Lincoln (2012)

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Lincoln     trailer-lincoln-destaque

Origem: EUA

Diretor: Steven Spielberg

Roteiro: Tony Kushner

Com: Daniel Day-Lewis, Sally Fields, Tommy Lee Jones, David Strathairn

Quando se pensa em Spielberg se pensa logo em super produções recheadas de cenas de ação, feitas com tecnologia de ponta!

Mas não se engane! Em seu último filme – Lincoln – Spielberg fugiu a esta tradição! Não que o filme seja pobre de produção. Longe disso! Ele é, a bem da verdade, grandioso, em todos os sentidos da palavra. Acontece que as cenas de ação deram lugar, desta vez, às cenas de diálogos, maravilhosamente escritos por Tony Kushner, de uma complexidade e inteligência de tirar o chapéu. Nunca um filme de Spielberg foi tão centrado na fala, na argumentação e na arte da retórica.

Lincoln conta os últimos meses na vida de um dos maiores presidentes que os Estados Unidos tiveram, Abraham Lincoln. Um homem que virou monumento, herói e mito, interpretado por um Daniel Day-Lewis absolutamente perfeito.

O filme se concentra, na verdade, em sua última grande batalha e talvez um de seus maiores legados: a abolição da escravatura, por meio da aprovação da 13ª Emenda Constitucional. Ao mesmo tempo que  negociava o fim da Guerra de Secessão e o reestabelecimento da União.

Acontece que, para chegar até lá, o mito Lincoln se fez homem, desceu à terra e lançou mão de vários artifícios do jogo político. “Comprou” votos, levantou a voz, fez uso de seus poderes de presidente da república, mentiu, adiou o fim da guerra – que matava tantos cidadãos americanos – mas acabou conseguindo o que se pensava impossível e que ele julgava fundamental na conquista da paz entre os homens. A partir do dia 31 de janeiro de 1865 é abolida a escravatura nos EUA.

Mas nada foi em vão, muito menos sem sofrimento. E Spielberg nos mostra isso, sem nunca cair na armadilha do melodrama. Um Lincoln humano, forte e fraco, com defeitos e qualidades. Um pai, um marido, um filho, um presidente. Um homem público que sofre em sua intimidade para tomar e sustentar suas decisões.

Poucos filmes mostraram tão bem o jogo político sem se deixar contaminar pela mania do julgamento de valores, feitos, muitas vezes, a partir de contextos tão distantes e distintos, que acabam por conduzir a conclusões equivocadas. Spielberg foi mais inteligente que isso. Ele conseguiu nos mostrar de maneira sensível e intimista as nuances do poder. Talvez o fato de ter como protagonista um homem-herói, um homem-mito, uma figura “intocável” da história tenha o ajudado nesta missão. O Lincoln de Spielberg é um homem público (e privado) que soube enfrentar seus próprios medos e limites éticos a fim de atingir um objetivo maior, que julgava necessário para a evolução dos direitos humanos e da própria vida em sociedade.

Com relação à estética, Spielberg optou pelos tons escuros, pela imagem contrastada e, sobretudo, pelo uso do contre-jour. É incrível a quantidade de planos feitos contra a luz. Resultado: imagens envolvidas por uma névoa branca, com uma luminosidade excessiva que cega parcialmente. Uma luz tão intensa que não nos permite ver em detalhes personagens nem objetos. Apenas suas sombras e silhuetas. E não era isso que acontecia nos EUA (e no mundo) daquela época? Uma espécie de cegueira coletiva?  Em que a maioria das pessoas não conseguia enxergar com nitidez o que nos parece hoje tão claro: que todos somos iguais perante à lei e mesmo fora dela.

Ao mesmo tempo, uma luz que é também a esperança de mudança, que vem para iluminar as ideias tão escurecidas daquela época e daquelas pessoas. Que abre novos caminhos, novas janelas, portas e cabeças. A cena de Lincoln com o filho na hora em que termina a votação da 13ª emenda ilustra bem isso!

Destaque também para a sequência do sonho de Lincoln, que se inicia com imagens que lembram uma animação de Alexeieff *, em que o presidente está de pé em um barco que navega em grande velocidade durante a noite escura. Mas mesmo assim, ele ainda consegue enxergar, lá ao longe, uma linha de luz no horizonte. Linda imagem para se guardar na mente como uma metáfora do grande sonho do “capitão” Lincoln.

Um filme PRA APRENDER e PRA PENSAR.

* Alexandre Alexeieff foi um animador, cineasta, criador – junto com sua esposa Claire Parker – da técnica do “écran d’épingles”  (tela de alfinetes): um dispositivo para realizar filmes de animação em que uma luz é projetada sobre uma tela branca, onde alfinetes de aço são enfiados e movidos para dentro e para fora, criando, assim sombras que compõem formas diversas. (Veja os curtas Une Nuit sur le Mont Chauve (1933) ou o prólogo do filme de Orson Welles, O Processo, de 1962).

 

~ by Lilia Lustosa on fevereiro 17, 2013.

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