Road movies
Ontem assisti a dois filmes bem diferentes num primeiro olhar (estética), mas que, no final das contas, falam sobre o mesmo tema: a evolução espiritual por meio do caminhar ( seja a pé, de carro, de trem…)
São eles:
Viagem a Darjeeling (2007) e O Caminho (2010)
Os dois contam histórias de viagens – são os famosos road movies que, independente do meio de transporte usado, levam-nos a fazer uma viagem junto com o(s) personagem(ns). A questão central é o andar, o caminhar, o mudar constantemente, o sair de um lugar para outro, o desbravar novos horizontes, encontrando vidas diferentes, caras e cores diferentes e, assim, evoluindo interiormente.
Nos dois filmes a morte (ou à proximidade com ela) é a mola propulsora da viagem e das consequentes mudanças.
Vamos aos filmes:
Viagem a Darjeeling, do diretor Wes Anderson (mesmo de Moonrise Kingdom, 2012), de estilo tão marcante e exuberante, está mais para um drama camuflado de comédia. O cenário é extremamente colorido, a trilha (sempre fantástica) é repleta de música pop escolhida a dedo e o jogo de cena é propositadamente artificial. Tudo é meio over, meio caricato, mas sempre com um leve tom de melancolia. Uma espécie de sorriso de palhaço escondedor de sofrimentos verdadeiros. O filme conta a história da viagem que três irmãos fazem a Darjeeling. Três irmãos – Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman) – que não convivem muito, e que, após morte do pai e desaparecimento da mãe, perderam não só o contato, mas sobretudo a amizade e a confiança mútua. Francis, o organizador da viagem, depois de ter sofrido um acidente e quase ter perdido a vida (fato que, aliás, Peter e Jack ignoram), resolve reunir os irmãos a fim de fazer uma viagem espiritual, resgatando assim o relacionamento fraternal que tinham no passado e aprendendo a valorizar o que de fato importa na vida.
Em The Way, de Emilio Estevez, por meio de uma estética bem mais convencional, menos exuberante, a mesma ideia de resgate da espiritualidade está presente. O filme começa num tom bem triste, com um pai, Tom (Martin Sheen), perdendo um filho, Daniel (Emilio Estevez) em um acidente nos Pirineus. Um pai que, ao perder o filho, perde também seu chão e seu rumo. Um homem em sofrimento que, numa decisão radical, resolve seguir o plano traçado pelo filho agora morto: percorrer os 800 km do famoso Camino de Santiago. Ele pega, então, a mochila, o cajado e todos os apetrechos do filho e põe o pé na estrada. Sem muito refletir, levado pelo sentimento de culpa, de dever não cumprido, de tempo perdido. Um caminho de reflexão, encontros, desencontros e que, certamente, o levará para mais perto de seu filho, e, sobretudo, para mais perto do EU perdido dentro do adulto em que ele se transformou.
Os dois filmes tratam, portanto, da evolução pessoal e espiritual que vez por outra a vida nos impõe. Ou que tanto buscamos. Histórias de desapego material, de libertação, de paz de espírito. Ocasiões especiais que nos ajudam a enxergar o verdadeiro valor das “coisas”.
Para os que gostam de viajar (e de caminhar, como eu) ou para os que sonham com uma experiência espiritual, menos materialista, os dois filmes funcionam como um grande incentivo. Dá uma vontade danada de botar um mochilão nas costas e seguir em frente desbravando novos caminhos por esse mundão afora.
Vale a pena conferir!
Dois filmes PARA PENSAR.
Ficha técnica:
Viagem a Darjeeling (2007)
Título original: The Darjeeling Limited
Origem: EUA
Diretor: Wes Anderson
Com: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman
The Way (2010)
Título original: The Way
Origem: EUA / Espanha
Diretor: Emilio Estevez
Com: Martin Sheen, Emilio Estevez, Deborah Kara Unger, James Nesbitt, Yorick van Wageningen