As Aventuras de Pi (2012)
Origem: EUA / China / Tawain
Diretor: Ang Lee
Roteiro: David Magee, Yann Martel
Com: Suraj Sharma, Irrfan Kan, Adil Hussain, Tabu, Gérard Depardieu, Rafe Spall
E o 3D é sim capaz de poesia!!!!
O último filme de Ang Lee – premiado diretor taiwanês, ganhador do Oscar de melhor diretor por O Segredo de Brokback Mountain (2005) – prova isso!
Trata-se de um filme-poema, verdadeiro bálsamo para os olhos, alma, mente e coração!
Fortíssimo candidato nas disputas do Oscar, Golden Globes e Bafta, As Aventuras de Pi não é um filme para se levar ao pé da letra. Mas, muito mais do que isso, é um filme para se deixar levar, embalar, encantar, viajar, sonhar… Uma história que nos faz acreditar no inacreditável!
As Aventuras de Pi – uma aventura filosófica – é tipo de filme que não termina quando deixamos a sala de cinema. Ao contrário, ele se prolonga em nossas mentes e em nossos espíritos, fazendo-nos ficar horas pensando, refletindo e decifrando seus inúmeros símbolos e mensagens implícitas. Ou simplesmente, deliciando-nos com tamanha poesia!
Pelo menos, foi essa a impressão que ele causou em mim. Saí do cinema com a cabeça nas nuvens, sem querer ver mais nada que pudesse apagar aquelas imagens tão belas e cheias de encanto que ficaram impressas em minha mente! Isso porque Ang Lee soube, como ninguém, fazer valer-se da tecnologia digital e da 3D, para trazer à tona o mais belo do mundo tecnológico. Acho que, desta vez, até os cinéfilos mais ortodoxos, que sofrem com o fim da era analógica vão ter que dar a mão à palmatória e, entender que, 35mm, 70mm ou digital, o que realmente conta é o talento de quem está por detrás das câmeras!
O filme é baseado no livro Life of Pi, do escritor hispano-canadense Yann Martel, publicado em 2001 e ganhador do Man Booker Prize 2002. Acusado de ter plagiado o livro Max e os Felinos do autor brasileiro Moacyr Scliar, Martel negou tal acusação, afirmando ter lido apenas uma resenha sobre o livro do brasileiro antes de escrever a sua obra. O livro de Scliar,publicado em 1981, conta, porém, a história de um menino judeu que atravessa o Atlântico em companhia de um jaguar.
Coincidência ou plágio, a versão de Martel, adaptada por Ang Lee à telona, conta a história de um menino hindu que atravessa o Pacífico em companhia de um tigre de Bengala. Trata-se de Pi, ou Piscine Molitor Patel, um jovem indiano, nascido e criado no zoológico de Pondichérry, em meio a animais de todos os tipos e uma família bem instruída e não conservadora. Um menino curioso que tinha como hobby colecionar religiões (hindu, cristã, mulçumana, etc)
Seu pai, ao ver a situação de seu negócio degringolar, toma a decisão de imigrar para o Canadá levando consigo, de navio, sua família e todos os animais do zoo a fim de vende-los e começar uma nova vida no Novo Continente.
E começa assim a maior aventura de Pi.
Durante uma grande tempestade no Pacífico, o navio afunda e Pi se vê sozinho em um bote salva-vidas com quatro dos animais do zoológico: uma hiena malvada, uma orangotango maternal, uma zebra indefesa e ele – o mais bravo dos bravos, o mais temido dos temidos, o tigre de Bengala de nome Richard Parker.
Na luta pela sobrevivência e pela sanidade mental, sobram apenas Pi e Richard Parker. Duas feras que vão enfrentar grandes desafios e provações (carnais e espirituais) a fim de continuarem vivos.
Ah, como gostaria de poder falar mais… Há tanto o que ser dito! Tanto o que ser discutido, analisado, avaliado. Adoraria poder escrever aqui todos os meus sentimentos, minhas sensações e interpretações sobre este filme tão encantador. Mas não posso. Tenho certeza de que se fizer isto, estragarei o barato de vocês!
O que posso afirmar, porém, é que, esteticamente falando, o filme é uma pérola rara com planos minimalistas de uma beleza estonteante. Planos em que céu e mar se confundem, se misturam, se completam, num reflexo infinito. Assim como o fazem o terreno e o divino nesta obra. Cenas em que o nado se confunde com o voo e em que perdemos totalmente a referência e a noção do espaço. Planos etéreos, com luzes fosforescentes e uma luminosidade do além, possível apenas em um mundo de sonhos. Cenas em que cores vivas são substituídas pelo preto e branco em função da gravidade do momento… Sem falar nas transições magníficas entre as sequências, com sobreposições impressionistas feitas com o que há de melhor na tecnologia deste nosso século. Absolutamente irretocável!
Fora o esplendor estético, cabe também dizer que As Aventuras de Pi é um filme que sabe dosar bem filosofia, poesia, humor, aventura, tecnologia, religião, tradição e modernidade, sem nunca perder o equilíbrio nem o bom ritmo. A música, assinada por Mychael Dana contribui para isso, sem dúvida, sendo discreta, delicada ou super presente na hora certa!
Por fim (já que urge parar de escrever…), As Aventuras de Pi trata sobretudo de fé, de autoconhecimento e da briga interna entre o animal selvagem e o homem que habita em cada um de nós. Um filme que nos faz pensar nas várias formas de se contar uma mesma história, sem, no entanto, alterar sua essência. Que importa se mudam as fantasias, as cores, os nomes ou até os personagens? O que conta é a essência. É ela que não pode mudar. E a nós, cabe acreditar naquela versão que nos parece a mais interessante ou atraente.
Um filme PRA SE ENCANTAR e PRA PENSAR, forte candidato aos maiores prêmios do cinema mundial, e certamente um título para acrescentar à lista dos Top 10 2012.