O Mestre (2012)
Origem: EUA
Diretor: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
Com: Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams
Longo demais, um pouco confuso, O Mestre vale, sobretudo, pelo show de interpretação dos dois atores principais e por suas falas inteligentes, densas e interessantíssimas.
O último filme de Paul Thomas Anderson – diretor de Magnólia (1999) e Sangue Negro (2007) – é um filme de roteiro complexo, cheio de vais-e-vens um tanto confusos, recheado de diálogos altamente elaborados e de planos bem estudados.
Realizado em 70 mm – formato mais utilizado nos anos 50 e 60 -, o filme é composto de planos amplos, belos, bem contrastados, de numa estética retrô, bem de acordo com a época em que a história se passa. O formato, aliás, permite uma nitidez incrível das imagens.
O Mestre conta a história de Freddie Quell (Joachin Phoenix), um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, que sofre tentando se reenquadrar à vida pós-guerra. Alcóolico, violento, cheios de traumas e com um desejo sexual incontrolável, Freddie erra pelo mundo, acumulando tropeções, até o dia em que conhece, por acaso, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman). Uma figura extremamente carismática e envolvente, espécie de líder espiritual que segue à frente de uma seita (apesar de esta palavra jamais ser usada no filme) chamada A Causa.
E é sobre este encontro (e tantos outros desencontros) que o filme vai girar.
Ao receber o perturbado Freddie de braços abertos em sua família, Lancaster Dodd o domina, o adestra, usa e abusa de sua frágil condição. Ele lhe dá abrigo, ao mesmo tempo em que suga-lhe a alma. Ele usa o ex-combatente de guerra em suas experiências psicológicas, explicitamente declarando que ele será seu “porquinho da India” (cobaia). Freddie passa a ser sua fonte de inspiração, o novo alimento para a construção de seu segundo livro, a melhor propaganda para o crescimento de sua seita. Dodd não se dá conta, porém, de que, pouco a pouco, é ele que se torna o dominado, dependente.
Afinal de contas, quem domina quem? Quem é o dominador e quem é o dominado? Quem é o Mestre e quem é o discípulo? Quem precisa de quem nessa história?
Questões, aliás, super pertinentes para um mundo pós-guerra, terreno fértil para o surgimento de fórmulas mágicas capazes de aliviar sofrimentos e traumas, em que religiões ou seitas como A Causa podem surgir como A solução. O filme de Anderson tenta, no entanto, nos fazer perceber que o livre arbítrio ainda parece ser o melhor caminho.
Nessa questão de interdependência vale mencionar também o papel da esposa de Dodd, interpretado por Amy Adams – que lhe valeu, inclusive, indicações para o Golden Globe, o Bafta e também para o Oscar – e que, apesar de pouco explorado, mostra a força, o poder e a dominação de uma mulher de aparência frágil sobre um marido e um movimento de aparência forte.
Por fim, muito se fala sobre o filme ter sido inspirado na Cientologia e em seu criador L. Ron Hubbard. O diretor de O Mestre afirma, no entanto, que o filme não é baseado na religião que já angariou tantos discípulos hollywoodianos, apesar de assumir que buscou ali muito de sua inspiração. É ver para crer!
Um filme PRA PENSAR.