Populaire (2012)
Título original : Populaire
Origem : França
Diretor : Régis Roinsard
Roteiro : Régis Roinsard, Daniel Presley e Romain Compingt
Com : Déborah François, Romain Duris, Bérénice Bejo, Shaun Benson
Quem disse que a França não sabe fazer comédias românticas sem pretensões intelectualóides?
Populaire é a prova – junto com tantos outros bons filmes lançados nos últimos dois anos na França – de que há uma nova geração de cineastas na terra de Asterix que já entendeu que não é crime algum produzir ou realizar filmes divertidos, leves, bonitos, sem que para isso, tenha que se desprezar a inteligência do espectador.
O primeiro filme do diretor Régis Roinsard é um filme alto astral, romântico, original, inteligente e delicioso de se assistir, no melhor estilo Audrey Hepburn de ser! Os fãs dos românticos filmes americanos dos anos 50 e 60, tipo Sabrina (1954), Férias Romanas (1953), My Fair Lady (1964) e companhia, ou ainda dos filmes do cineasta francês Jacques Demy – Os Guarda-Chuvas do Amor (1964) – vão se regalar com esse momento retrô e leve do cinema francês!
A trama se passa em 1958, em Lisieux, pequena cidade da Normandia. Lá mora Rose Pamphyle (Déborah François), uma jovem de 21 anos, filha de um pequeno comerciante, prometida em casamento ao filho do dono da oficina. A jovem, que trabalha com o pai em sua mercearia, sonha, no entanto, com uma vida diferente, mais grandiosa e glamorosa do que a que leva. Como muitas garotas da sua época, Rose quer ser secretária, conhecer um monte de gente e viajar o mundo, fazendo o que sabe de melhor: bater à máquina.
Com isso em mente, ela enfrenta seu pai, recusa-se a casar com seu pretendente local e se apresenta para uma entrevista para o cargo de secretária em uma empresa de seguros. O chefe é Louis Echard, jovem solteiro de 36 anos, um ex-atleta de coração endurecido.
A entrevista é um fiasco, mas Rose acaba conseguindo o cargo quando o competitivo Louis Echard descobre seu dom de datilógrafa. Sua condição para contratação é, porém, que ela participe – e ganhe – um concurso de rapidez datilográfica, muito em voga naquela época. Ele será, então, seu “coach”, despertando o atleta que estava nele adormecido.
Num cenário charmoso e colorido, totalmente anos 50, o filme flui com facilidade ao ritmo e som dos teclados duros das antigas máquinas de escrever. Aliás, ela – a máquina de escrever – é, na verdade, a personagem principal desta história, tornando-se o objeto-fetiche do filme, sendo-nos apresentada em closes e ângulos diversos, tocada e acariciada num desejo intenso, quase sexual. A cena da entrevista, em que Rose datilografa pela primeira vez para seu futuro chefe, é um bom exemplo disso.
Populaire joga, aliás, bastante com o duo sensualidade e inocência. Blusas que tornam-se transparentes com a chuva, decotes que deixam imaginar o “recheio”, closes em pedaços de pernas, ombros, braços e nucas… Enfim, uma série de códigos cinematográficos fetichistas que exaltam o jogo da sedução, e que fazem desfilar, sob nossos olhos, cenas cheias de uma sensualidade inocente que vão se somando, se acumulando e nos enchendo também de desejo de ver aquele casal se entregar logo à paixão.
As imagens grudadas na parede do quarto de Rose, em que aparecem, lado a lado, Marylin Monroe e Audrey Hepburn, demonstram também essa vontade de misturar inocência e sensualidade.
Já não tão inocente, porém, é a guerra apresentada entre os países e os empresários do ramo das máquinas. Lá sim, podemos perceber um quê de crítica (estereotipada) à guerra comercial feita via “pobres moças datilógrafas”, que não se percebem exploradas pelos “vilões empresários”. Fora a própria questão sexista, que é super presente e explorada no filme.
É, não dava para passar assim tão batido, sem nenhuma mensagenzinha mais séria, mesmo que de maneira discreta… O filme pode ser visto também como uma sátira à eterna (e ridícula) guerra cultural entre França x EUA, terminando com uma frase bem maniqueísta, totalmente dispensável, mas que pode ser, ao contrário, interpretada justamente como uma crítica aos estereótipos desses dois povos. Deixo a vocês o direito de julgar.
Populaire é um filme delicioso! PRA SE DISTRAIR e PRA SE ENCANTAR. Tomara que chegue logo às telas brasileiras!
PS. Déborah François não teve dublê para nenhuma cena do filme. As mãos que aparecem datilografando são as dela SEMPRE, mesmo nas cenas de competição. Para isso, a jovem atriz teve 3 meses de treino! Bravo!