Jobs (2013)

•setembro 22, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Jobs

Origem: EUA  jobs-movie

Diretor: Joshua Michael Stern

Roteiro: Matt Whiteley

Com: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Matthew Modine

Levar a vida de alguém às telas não é tarefa fácil. Como espremer em duas horas um conjunto tão grande de fatos, atos, sonhos e sentimentos?

Sem dúvida, é preciso talento para selecionar um período-chave, bem representativo da vida do personagem e, assim, conseguir apresentar em pouco tempo o que melhor o representa.

Infelizmente, não foi o que aconteceu com Joshua Michael Stern em seu Jobsbiopic de Steve Jobs, lançado há pouco nos EUA e no mundo.

E olha que não foi por falta de material, já que a vida de Jobs em si já é um excelente argumento para qualquer obra:  jovem nerd de classe média americana que sai do zero (ou da garagem de seu pai) para tornar-se o dono da gigante Apple Inc. Um homem que, no intuito de perseguir seus sonhos e objetivos, faz concessões à ética, traindo amigos, renegando sua filha e isolando-se do mundo dos humanos para trancafiar-se em sua própria caverna megalomaníaca. Mas que, no final das contas, consegue ver seu sonho realizado.

Mas, infelizmente, as escolhas do diretor não foram assim tão felizes. E acabaram por pintar um quadro de certa maneira tendencioso.

O filme começa em 2001, lançamento mundial do Ipod. As primeiras cenas fazem qualquer Ifã, como eu, se arrepiar. A câmera segue Steve Jobs (Ashton Kutcher), que anda (de costas para nós espectadores) rumo ao auditório da Apple, para a apresentação do novo produto que vai mais uma vez revolucionar o mundo da música e dos eletrônicos. Uma sequência interessante, bem feita, com bom ritmo, que nos faz crer que o filme está se encaminhando para o rumo certo.

Em seguida, depois desses minutos iniciais de emoções à flor da pele, somos lançados de volta ao passado, para os anos de um Steve Jobs quase menino. Um jovem esquisito, meio rebelde, que anda descalço pelo campus da universidade, e que não vê razão alguma para continuar a frequentar às aulas de seu curso. As cores do filme mudam de tom, são mais lavadas, alaranjadas, com cara de anos 1970. Tudo  vai bem até aí.

A partir de então, assistiremos a história de Jobs contada de forma clássica e linear, permeada por elipses de diferentes tamanhos, tendo letterings das datas como marcadores temporais. Tudo bem também. Acontece que os saltos no tempo são por vezes enormes e deixam informações e acontecimentos importantes sem nenhuma explicação. E talvez esteja aí o maior problema do filme. Como deixar, por exemplo, de desenvolver a história de Jobs com sua filha Lisa, rejeitada em seu nascimento?

Ainda na primeira parte do filme, nos anos 1970, vemos uma cena forte e marcante, em que a namorada de Jobs conta para ele que está grávida. Ele se desespera, tem uma reação explosiva de rejeição ao bebê. Chega mesmo a insinuar que o bebê não é dele. E cospe fogo, berrando que ela não pode fazer isso com ele, não naquele momento de sua vida, quando finalmente as coisas parecem se encaminhar rumo ao sucesso.

A cena é intensa, um momento bem forte do filme. Os que não sabem grande coisa sobre a vida do gênio da maçã ou que não leram sua biografia, talvez sintam raiva ou desprezo. Talvez queiram ou torçam para uma explicação, para que venha uma redenção nos anos que estão por vir. E, certamente ela acontece, mas nós espectadores ficamos de fora.

Veremos sim, num outro momento, algumas referências a essa questão: o advogado, alguns anos depois, insistindo para ele assinar o reconhecimento de paternidade da filha; ou, então, Jobs, já rico, recebendo uma cartinha da menina, pedindo para que ele lhe conceda uma visita… C’est tout! Não vemos mais nada desse relacionamento. E de repente, não mais que de repente, já mais para o fim do filme, eis que somos surpreendidos por uma sequência em que um Jobs de óculos redondos, casado, pai de um menino, vai acordar uma filha adolescente. Entendemos, então,  que se trata de Lisa e que houve, portanto,  uma reconciliação. Mas como foi esse reencontro? Como foi o processo de mudança de Jobs?  Quem procurou quem? Foi fácil, difícil?

Um aspecto tão importante na biografia de Jobs, que talvez devolvesse um pouco de dignidade ao homem que ele foi, ficou de fora. Assim como ficaram de fora outros momentos importantes que dizem respeito aos seus amigos de juventude, aqueles malucos-beleza que toparam entrar na aventura de Jobs e que saíram de sua vida como entraram, com uma mão na frente outra atrás. Sem reconhecimento, sem aplausos, sem abraços, sem nada. Será que foi mesmo assim?

O que restou do retrato feito por Stern não foi lá muito positivo. Será que era isso que ele queria? Criar uma imagem negativa do gênio da Apple? Queria talvez puni-lo por seus “pecados”, deixando como resumo da sua vida um quadro de um homem brilhante sim, mas egoísta, mesquinho, egocêntrico, louco, injusto, aético, descontrolado e impossível de convivência? Ou talvez tenha-lhe simplesmente faltado talento para triar as melhores passagens? Ou melhor, para aprofundar momentos importantes e deixar outros passarem?

Não estou querendo aqui isentar Jobs de seus “pecados” nem de seus defeitos.  Apenas acho que o retrato que Joshua Michael Stern e Matt Whiteley pintaram foi tendencioso. Carregaram a tinta no péssimo ser humano (ser social) que ele foi, esfumaçando o brilhante empresário e criativo que ele também foi. Podiam ter se inspirado no trailer exibido no alto da página: bem montado, com excelente ritmo, envolvente, mostrando a crise do homem e do empresário, dosando bem os aspectos positivos e negativos do gigante que tornou o impossível possível.

Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA APRENDER. E cheio de momentos de arrepiar para os Ifãs de plantão!

Road movies

•setembro 18, 2013 • Leave a Comment

Ontem assisti a dois filmes bem diferentes num primeiro olhar (estética), mas que, no final das contas, falam sobre o mesmo tema: a evolução espiritual por meio do caminhar ( seja a pé, de carro, de trem…)

São eles:

Viagem a Darjeeling (2007) e O Caminho (2010)

Os dois contam histórias de viagens – são os famosos road movies que, independente do meio de transporte usado, levam-nos a fazer uma viagem junto com o(s) personagem(ns).  A questão central é o andar, o caminhar, o mudar constantemente, o sair de um lugar para outro, o desbravar novos horizontes, encontrando vidas diferentes, caras e cores diferentes e, assim, evoluindo interiormente.

Nos dois filmes a morte (ou à proximidade com ela) é a mola propulsora da viagem e das consequentes mudanças.

Vamos aos filmes:

Viagem a Darjeeling, do diretor Wes Anderson (mesmo de Moonrise Kingdom, 2012), de estilo tão marcante e exuberante, está mais para um drama camuflado de comédia. O cenário é extremamente colorido, a trilha (sempre fantástica) é repleta de música pop escolhida a dedo e o jogo de cena é propositadamente artificial. Tudo é meio over, meio caricato, mas sempre com um leve tom de melancolia. Uma espécie de sorriso de palhaço escondedor de  sofrimentos verdadeiros. O filme conta a história da viagem que três irmãos fazem a Darjeeling. Três irmãos – Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman) – que não convivem muito, e que, após morte do pai e desaparecimento da mãe, perderam não só o contato, mas sobretudo a amizade e a confiança mútua. Francis, o organizador da viagem, depois de ter sofrido um acidente e quase ter perdido a vida (fato que, aliás, Peter e Jack ignoram), resolve reunir os irmãos a fim de fazer uma viagem espiritual, resgatando assim o relacionamento fraternal que tinham no passado e aprendendo a valorizar o que de fato importa na vida.

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Em The Way, de Emilio Estevez, por meio de uma estética bem mais convencional, menos exuberante, a mesma ideia de resgate da espiritualidade está presente. O filme começa num tom bem triste, com um pai, Tom (Martin Sheen), perdendo um filho, Daniel (Emilio Estevez) em um acidente nos Pirineus. Um pai que, ao perder o filho, perde também seu chão e seu rumo. Um homem em sofrimento que, numa decisão radical, resolve seguir o plano traçado pelo filho agora morto: percorrer os 800 km do famoso Camino de Santiago. Ele pega, então, a mochila, o cajado e todos os apetrechos do filho e põe o pé na estrada. Sem muito refletir, levado pelo sentimento de culpa, de dever não cumprido, de tempo perdido. Um caminho de reflexão, encontros, desencontros e que, certamente, o levará para mais perto de seu filho, e, sobretudo, para mais perto do EU perdido dentro do adulto em que ele se transformou.

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Os dois filmes tratam, portanto, da evolução pessoal e espiritual que vez por outra a vida nos impõe. Ou que tanto buscamos. Histórias de desapego material, de libertação, de paz de espírito. Ocasiões especiais que nos ajudam a enxergar o verdadeiro valor das “coisas”.

Para os que gostam de viajar (e de caminhar, como eu) ou para os que sonham com uma experiência espiritual, menos materialista, os dois filmes funcionam como um grande incentivo. Dá uma vontade danada de botar um mochilão nas costas e seguir em frente desbravando novos caminhos por esse mundão afora.

Vale a pena conferir!

Dois filmes PARA PENSAR.

Ficha técnica:

Viagem a Darjeeling (2007)

Título original: The Darjeeling Limited

Origem: EUA

Diretor: Wes Anderson

Com: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman

The Way (2010)

Título original: The Way

Origem: EUA / Espanha

Diretor: Emilio Estevez

Com: Martin Sheen, Emilio Estevez, Deborah Kara Unger, James Nesbitt, Yorick van Wageningen

 

Grand Central (2013)

•setembro 13, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer do filme aqui!

Título original: Grand Central  GRAND+CENTRAL

Origem: França

Diretora: Rebecca Zlotowski

Roteiro: Gaëlle Macé e Rebecca Zlotowski

Com: Léa Seydoux, Tahar Rahim, Olivier Gourmet, Denis Ménochet

Um romance proibido dentro de uma central nuclear: combinação bombástica!

O segundo filme da jovem diretora francesa Rebecca Zlotowski é um filme bem equilibrado, denso, tenso, bem montado e composto de belíssimos planos!

A história se passa em uma das 19 centrais nucleares da França, tendo como protagonistas os operários que arriscam suas próprias vidas em troca de um salário não tão grande assim. Interessante notar a facilidade com que os jovens recém-chegados e sem formação específica são contratados… Um trabalho de alto risco, que requer precisão, atenção extrema, excelente formação e que é tratado com tamanha displicência!

Grand Central tem um quê do realismo poético francês, apresentando-nos o dia-a-dia de personagens simples, gente do povo, que rala e que sonha em um dia melhorar de vida. Mas, assim como no próprio movimento cinematográfico dos anos 30, o pessimismo é o motor da história, contrastando assim com os belíssimos planos escolhidos por Rebecca Zlotowski.

Os funcionários vivem em um acampamento ao lado da Central numa vida meio cigana, em que, de repente, todos parecem fazer parte de uma grande família. A grande proximidade e o isolamento de outras “civilizações” faz com que os sentimentos se intensifiquem ali naquela comunidade que sonha com um futuro melhor mesmo sabendo que neste caminho que escolheram não há muito espaço para ele (o futuro).

E é nesse cenário, por vezes bucólico, por vezes saído de um filme de ficção científica, que nasce então a paixão avassaladora entre o novato Gary (Tahar Rahim) e a funcionária de cabelos curtos Karole (Léa Seydoux), noiva do veterano Tony (Denis Ménochet). Romance esse que será o fio condutor da história.

Usando e abusando (no bom sentido) do close, dos planos fora de foco e de uma câmera inquieta, a jovem diretora francesa vai pouco a pouco elevando a tensão do filme, num crescendo muito bem cuidado, que nunca exagera na dose.

O som é outro componente importante de Grand Central, sendo trabalhado de forma brilhante, o que ajuda e muito na construção da tensão que a trama pede.  Dois excelentes exemplos são a sequência pós-acidente com Gary, composta por uma música absolutamente enlouquecedora acompanhada de uma câmara ao mesmo tempo lenta e zonza. E ainda a sequência do casamento, em que tudo se passa também em câmera lenta com uma música em total dissonância com as imagens apresentadas na tela. Uma possível alusão ao real e o desejado. O som sendo o real e as imagens o desejado. A alegria ali fantasiada, mascarada, abafada pelo som do perigo. Fantástico!

Alternando sequências banhadas por uma luz azul fria e tensa com outras banhadas por uma luz mais amarelada, quente e alegre, Grand Central é, aliás, cheio de belos planos, boas sacadas, além de várias referencias a grandes mestres do cinema, como Renoir, Vigo, Pasolini e outros.

Um filme que toca de maneira elegante em um tema absolutamente atual e que foi selecionado para o Festival de Cannes deste ano na categoria Un Certain Regard.

Sem dúvida, uma bela conquista para uma cineasta praticamente “débutante”. Que venham outros mais!

Um filme PRA PENSAR.

Memórias do Cárcere (1984)

•setembro 9, 2013 • Leave a Comment

Veja aqui o filme!

Título original: Memórias do Cárcere   image_preview

Origem: Brasil

Diretor: Nelson Pereira dos Santos

Roteiro: Nelson Pereira dos Santos

Com: Carlos Vereza, Glória Pires, Jofre Soares, José Dumont, Jorge Cherques

Baseado na obra homônima de Graciliano Ramos, Nelson Pereira dos Santos traz para as telas uma história de libertação do corpo e da alma via metáfora do cárcere.

O cárcere sendo aqui nossa sociedade brasileira, cheia de conceitos e pré-conceitos importados, herdeira do colonialismo, com seu ranço subdesenvolvimentista, eterna dependente, refém de uma qualquer metrópole. A libertação, por sua vez, não é só física. Não se trata apenas de conseguir escapar do presídio, mas principalmente, de conseguir libertar a alma dos preconceitos, das armadilhas sociais e econômicas, da cadeia invisível que nos torna prisioneiros a cada dia.

No livro, assim como no filme, Graciliano Ramos conta um período de sua vida, quando em 1936, época em que ocupava o cargo de diretor de Instrução do Estado de Alagoas, foi detido por suspeita de participação na Aliança Nacional Libertadora (reunião de diferentes tendências de esquerda em oposição ao Governo de Getúlio Vargas).

O escritor alagoano relata assim suas memórias do cárcere, onde, junto a diversos personagens (reais e fictícios), representantes de boa parte da sociedade brasileira – ladrões, médicos, operários, padeiros, professores, homens, mulheres, homossexuais, etc. –  pôde experimentar a prisão física. Experiência dolorosa que terminou por conduzi-lo à libertação do espírito. Um período em que se viu obrigado a transpor seus próprios muros, quebrando as grades de diversos preconceitos que havia erguido em sua volta.

Nelson Pereira dos Santos afirma que não há em seu filme um compromisso biográfico com Graciliano Ramos, embora o personagem conserve o nome do escritor. Num ato libertário, Nelson não reproduziu fielmente o livro em seu filme mas, assim como fez Graciliano Ramos em seu livro, escreveu seu roteiro de memória*, numa espécie de memória das memórias, deixando a sua ficção invadir àquela do livro.

No entanto, o também diretor de Vidas Secas (1963) – outro filme baseado em obra de Graciliano Ramos – trouxe para o cinema o estilo direto e seco do Mestre Graça. Fez o filme com cortes secos, objetivos, sisudos, sem frufrus nem tecnologias. Recorreu a atores amadores ou pouco conhecidos (na época) para garantir ares de realidade ao filme, misturando-os a outros já consagrados, como o grande Carlos Vereza para o papel principal.

Vereza, aliás, ao encarnar Graciliano Ramos, conseguiu levar às telas a sisudez do escritor, reproduzindo de forma bastante fidedigna seus gestos, suas posturas, sua fala mansa e seca, seu olhar enigmático, numa interpretação “quase milagrosa”, segundo conta Ricardo Ramos, filho de Graciliano.

Mas prepare-se, o filme é super longo (um pouquinho mais que 3 horas) e seu início é lento, difícil de pegar, sobretudo para os espectadores de hoje, não acostumados à encenação mais teatralizada, mais pausada, característica de uma outra época. Tudo pode parecer então, no princípio, meio artificial, duro, ensaiado demais. Mas, insista, persista, não desista. A partir das cenas do barco o filme vai ganhando ritmo, eloquência e torna-se bem mais envolvente.

Há uma série de diálogos interessantes, de cunho altamente revolucionário, verdadeiros discursos feitos por personagens anônimos que olham para a câmera, comunicando-se diretamente com o espectador. Toques de documentário num filme de ficção, momentos de quebra da transparência cinematográfica, daqueles feitos propositadamente para acordar plateias, para tirá-las da inércia em que vivem.

Há outros momentos em que voltamos a embalar-nos pela ficção, sentimo-nos então mais tocados, sofremos junto com os personagens, torcemos por sua libertação. E nesta mistura de ficção e documentário, transparência e quebra de transparência, de sonho e de pé no chão, vamos acompanhando as memórias desse grande escritor que foi Graciliano Ramos pelos olhos desse grande cineasta que é Nelson Pereira dos Santos. Certamente dois homens de ideias que, em períodos de ditadura, souberam usar sua arte para passar mensagens libertárias.

Um filme PRA PENSAR.

* Graciliano Ramos acabou tendo que deixar seus escritos no presídio, distribuídos entre seus colegas presidiários que, num ato de defesa do livro, arriscaram-se escondendo por baixo de suas calças e camisas as folhas contendo partes de suas histórias. Um belo ato de companheirismo que tão bem ilustra o livro e o filme Memórias do Cárcere.

Listinha

•setembro 3, 2013 • Leave a Comment

Depois de longo período de férias, quase sem publicar, aqui vai uma listinha de alguns filmes que foram acrescidos à sessão O QUE VER. pelicula

São filmes que vi durante esses dois últimos meses. Filmes atuais, antigos, vistos, revistos, filmes infantis, de adolescentes, de adultos, alguns interessantes, alguns lindos, outros horrorosos… Tem pra todos os gostos. Dê uma olhada e escolha o que mais faz o seu gênero!

PRA SE ENCANTAR

Vestígios do Dia (1993)

Histórias Cruzadas (2011)

O Quarteto (2012)

Os Croods (2013) – PRA VER COM CRIANÇAS DE TODAS AS IDADES

PRA PENSAR

Tabu (2012)

Além das Montanhas (2012)

Grand Central (2013)

PRA SE DISTRAIR

A Marvada Carne (1985)

Chicago (2002)

Romaine par moins 30 (2009)

Renoir (2012)

Admission (2013)

A Hospedeira (2013) – PRA VER COM ADOLESCENTES

Percy Jackson: Mar de Monstros (2013) – PRA VER COM ADOLESCENTES

Dezesseis Luas (2013) – PRA VER COM ADOLESCENTES

42: A História de uma Lenda (2013) – PRA VER COM ADOLESCENTES

Meu Malvado Favorito 2 (2013) – PRA VER COM CRIANÇAS DE TODAS AS IDADES

Universidade Monstros (2013) – PRA VER COM CRIANÇAS DE TODAS AS IDADES

PRA MORRER DE MEDO 

João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013) – PRA VER COM ADOLESCENTES CORAJOSOS

PRA SE ARREPENDER

Holy Motors (2012)

 

 

Tabu (2012)

•agosto 29, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Tabu  ozartsetc_tabu_miguel-gomes_001-e1333390678478

Origem: Portugal

Diretor: Miguel Gomes

Roteiro: Miguel Gomes, Mariana Ricardo

Com: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Isabel Muñoz Cardoso, Henrique Espírito Santo, Carlotto Cota

Um filme diferente, que surpreende positivamente!

O prólogo do filme, assim como sua primeira parte podem assustar um pouco a audiência mais convencional, mais adepta ao cinema clássico hollywoodiano.

No entanto, minha sugestão é que persistam, pois vale a pena. O filme é bem interessante, inovador e belo.

Dividido em três partes quase autônomas, mas que se complementam, o filme do diretor português Miguel Gomes vem fazendo sucesso mundo a fora. Já arrebatando vários prêmios importantes.

Tudo começa por um prólogo que narra uma espécie de lenda africana. O jogo de cena dos atores aqui é bem rígido, artificial, duro. E como toda boa lenda, é surreal. Nota-se logo que não se trata de um filme comum. Algumas cenas têm um quê de Jean Rouch, cineasta francês dos anos 50 que ficou conhecido por seus filmes antropológicos, rodados em tribos africanas. Ou ainda pelo que veio a se chamar de cinéma-vérité.

A primeira parte, chamada Paraíso Perdido, se passa na Lisboa de hoje e conta a história de Pilar (Teresa Madruga), uma ativista cinquentona, solteira, católica, que dedica sua vida às causas humanitárias, ajudando também os bem próximos, como sua vizinha D. Aurora (Laura Soveral). Uma senhora outrora “de posses”, já de idade, que mora em companhia de uma criada cabo-verdiana, a Santa (Isabel Muñoz Cardoso).

D. Aurora tem uma filha que mora no Canadá, mas que nunca aparece. A solitária senhora gasta o que resta de seu dinheiro no jogo. E parece já nem se dar mais conta da situação em que vive. Ela implica com Santa, dizendo à sua vizinha Pilar, que a africana faz feitiços contra ela.

Percebe-se bem nas figuras de D. Aurora e de Santa o contraste entre dois mundos, Europa e Africa, entre duas culturas, a branca e a negra, entre as duas religiões, católica e africana (insinua-se aqui práticas de “feitiçarias”), entre as duas classes sociais, entre colonizador e colonizado.

O clima que reina, porém, nessa primeira parte do filme é de nostalgia, solidão, melancolia. Falta vida, alegria, movimento. O ritmo da narração é bem lento e algumas falas também. As coisas vão acontecendo mas parece que não saímos do lugar. Algumas cenas parecem até meio sem sentido ali dentro daquela história, como a da menina polonesa que deveria ficar na casa de Pilar.

Mas eis que Aurora fica doente e pede para Santa chamar um certo Gian Luca Ventura (Henrique Espírito Santo). Pilar segue, então, em busca do misterioso homem e o traz para ver Aurora.

E é aí que vamos passar para a segunda parte do filme, quando, sentados em meio a uma floresta artificial de um shopping em Lisboa, esse Indiana Jones português vai nos contar uma história secreta do passado de D. Aurora, vivida em solo africano.

A segunda parte – um imenso flashback – se chama Paraíso. E a partir daqui o filme ganha novo ritmo, novos sons e a mesma cor (ainda o preto e branco).

O mais interessante desta segunda parte (ou terceira, se considerarmos o prólogo) é que não há diálogos. Na verdade, há sim, mas simplesmente não os ouvimos. Os atores mexem os lábios, mas não ouvimos o som de suas falas. Só ouvimos os ruídos das cenas e a narração na voz do velho Ventura que, puxando por sua memória, leva-nos de volta ao passado para vivermos junto com eles uma história de uma paixão proibida avassaladora.

A escolha de Miguel Torres, certamente, causa estranhamento no início, mas logo ganha ares de encantamento, já que parece tão apropriada a esta parte do filme, quando as súplicas de uma paixão verdadeira têm de ser caladas pela razão que norteia a realidade.

O fato de o filme ter sido todo rodado em preto e branco também contribui para acentuar o efeito de lembrança, de filme antigo, remetendo aos tempos do cinema mudo. Os planos são bonitos e bem contrastados, tendo o filme uma bela fotografia, sobretudo nesta segunda parte.

Tabu homenageia explicitamente o grande cineasta alemão Murnau, ele também autor de um Tabu (1931), filme igualmente dividido em duas partes, chamadas não por acaso de Paraíso e Paraíso Perdido, uma história de amor impossível entre nativos de Bora-Bora. Miguel Torres inverteu a ordem das partes e ainda pegou emprestado de outro filme de Murnau, Aurora (1927), o nome de sua protagonista. Uma bela homenagem à história do cinema!

Le Passé (2013)

•julho 28, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Le passé  le-passe-past-poster

Origem: Irã / França

Diretor: Ashgar Farhadi

Roteiro: Ashgar Farhadi

Com: Bérénice Bejo, Ali Mossaffa, Tahar Raim, Pauline Burlet, Elyes Aguis, Jeanne Jestin

Até que ponto podemos esquecer o passado? Até que ponto somos capazes de apagar atitudes e decisões tomadas e seguir em frente, sem olhar para trás?

Com essa temática, o premiado diretor iraniano Ashgar Farhadi nos coloca mais uma vez no seio de uma família desmantelada. De uma família separada, divida em pedaços, carecendo de remendos. Remendos esses que eles julgam poder trazer do passado.

Marie (Bérénice Bejo, merecidamente premiada em Cannes neste ano como Melhor Atriz, provando que é igualmente boa em filme falado), francesa de classe média trabalhadora, pede para seu ex-marido iraniano Ahmad (Ali Mossaffa) vir a Paris a fim de oficializar o divórcio. Ela pretende se casar com seu novo companheiro Samir (Tahar Raim), com quem já divide a mesma casa em que morava com Ahmad. Sua intensão é também que ele aproveite a temporada na França para conversar com Lucie (Pauline Burlet), sua filha mais velha, fruto de um outro relacionamento, e que ultimamente anda distante, estranha, evitando a convivência com a mãe.

De outro lado, temos Fouad (Elyes Aguis, um pequeno grande ator que arrepia com sua interpretação), filho de Samir, um garoto arredio que sofre pela ausência da mãe, atualmente em coma, devido a uma tentativa de suicídio.

Quase um romance policial, mas sem nunca ter esse tom exatamente, O Passado é um filme misterioso, pesado, angustiante, simples e complexo ao mesmo tempo. Um filme repleto de simbolismos discretos, inteligentemente colocados nos planos (e momentos) certos. Já na primeira sequência, no aeroporto, o vidro que separa o ex-casal dá o tom da trama. Um muro transparente que impede o som de passar e o toque de acontecer, mas que ainda deixa espaço para a visão falar. Ahmad fala, Marie responde. Nós, espectadores, nada ouvimos e pouco compreendemos. Eles se entendem, conversam, leem os lábios um do outro. Dois seres, duas culturas, dois mundos separados por um vidro, mas unidos por uma história, por um passado.

O brilhante roteiro de Farhadi  é linear em sua narração, mas consegue nos surpreender em vários instantes, conduzindo-nos pelos caminhos labirínticos e perturbados dessa família-mosaico, que tenta, sem descanso,  encontrar nas decisões de ontem a solução (paz) para o presente. Sem abusar de recursos narrativos tais como flash-backs ou grandes elipses, o diretor iraniano consegue, pela montagem e pelos diálogos, fornecer-nos, pouco a pouco, os elementos necessários para a compreensão das grandes angústias expostas no filme. Porém, ele não apresenta nunca uma solução para elas, se é que isso existe, seja na ficção ou na realidade.

Com uma estética de banlieue, o filme certamente não se destaca pelo belo kantianno, nem por paisagens exuberantes, muito menos pela alegria das cores ou da luz do sol. Ao contrário. O filme é escuro, chuvoso (chove quase o tempo todo), com cenários abarrotados de peças antigas, fazendo-nos sentir dentro de um bric-à-brac empoeirado. Dá quase vontade de pegar uma vassoura e um pano e atravessar a tela para ajudar a dar um jeito naquela casa, juntando os cacos daquelas vidas tão despedaçadas.

A casa, aliás, além de dizer muito da condição social e psicológica dos personagens (ela é tão desorganizada como a cabeça de seus moradores) é um elemento importante do filme. Inclusive sua localização, ao lado do trilho do trem.  Trem que simboliza a volta no tempo tão desejada, mas impossível de ser feita. Trem dos primeiros filmes dos Irmãos Lumière. Trem que transporta, que leva para longe, mas que aproxima, que liga, que une. Trem que serve de ponte entre as duas culturas ali representadas – Irã e França – entre esses dois mundos tão distantes e tão próximos ao mesmo tempo.

A questão da imigração é bem presente no filme, apesar de não ser seu fio condutor: Funcionários sans papier trabalhando de forma ilegal, habitantes dos banlieues, vivendo situação financeira difícil, imigrantes ajudando uns aos outros, acobertando suas clandestinidades, pessoas amedrontadas em função de sua condição… Tudo isto está presente em O Passado, mesmo que de forma discreta, adjacente.

Para concluir, impossível não mencionar os atores. Que show de interpretação! O elenco é, sem dúvida, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do filme, já que O Passado não conhece efeitos especiais nem trilhas sonoras exuberantes. Aliás, a música lhe é bem ausente. O som mais ouvido – fora as vozes dos personagens – é o barulho da chuva, que cai quase constantemente. Mas os atores, com sua eloquência, não nos deixam sentir essa ausência. E incluo aqui as duas crianças, que arrasam em sua interpretação tão madura, sendo responsáveis por algumas cenas de grande emoção, sem nunca se deixar cair na armadilha do melodrama.

Enfim, O Passado – como os demais filmes de Farhadi – perturba, inquieta, angustia e põe-nos para pensar sobre a vida, sobre nossas atitudes, nossas decisões e suas consequências. Um filme que não termina quando as luzes da sala se acendem. PRA PENSAR e PRA SE ANGUSTIAR.

O Atalante (1934)

•junho 24, 2013 • Leave a Comment

Título original: L’Atalante   

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Origem: França

Diretor: Jean Vigo

Roteiro: Jean Vigo, Albert Riéra, Jean Guinée

Com: Michel Simon, Dita Parlo, Jean Dasté, Louis Lefebvre

Minha dica de hoje vem diretamente do túnel do tempo:

O Atalante, do diretor francês Jean Vigo, lançado em 1934.

Um filme absolutamente lindo que é também o marco zero do Realismo Poético Francês. Um movimento dos anos 1930 e 1940, que defendia a ideia de que o cinema deveria mostrar a realidade nas telas, por meio da escolha de personagens comuns, de vida simples, sem perder, no entanto, o lirismo e a poesia.  Foi esse movimento que inspirou o futuro Neorrealismo italiano.

O roteiro de O Atalante é bem simples e conta a história de um casal recém-casado, pertencente à classe trabalhadora da França, que vai viver seus primeiros dias de casado à bordo do barco Atalante, onde vão doravante morar (e trabalhar).  Junto com o casal moram também mais dois tripulantes, o Père Jules (Michel Simon), uma figura curiosa que assusta e encanta ao mesmo tempo, com seu corpo coberto de tatuagens (escandalosas para época) e um rapazote (Louis Lefebvre) que é seu ajudante.

Ao longo do caminho, o casal vai pouco a pouco se conhecendo, se divertindo, sendo feliz, triste, discutindo, se entendendo, se desentendendo…

Juliette sonha em conhecer Paris. O marido realiza seu desejo. Mas ela se deslumbra e se deixa seduzir pelos encantos de uma vida que não é a sua, encontrando junto com os novos prazeres também a infelicidade. Jean Vigo nos mostra a Paris real, dos trabalhadores  humildes, da gente que mora nos subúrbios, da parte não glamorosa da cidade-luz. Gente que enfrenta a fila do desemprego,mostrado uma imagem até então tabu no cinema francês.

Ainda que mostre a realidade de uma Paris pobre, O Atalante tem uma fotografia rica e linda, composta por planos bem enquadrados, filmados de ângulos originais e interessantes, guardando algumas características do surrealismo, tais como as sobreposições usadas para as sequências de sonhos e desejos. Destaque para a sequência em montagem paralela mostrando marido e mulher, cada um em uma cama diferente, em espaços físicos distintos, após um desentendimento, sonhando um com o outro. Uma sequência plena de sensualidade, de sentimento, de originalidade e de beleza.

Jean Vigo, conhecido também como o “Rimbaud du cinéma”, teve infelizmente carreira curta, morrendo aos 29 anos, deixando mesmo assim 4 filmes, entre eles o também excelente, irreverente e revolucionário Zero de comportamento (1933), censurado no lançamento e só liberado em 1945. Outro filme altamente recomendado!

Veja uma sequência do filme aqui!

New Hollywood

•junho 18, 2013 • Leave a Comment

Para os fãs dos filmes americanos dos anos 1970 – talvez uma das décadas mais criativas de Hollywood – aqui vai uma dica imperdível:

A Decade Under the Influence  95d5765549364e61606c735a97d8c6c1

Um documentário realizado por Richard LaGravenese e Ted Demme em 2003 que conta como foi e o que foi essa década tão borbulhante, que ficou marcada para sempre na história do cinema como a New Hollywood.

Composto por depoimentos de vários de seus protagonistas – hoje diretores, roteiristas, produtores e/ou atores consagrados e venerados, como Martin Scorcese, Robert Alman, Sidney Pollack, Francis Ford Coppola, Millos Forman ou Ellen Burstyn – bem como de trechos de alguns de seus filmes mais marcantes, A Decade Under the Influence coloca-nos direto dentro do furacão, situando-nos no contexto historico-cultural da época.

Absolutamente interessante e recomendado!

Veja aqui o filme!

O Grande Gatsby (2013)

•junho 8, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Tìtulo original: The Great Gatsby   Great-Gatsby-wallpaper_03

Origem: EUA / Austrália

Diretor: Baz Luhrmann

Roteiro: Baz Luhrmann

Com: Leonardo Di Caprio, Tobey Maguire, Joel Edgerton, Carey Mulligan

Um grandioso espetáculo!

A mais nova versão de O Grande Gatsby – quarta feita até hoje para o cinema – é glamorosa, esplendorosa, grandiosa, luxuosa! Um mega show realizado pelo diretor australiano Baz Luhrmann, com direito a fogos de artifício e muitas borbulhas de champagne!

A história – já mil vezes conhecida, tirada diretamente da obra de F. Scott Fitzgerald, do misterioso milionário solitário que tudo construiu para conquistar a mulher amada – ganhou agora novos ares, cores e sons. A mais pura tecnologia digital transformada em espetáculo! O filme é exuberante!

A atuação de Leonardo Di Caprio, por sua vez, é elegante, equilibrada, precisa (como sempre) e absolutamente grandiosa, assim como seu próprio personagem. Em muitos momentos ele até lembra Robert Redford –  na versão de 1974, dirigida por Jack Clayton – sendo que o Gatsby de Di Caprio conseguiu ser ainda mais intenso, mais real e passar ainda mais emoções (contidas) do que o de seu veterano.

E já que falamos da versão de 1974, que tal brincarmos de jogo dos sete erros? Quem ainda não viu o filme com Redford, sugiro que veja. Não que a versão de 2013 precise de retoques ou de complementos. Ao contrário. A versão atual parece até mais completa do que a de antes, mesmo que apresente algumas cenas a menos, como a do pai chegando à casa de Gatsby, no final do filme.  Ou então, de cenas a mais, como a da hora do atropelamento de Myrtle Wilson. A minha sugestão é apenas que se faça da experiência de ir ao cinema assistir a um remake uma bela brincadeira, ou um gostoso exercício do olhar cinematográfico.

Vamos às diferenças:

1. Narração: A versão de 2013 conta com um narrador personagem, Nick (Tobey Maguire), muito mais presente do que a versão de 1974.  O que, por um lado, aproxima-nos dos personagens, principalmente do próprio Nick, com quem nos identificamos e por quem desenvolvemos grande simpatia. Isso ajuda muito na compreensão da história e dos sentimentos vividos por ele e pelos outros personagens. Mas, por outro lado, essa presença massiva – feita aliás, simultaneamente de forma escrita na tela, em bela sobreposição de imagens – faz-nos também ficar muito mais presos à visão que Nick tem sobre os acontecimentos. Na versão de Clayton somos mais livres, mais imparciais talvez.

2. Diálogos: Os diálogos de 1974 são mais diretos, mais explícitos, não dando margens a deduções ou a suposições, como acontece na versão de 2013. Particularmente, gosto bastante dos não-ditos de hoje. Combinam mais com a misteriosa vida de Gatsby.

3. Janela: Na versão de 2013, Gatsby espia constantemente Nick pela janela. Nick percebe que está sendo espionado. Esse voyeurismo, que dá um certo ar de mistério à história, não aparece na versão de 1974.

4. O convidado: Na versão de 2013, o fato de Nick ser o único verdadeiramente convidado (todos os outros costumam aparecer nas festas de Gatsby sem receberem convites) é bastante explorado. Primeiro, ele comenta em sua narração. Depois ainda o vemos na festa com seu convite na mão, tentando mostra-lo para alguém, como se estivesse meio perdido. Mas ninguém dá bola para sua fala. Já na versão de 1974, não o vemos procurando entregar o convite para ninguém, mas sendo identificado em meio à multidão de convidados e levado para algum lugar desconhecido, por um homem com pinta de segurança. Nick fica tenso, sente-se deslocado, ameaçado, como se fosse errado um joão-ninguém como ele estar naquela festa. Essa cena reforça a questão da diferença de classes sociais.

5. Diferenças sociais e raciais: Sem dúvida alguma, a grande questão do filme é a diferença entre classes sociais, representada pelos amores impossíveis entre os casais Daisy e Gatsby, Martin (marido de Daisy) e sua amante Myrtle, ou ainda entre o casal que nunca se constitui, Nick e Jordan (campeã de golf que só namora homem rico). Porém, na versão de 1974, a questão racial é levantada já bem no começo do filme e retomada em várias outras circunstâncias, em claro discurso que coloca os brancos como superiores aos negros. Na versão de 2013, a questão é levantada no começo do filme de maneira sutil e não mais é retomada em outras cenas.  A razão para essa mudança seja, talvez, o fato de que, de lá pra cá, muito se avançou na luta pela igualdade racial, embora não tenhamos, até hoje, colocado um fim nesta questão absurda de superioridade da raça branca.

6. Luz verde: Na versão de 2013 a luz verde proveniente do farol do píer da casa de Daisy vira quase um leitmotiv do filme, reaparecendo em várias cenas. Ela representa a esperança que Gatsby sempre teve de reencontrar sua amada, de reconstruir a vida a seu lado e de finalmente ser feliz. Em vários outros momentos, a luz verde, por vezes envolta por brumas, domina a tela e os pensamentos de Gatsby. Isto já não acontece no filme de 1974.  A luz aparece no começo do filme e só vai voltar a aparecer no seu final. O simbolismo está em ambas as versões, mas a presença física do verde na tela é bem menor, perdendo um pouco de sua força.

7. A música: Ao contrário da versão de 1974 que usou e abusou do jazz e das músicas contemporâneas à época em que se passa a história do filme (anos 20), a versão de agora é composta por música de artistas da atualidade, em dissonância com o figurino, com o cenário e com a época da história do filme. Músicas de Lana Del Rey, Jay-Z, Beyoncé, will.i.am, Fergie, etc. Esse parece ser, aliás, o estilo Baz Luhrmann de fazer filmes, que já havia optado pela dissonância musical em seus anteriores Romeu e Julieta (1996) e Moulin Rouge (2001). O resultado é novamente um grande espetáculo!

Fora esses sete pontos que levantei, há ainda uma série de outras diferenças entre as versões de 1974 e de 2013. Cenas a mais, cenas a menos. Falas distintas, falas iguais. Diferenças, por certo, mas que não diminuem em nada o valor nem de uma nem de outra versão. Ambas têm seu glamour. Sendo que a de hoje tem, a seu favor, a tecnologia e o Leonardo Di Caprio.

O Grande Gatsby é um filme-espetáculo, imperdível para quem gosta do cinema clássico norte-americano. Palmas para Baz Luhrmann!

Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA SE ENCANTAR.

 
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