulos diversos, tocada e acariciada num desejo intenso, quase sexual. A cena da entrevista, em que Rose datilografa pela primeira vez para seu futuro chefe, é um bom exemplo disso.

Populaire joga, aliás, bastante com o duo sensualidade e inocência. Blusas que tornam-se transparentes com a chuva, decotes que deixam imaginar o “recheio”, closes em pedaços de pernas, ombros, braços e nucas… Enfim, uma série de códigos cinematográficos fetichistas que exaltam o jogo da sedução, e que fazem desfilar, sob nossos olhos, cenas cheias de uma sensualidade inocente que vão se somando, se acumulando e nos enchendo também de desejo de ver aquele casal se entregar logo à paixão.

As imagens grudadas na parede do quarto de Rose, em que aparecem, lado a lado, Marylin Monroe e Audrey Hepburn, demonstram também essa vontade de misturar inocência e sensualidade.

Já não tão inocente, porém, é a guerra apresentada entre os países e os empresários do ramo das máquinas. Lá sim, podemos perceber um quê de crítica (estereotipada) à guerra comercial feita via “pobres moças datilógrafas”, que não se percebem exploradas pelos “vilões empresários”. Fora a própria questão sexista, que é super presente e explorada no filme.

É, não dava para passar assim tão batido, sem nenhuma mensagenzinha mais séria, mesmo que de maneira discreta… O filme pode ser visto também como uma sátira à eterna (e ridícula) guerra cultural entre França x EUA, terminando com uma frase bem maniqueísta, totalmente dispensável, mas que pode ser, ao contrário, interpretada justamente como uma crítica aos estereótipos desses dois povos.  Deixo a vocês o direito de julgar.

Populaire é um filme delicioso! PRA SE DISTRAIR e PRA SE ENCANTAR. Tomara que chegue logo às telas brasileiras!

PS. Déborah François não teve dublê para nenhuma cena do filme. As mãos que aparecem datilografando são as dela SEMPRE, mesmo nas cenas de competição. Para isso, a jovem atriz teve 3 meses de treino! Bravo!

Django Livre (2012)

•janeiro 26, 2013 • Leave a Comment

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Título original: Django Unchained

Origem: EUA   django-unchained-poster-dicaprio-foxx-waltz

Diretor: Quentin Tarantino

Roteiro: Quentin Tarantino

Com: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson

 

Irônico, inteligente, burlesco, pop, ousado, insano, o último filme do grande Tarantino é uma divertida homenagem ao gênero western, ao mesmo tempo em que propõe uma séria reflexão sobre o terror da escravidão!

Três anos depois de ter triunfado com Bastardos Inglórios (2009) – que coloca o dedo na ferida alemã, contando, à sua maneira, a perseguição aos judeus na Segunda Guerra – Tarantino volta às telas com mais um filme sobre um dos grandes horrores da História da humanidade: a escravidão dos negros nos Estados Unidos da América.

Para tratar do tema (já mil vezes explorado), ele joga, no entanto, com sua liberdade artística (uma de suas marcas) e o mistura com outro horror da história norte-americana: o massacre dos índios na conquista do oeste. Nasce aí um western original, carregado de influências europeias (sobretudo o spaghetti italiano), em que a briga acontece entre brancos e negros, ao invés de brancos e índios, e o cowboy é um negro recém-alforriado, e não um John Wayne, branco e livre.

Mas a liberdade artística – ou brincadeira  – de Tarantino não para por aí!

Christoph Waltz – ator austríaco que deu show como o alemão nazista endemoniado – está presente também neste filme, mais uma vez arrebentando em sua atuação,  agora na pele de Dr. King Shultz. Um mercenário, caçador de recompensas, disfarçado de dentista, que oferece ao escravo  Django (Jamie Foxx) sua liberdade em troca de seus conhecimentos sobre alguns dos bandidos da região. O curioso é que, desta feita, ele não é o mauzão da história – embora mate por dinheiro (?!) – mas sim, aquele que, com seu olhar estrangeiro, é capaz de enxergar e de apontar as barbaridades da situação ali estabelecida.

Os dois vão iniciar, então, uma boa parceria e uma bela amizade regada a diálogos interessantes, divertidos e inteligentes, no melhor estilo Tarantino.

Igualmente interessante é perceber que Tarantino vai buscar em uma lenda alemã o “fil rouge” de sua história, em que o herói Siegfried corre em socorro de sua amada Brunhilde, presa em uma montanha rodeada de fogo e de dragões, como conta Dr. Schultz a Django numa bela cena noturna. No caso aqui, Django seria Siegfried, cujo único objetivo é libertar sua amada esposa, a bela Broomhilda von Shaft (Kerry Washington), escrava da Casa Grande, que foi ensinada por sua antiga dona a falar alemão, e que vive hoje presa em Candieland, nas mãos do perverso dragão Monsieur Candie (fantástico Leonardo DiCaprio), grande proprietário de plantations.

Para contar esta história de roteiro aparentemente simples (herói que quer salvar sua amada das mãos de bandidos), Tarantino vai se valer de seu repertório de cinéfilo e de cineasta, indo buscar referências em vários grandes diretores do western mundial, tais como Sergio Leone, William Witney ou ainda John Ford… Embora ele próprio tenha declarado não apreciar o trabalho de um homem que atuou como membro da Ku Klux Kan em O Nascimento de Uma Nação (1915) – filme extremamente racista, de Griffith – e que passou sua vida, segundo ele, fazendo filmes que ressaltavam a superioridade do homem branco sobre os índios. (Uma pena que Tarantino confuda o homem com o artista!) Mas que o plano de Django e Dr. Shultz de costas, montados nos cavalos, ao pôr do sol, em que só vemos suas silhuetas, ou, ainda, a cena do cemitério, também ao cair da noite, são de uma estética bem fordianna. Ah, isso são! Talvez um ato falho que Freud possa explicar…

Na verdade, desde a abertura – bem ao estilo dos westerns dos anos 60 – até a trilha sonora do filme – uma miscelânea pop, com músicas que vão desde o country, passando pelo soul, hip hop até o rap contemporâneo escrito pelo ator principal Jamie Foxx –  percebe-se que Tarantino aproveitou-se dessa sua última cria para se soltar e se divertir um bocado, usando e abusando da sátira para passar seus recados.

A sequência dos homens brancos encapuzados que, antes de partirem para destruir Django, param para discutir sobre a utilidade de seus capuzes é um exemplo disto. Absolutamente hilária, ela tem tudo para se tornar uma pérola do cinema!

E, se pensarmos bem, talvez seja justamente essa grande liberdade, essa ausência de medo de ser bobo ou infantil, esse prazer da brincadeira e essa maneira simples de passar sua mensagem que façam de Tarantino o gênio que ele é. E de seus filmes, filmes tão bons de assistir. Mesmo que durem 2h45min…

Django Livre é um filme divertido sobre um assunto sério! PRA SE DISTRAIR e PRA PENSAR.

As Aventuras de Pi (2012)

•janeiro 20, 2013 • Leave a Comment

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Título original: Life of Pi    Life-of-Pi

Origem: EUA / China / Tawain

Diretor: Ang Lee

Roteiro: David Magee, Yann Martel

Com: Suraj Sharma, Irrfan Kan, Adil Hussain, Tabu, Gérard Depardieu, Rafe Spall

E o 3D é sim capaz de poesia!!!!

O último filme de Ang Lee – premiado diretor taiwanês, ganhador do Oscar de melhor diretor por O Segredo de Brokback Mountain (2005) – prova isso!

Trata-se de um filme-poema, verdadeiro bálsamo para os olhos, alma, mente e coração!

Fortíssimo candidato nas disputas do OscarGolden Globes e BaftaAs Aventuras de Pi não é um filme para se levar ao pé da letra. Mas, muito mais do que isso, é um filme para se deixar levar, embalar, encantar, viajar, sonhar… Uma história que nos faz acreditar no inacreditável!

As Aventuras de Pi – uma aventura filosófica – é tipo de filme que não termina quando deixamos a sala de cinema. Ao contrário, ele se prolonga em nossas mentes e em nossos espíritos, fazendo-nos ficar horas pensando, refletindo e decifrando seus inúmeros símbolos e mensagens implícitas. Ou simplesmente, deliciando-nos com tamanha poesia!

Pelo menos, foi essa a impressão que ele causou em mim. Saí do cinema com a cabeça nas nuvens, sem querer ver mais nada que pudesse apagar aquelas imagens tão belas e cheias de encanto que ficaram impressas em minha mente! Isso porque Ang Lee soube, como ninguém, fazer valer-se da tecnologia digital e da 3D, para trazer à tona o mais belo do mundo tecnológico. Acho que, desta vez, até os cinéfilos mais ortodoxos, que sofrem com o fim da era analógica vão ter que dar a mão à palmatória e, entender que, 35mm, 70mm ou digital, o que realmente conta é o talento de quem está por detrás das câmeras!

O filme é baseado no livro Life of Pi, do escritor hispano-canadense Yann Martel, publicado em 2001 e ganhador do Man Booker Prize 2002.  Acusado de ter plagiado o livro Max e os Felinos do autor brasileiro Moacyr ScliarMartel negou tal acusação, afirmando ter lido apenas uma resenha sobre o livro do brasileiro antes de escrever a sua obra. O livro de Scliar,publicado em 1981, conta, porém, a história de um menino judeu que atravessa o Atlântico em companhia de um jaguar.

Coincidência ou plágio, a versão de Martel, adaptada por Ang Lee à telona, conta a história de um menino hindu que atravessa o Pacífico em companhia de um tigre de Bengala. Trata-se de Pi, ou Piscine Molitor Patel, um jovem indiano, nascido e criado no zoológico de Pondichérry, em meio a animais de todos os tipos e uma família bem instruída e não conservadora. Um menino curioso que tinha como hobby colecionar religiões (hindu, cristã, mulçumana, etc)

Seu pai, ao ver a situação de seu negócio degringolar, toma a decisão de imigrar para o Canadá levando consigo, de navio, sua família e todos os animais do zoo a fim de vende-los e começar uma nova vida no Novo Continente.

E começa assim a maior aventura de Pi.

Durante uma grande tempestade no Pacífico, o navio afunda e Pi se vê sozinho em um bote salva-vidas com quatro dos animais do zoológico: uma hiena malvada, uma orangotango maternal, uma zebra indefesa e ele – o mais bravo dos bravos, o mais temido dos temidos, o tigre de Bengala  de nome Richard Parker.

Na luta pela sobrevivência e pela sanidade mental, sobram apenas Pi e Richard Parker. Duas feras que vão enfrentar grandes desafios e provações (carnais e espirituais) a fim de continuarem vivos.

Ah, como gostaria de poder falar mais… Há tanto o que ser dito! Tanto o que ser discutido, analisado, avaliado. Adoraria poder escrever aqui todos os meus sentimentos, minhas sensações e interpretações sobre este filme tão encantador. Mas não posso. Tenho certeza de que se fizer isto, estragarei o barato de vocês!

O que posso afirmar, porém, é que, esteticamente falando, o filme é uma pérola rara com planos minimalistas de uma beleza estonteante. Planos em que céu e mar se confundem, se misturam, se completam, num reflexo infinito. Assim como o fazem o terreno e o divino nesta obra. Cenas em que o nado se confunde com o voo e em que perdemos totalmente a referência e a noção do espaço.  Planos etéreos, com luzes fosforescentes e uma luminosidade do além, possível apenas em um mundo de sonhos. Cenas em que cores vivas são substituídas pelo preto e branco em função da gravidade do momento… Sem falar nas transições magníficas entre as sequências, com sobreposições impressionistas feitas com o que há de melhor na tecnologia deste nosso século. Absolutamente irretocável!

Fora o esplendor estético, cabe também dizer que As Aventuras de Pi é um filme que sabe dosar bem filosofia, poesia, humor, aventura, tecnologia, religião, tradição e modernidade, sem nunca perder o equilíbrio nem o bom ritmo. A música, assinada por Mychael Dana contribui para isso, sem dúvida, sendo discreta, delicada ou super presente na hora certa!

Por fim (já que urge parar de escrever…), As Aventuras de Pi trata sobretudo de fé, de autoconhecimento e da briga interna entre o animal selvagem e o homem que habita em cada um de nós. Um filme que nos faz pensar nas várias formas de se contar uma mesma história, sem, no entanto, alterar sua essência. Que importa se mudam as fantasias, as cores, os nomes ou até os personagens? O que conta é a essência. É ela que não pode mudar. E a nós, cabe acreditar naquela versão que nos parece a mais interessante ou atraente.

Um filme PRA SE ENCANTAR e PRA PENSAR, forte candidato aos maiores prêmios do cinema mundial, e certamente um título para acrescentar à lista dos Top 10 2012.

A Festa da Menina Morta (2008)

•janeiro 17, 2013 • Leave a Comment

Título original: A Festa da Menina Morta

Origem: Brasil

Diretor: Matheus Nachtergaele  afestadameninamorta01

Roteiro: Matheus Nachtergaele e Hilton Lacerda

Com: Daniel Oliveira, Jackson Antunes, Dira Paes, Cassia Kiss, Juliano Cazaerré

Selecionado para a mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2008, o primeiro filme de Matheus Nachtergaele como diretor é, sem dúvida, um filme que desconcerta, perturba, que nos instiga a pensar sobre certas crenças populares que acabam por tornarem-se verdades inquestionáveis.

A história de se passa na Amazônia, em um vilarejo ribeirinho, que vive da pesca e, principalmente, da fé daqueles que acreditam na divindade de Santinho (Daniel Oliveira). Um jovem de traços afeminados que foi declarado santo ainda menino, ao achar o vestidinho azul de uma criança desaparecida, única prova do fim de Maria Cecília.

Com uma câmera na mão e um olhar glauberrocheriano na cabeça, o filme de Nachtergaele nos mostra um Brasil real, nu e cru, bem ao estilo Cinema Novo de ser. Um belo trabalho para um diretor principiante!

Para ler a crítica completa, vá até o site do parceiro CEBRAC – Centro Brasil Cultural (http://blogdocebrac-acervo.blogspot.ch/).

Um curta pra se encantar

•janeiro 15, 2013 • Leave a Comment

Para os amantes de livros e de filmes, aí vai uma linda sugestão:

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (2011),   de William Joyce e Brandon Oldenburg  (com 15 min de duração).

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O filme –  vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2012 – é lindo, delicado, sensível e emocionante! Um verdadeiro poema em forma de imagens!

Ele conta (sem dizer uma só palavra, pois o filme é mudo) a história de Mr. Morris, um apaixonado por livros que passa a vida a cuidar de seus preciosos companheiros.

Os traços do personagem principal foram inspirados no grande ator de cinema mudo Buster Keaton e o jogo de cores utilizado segue a mesma lógica narrativa utilizada no filme O Mágico de Oz (1939).

Um filme cheio de poesia! Definitivamente, PRA SE ENCANTAR!

Veja o filme aqui!

 

 
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