Jobs (2013)

Veja o trailer aqui!

Título original: Jobs

Origem: EUA  jobs-movie

Diretor: Joshua Michael Stern

Roteiro: Matt Whiteley

Com: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Matthew Modine

Levar a vida de alguém às telas não é tarefa fácil. Como espremer em duas horas um conjunto tão grande de fatos, atos, sonhos e sentimentos?

Sem dúvida, é preciso talento para selecionar um período-chave, bem representativo da vida do personagem e, assim, conseguir apresentar em pouco tempo o que melhor o representa.

Infelizmente, não foi o que aconteceu com Joshua Michael Stern em seu Jobsbiopic de Steve Jobs, lançado há pouco nos EUA e no mundo.

E olha que não foi por falta de material, já que a vida de Jobs em si já é um excelente argumento para qualquer obra:  jovem nerd de classe média americana que sai do zero (ou da garagem de seu pai) para tornar-se o dono da gigante Apple Inc. Um homem que, no intuito de perseguir seus sonhos e objetivos, faz concessões à ética, traindo amigos, renegando sua filha e isolando-se do mundo dos humanos para trancafiar-se em sua própria caverna megalomaníaca. Mas que, no final das contas, consegue ver seu sonho realizado.

Mas, infelizmente, as escolhas do diretor não foram assim tão felizes. E acabaram por pintar um quadro de certa maneira tendencioso.

O filme começa em 2001, lançamento mundial do Ipod. As primeiras cenas fazem qualquer Ifã, como eu, se arrepiar. A câmera segue Steve Jobs (Ashton Kutcher), que anda (de costas para nós espectadores) rumo ao auditório da Apple, para a apresentação do novo produto que vai mais uma vez revolucionar o mundo da música e dos eletrônicos. Uma sequência interessante, bem feita, com bom ritmo, que nos faz crer que o filme está se encaminhando para o rumo certo.

Em seguida, depois desses minutos iniciais de emoções à flor da pele, somos lançados de volta ao passado, para os anos de um Steve Jobs quase menino. Um jovem esquisito, meio rebelde, que anda descalço pelo campus da universidade, e que não vê razão alguma para continuar a frequentar às aulas de seu curso. As cores do filme mudam de tom, são mais lavadas, alaranjadas, com cara de anos 1970. Tudo  vai bem até aí.

A partir de então, assistiremos a história de Jobs contada de forma clássica e linear, permeada por elipses de diferentes tamanhos, tendo letterings das datas como marcadores temporais. Tudo bem também. Acontece que os saltos no tempo são por vezes enormes e deixam informações e acontecimentos importantes sem nenhuma explicação. E talvez esteja aí o maior problema do filme. Como deixar, por exemplo, de desenvolver a história de Jobs com sua filha Lisa, rejeitada em seu nascimento?

Ainda na primeira parte do filme, nos anos 1970, vemos uma cena forte e marcante, em que a namorada de Jobs conta para ele que está grávida. Ele se desespera, tem uma reação explosiva de rejeição ao bebê. Chega mesmo a insinuar que o bebê não é dele. E cospe fogo, berrando que ela não pode fazer isso com ele, não naquele momento de sua vida, quando finalmente as coisas parecem se encaminhar rumo ao sucesso.

A cena é intensa, um momento bem forte do filme. Os que não sabem grande coisa sobre a vida do gênio da maçã ou que não leram sua biografia, talvez sintam raiva ou desprezo. Talvez queiram ou torçam para uma explicação, para que venha uma redenção nos anos que estão por vir. E, certamente ela acontece, mas nós espectadores ficamos de fora.

Veremos sim, num outro momento, algumas referências a essa questão: o advogado, alguns anos depois, insistindo para ele assinar o reconhecimento de paternidade da filha; ou, então, Jobs, já rico, recebendo uma cartinha da menina, pedindo para que ele lhe conceda uma visita… C’est tout! Não vemos mais nada desse relacionamento. E de repente, não mais que de repente, já mais para o fim do filme, eis que somos surpreendidos por uma sequência em que um Jobs de óculos redondos, casado, pai de um menino, vai acordar uma filha adolescente. Entendemos, então,  que se trata de Lisa e que houve, portanto,  uma reconciliação. Mas como foi esse reencontro? Como foi o processo de mudança de Jobs?  Quem procurou quem? Foi fácil, difícil?

Um aspecto tão importante na biografia de Jobs, que talvez devolvesse um pouco de dignidade ao homem que ele foi, ficou de fora. Assim como ficaram de fora outros momentos importantes que dizem respeito aos seus amigos de juventude, aqueles malucos-beleza que toparam entrar na aventura de Jobs e que saíram de sua vida como entraram, com uma mão na frente outra atrás. Sem reconhecimento, sem aplausos, sem abraços, sem nada. Será que foi mesmo assim?

O que restou do retrato feito por Stern não foi lá muito positivo. Será que era isso que ele queria? Criar uma imagem negativa do gênio da Apple? Queria talvez puni-lo por seus “pecados”, deixando como resumo da sua vida um quadro de um homem brilhante sim, mas egoísta, mesquinho, egocêntrico, louco, injusto, aético, descontrolado e impossível de convivência? Ou talvez tenha-lhe simplesmente faltado talento para triar as melhores passagens? Ou melhor, para aprofundar momentos importantes e deixar outros passarem?

Não estou querendo aqui isentar Jobs de seus “pecados” nem de seus defeitos.  Apenas acho que o retrato que Joshua Michael Stern e Matt Whiteley pintaram foi tendencioso. Carregaram a tinta no péssimo ser humano (ser social) que ele foi, esfumaçando o brilhante empresário e criativo que ele também foi. Podiam ter se inspirado no trailer exibido no alto da página: bem montado, com excelente ritmo, envolvente, mostrando a crise do homem e do empresário, dosando bem os aspectos positivos e negativos do gigante que tornou o impossível possível.

Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA APRENDER. E cheio de momentos de arrepiar para os Ifãs de plantão!

~ by Lilia Lustosa on setembro 22, 2013.

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