Top Ten 2013

•dezembro 13, 2013 • Leave a Comment

O fim do ano chegou e com ele chegou também a época das listinhas…

Lista de presentes, lista do que fazer antes de viajar, lista de resoluções para o novo ano, lista dos melhores livros, das melhores músicas e, claro, dos melhores filmes. foto (2)

Como nos últimos dois anos, compartilho aqui com vocês a lista dos Top Ten do Cahiers du Cinéma, que continua sendo, ainda hoje, a maior referência de crítica cinematográfica no mundo francófono.

  1. Um Estranho no Lago, de Alain Guiraudie (França)
  2. Spring Breakers: Garotas Perigosas, de Harmony Korine (EUA)
  3. Azul é a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche (França / Bélgica / Espanha)
  4. Gravidade, de Alfonso Cuarón (EUA)
  5. Um Toque de Pecado, de Jia Zhang-Ke (China / Japão)
  6. Lincoln, de Steven Spielberg (EUA)
  7. La Jalousie, de Philippe Garrel (França)
  8. Haewon et les Hommes, de Hong Sang-Soo (Coréia do Sul)
  9. Les Rencontres d’Après Minuit, de Yann Gonzalez (França)
  10. La Bataille de Solférino, de Justine Triet (França)

Infelizmente, alguns desses filmes ainda não chegaram ao Brasil e, eu mesma, vi muito poucos (só 3). Aliás, este ano que termina foi, para mim, um ano meio fraco de filmes. Não pela qualidade do que vi, mas pela pouca quantidade de filmes que pude assistir. Fica difícil montar assim uma lista pessoal ou mesmo comentar a feita pelo Cahiers.

Paradoxalmente, ao me aprofundar nos estudos cinematográficos (doutorado), distancio-me cada vez mais das salas de cinema… Assim, minha listinha dos melhores do ano certamente deixará de fora muitos bons filmes aos quais não pude assistir.

  1. Lincoln, de Steven Spielberg (EUA)*
  2. Gravidade, de Alfonso Cuarón (EUA)
  3. Blue Jasmine, de Woody Allen (EUA)
  4. Le Passé, Asghar Farhadi (França / Itália)
  5. A Espuma dos Dias, Michel Gondry (França / Bélgica)
  6. Os Croods, Kirk De Micco, Chris Sanders (EUA)
  7. O Grande Gatsby, de Bay Luhrmann (EUA / Austrália)
  8. Anna Karenina, de Joe Wright (Inglaterra)
  9. La Vénus à la Fourrure, Roman Polanski (França / Polônia)
  10.  Terapia de Risco, de Steven Soderbergh (EUA)

* Lincoln é de 2012 – assim como Anna Karenina – mas já que os críticos do Cahiers o colocaram na lista de 2013, tomei a liberdade para incluí-lo na minha também. Aliás, seguindo esta linha, deveria acrescentar aqui Django Livre, que só pude ver neste ano e que simplesmente a-d-o-r-e-i!!!! Fora outros de 2012, como Tabu e Além das Montanhas.

Conto com vocês para juntarmos aqui o que apareceu de melhor nas salas escuras por aí afora. Deixem suas sugestões nos comentários e vamos montar juntos a lista Nosso Olhar 2013.

Bons filmes!

La Vénus à la Fourrure (2013)

•dezembro 4, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

 

Título original: La vénus à la fourrure  La vénus à la fourrure de Roman Polanski (2)

Origem: França / Polônia

Diretor: Roman Polanski

Roteiro: Roman Polanski, David Ives

Com: Emmanuelle Seigner e Mathieu Amalric

 

Parece que 2013 é o ano dos grandes nomes do cinema voltarem à cena em grande estilo, com filmes mais maduros, mais enxutos, mais descomplicados e incrivelmente bons!

No meu último post falei de Woody Allen e de seu Blue Jasmine que tanto me encantou. Hoje, é a vez de Roman Polanski e de seu mais recente “filho”: La Vénus à la Fourrure, infelizmente ainda sem título em português do Brasil (em Portugal, Vénus  de Vison).

Assim como seu último filme Carnage (Veja aqui o post do dia 5/2/12.), La Vénus é igualmente baseado em uma peça de teatro e rodado em praticamente um único cenário. Desta vez, porém, Polanski trocou o apartamento em NY por um teatro decadente em uma Paris chuvosa e conseguiu enxugar ainda mais o elenco. Ao invés de dois casais (fora as crianças brincando lá fora, claro), desta feita, seu elenco reduz-se a dois atores. “C’est tout!” Apenas dois atores, do começo ao fim. Eles são as grandes estrelas do filme: Vanda (Emmanuelle Seigner) – “by the way”, esposa de Polanski – e Thomas (Mathieu Amalric).

A história é baseada na peça de teatro Venus in Furs, de David Ives, que fez grande sucesso na Broadway em 2010 e que, por sua vez, baseia-se no romance de Leopold von Sacher-Masoch, publicado em 1870. Obra que, aliás, deu origem ao termo “masoquismo”.

Thomas é um diretor/autor de teatro e está selecionando a atriz que fará o papel de Wanda na sua próxima peça La Vénus à la Fourrure. Após um dia inteiro vendo passar à sua frente, atrizes vulgares e incompetentes, querendo o papel de Wanda, Thomas se sente desanimado. Ele confessa à sua noiva, por telefone, seu insucesso na busca de uma atriz que realmente entenda a grandeza de sua personagem. Ele se prepara para ir embora, quando, eis que entra em cena uma última candidata, atrasada, super maquiada, e que tem, não por coincidência, o mesmo nome da protagonista da peça. Após um fantástico plano-sequência à la Hitchcock, em que a câmera (subjetiva) passeia por uma alameda chuvosa de Paris, vira, fica de frente para o teatro, abre a porta e entra no recinto em que Thomas se encontra, o filme-peça vai, então, começar.

E vai ser ali, naquele único cenário com pouca luz, naquele huit clos que parece tanto agradar a Polanski, que o filme todo vai se desenvolver. Em uma única noite.

Vanda, a atriz quarentona extremamente vulgar, mascando chiclete, cuspindo gíria a cada frase que solta, está muito longe do que vislumbrava Thomas para sua personagem. No entanto, ela vai insistir em fazer o teste. Ele não quer deixa-la, mas ela vai pouco a pouco envolvendo-o em sua teia, até que, sem que ele mesmo perceba, acabe diante da atriz encenando sua peça.

Acontece que quando Vanda-a-atriz, encarna Wanda-a-personagem, ela se transforma. A mulher vulgar cede lugar a uma lady refinada e culta. A linguagem muda, a postura muda e o tom de voz também. E, para a surpresa de Thomas, a atriz decadente conhece o texto de cor, sabe todas as falas com segurança, e ainda traz um figurino adequado em sua bolsa… fora outras surpresas que prefiro não revelar. Thomas fica extasiado e cai em sua armadilha.

A partir daí, veremos um verdadeiro jogo de sedução e poder entre mulher e homem, entre atriz e diretor, em que as falas da peça se confundem com as falas do filme, num mise en abyme alucinante. Quem comanda quem? Que é o verdadeiro submisso? Quem escreve “a história”? Quem é o algoz e quem é a vítima? Existe, aliás, um algoz e uma vítima nesse tipo de relacionamento ?

Essas e outras questões estão presentes em cada linha de texto falado por essas duas estrelas que compõem o novo filme de Polanski, Emmanuelle Seigner et Mathieu Amalric. Duas excelentes atuações que seguram o filme do começo ao fim, sem nos deixar cair no tédio nem só por um instante. Uma hora e trinta e cinco minutos carregados de sensualidade, malícia e erotismo, sem precisar recorrer em nenhum momento ao vulgar para nos seduzir. Brilhante!

Thomas pode até mesmo ser o alter-ego do diretor franco-polonês, sua voz podendo ser ouvida em algumas falas do personagem, como naquela que questiona a razão pela qual as pessoas, hoje em dia, teimam em achar uma explicação moral para todas as situações do mundo. Sem falar que, Polanski ainda escolheu sua própria esposa para interpretar Vanda/Wanda. Aliás, um presente e uma bela homenagem à sua amada, já que é ela quem comanda a cena, esbaldando sensualidade, charme, inteligência e beleza.

Bravo, Polanski! Os ares suíços estão te fazendo bem!

E como disse anteriormente, em meu texto sobre Carnage, deixemos o homem de lado e concentremo-nos no artista! Pelo menos aqui, neste espaço de reflexões cinematográficas!

Um filme PRA PENSAR.

Blue Jasmine (2013)

•novembro 9, 2013 • 1 Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Blue Jasmine   bluejasmine_home

Origem. EUA

Diretor: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen

Com: Cate Blanchett, Allec Baldwin, Sally Hawkins, Bobby Cannavale, Michael Stuhlbarg

Depois de alguns anos passeando pela Europa – Vicky Cristina Barcelona (2008), Meia-Noite em Paris (2011), Para Roma com Amor (2012) – e adotando um etilo mais leve que de costume, eis que Woody Allen está de retorno a sua Nova Iorque natal e à radiografia social americana que sempre lhe foi tão característica.

Desta vez a trama de seu filme tem como pano de fundo a fraude financeira – numa referência quase explícita ao caso Madoff, ocorrido há alguns anos em NY – para, em seguida, explorar outras facetas deste mesmo tema: mentira social, pessoal, psicológica, etc. Pessoas que enganam os outros, que se enganam, que acreditam em suas mentiras ou que fingem acreditar…

Com um elenco de primeira grandeza e um roteiro super enxuto e preciso, o filme conta a história de Jasmine (Cate Blanchett), socialite nova-iorquina, quarentona, milionária, chique e linda, que, de um dia para o outro se vê na rua, sem dinheiro, sem seu marido milionário Hal (Alec Baldwin), com uma mão na frente outra atrás.  O governo lhe tomou cada vintém que tinha. Tudo o que lhe resta são suas malas Louis Vuitton, sua soberba, seus antidepressivos e sua determinação em sair daquela situação de pobreza.

Para isso, ela vai buscar abrigo na casa de sua irmã Ginger (Sally Hawkins), que mora em São Francisco, e leva uma vida completamente diferente da sua. Ginger nunca teve marido rico, cria dois filhos sozinha, trabalhando como caixa de supermercado, mora em um apartamento pequeno sem nenhum requinte, e encontra prazer nas coisas simples da vida. Namora Chili (Bobby Cannavale), um brutamontes tatuado, por quem Jasmine tem uma automática antipatia.

O choque entre os dois mundos é enorme. E esse contraste se faz presente em cada detalhe do filme, desde o visual das duas irmãs – Jasmine, alta, loira e chique; e Ginger, baixinha, morena e vulgar -, até a forma de narração escolhida para a história, com seus inúmeros flashbacks que colocam lado a lado os dois universos tão díspares.

E é, aliás, por meio desses flashbacks que o diretor vai, pouco a pouco, revelando-nos a realidade do passado de Jasmine.

Woody Allen faz, com este seu último filme, um retorno ao estilo que lhe deu fama: tragicômico, intelectualizado, de humor amargo, com atores falando sozinhos, olhando direto para câmera como se estivessem em um palco de teatro. A diferença é que, desta vez, tudo ganha um ar mais leve,  uma forma mais suave, mais acertada, mais madura. Num estilo talvez antes só visto em seu brilhante Match Point (2005).

E para completar, desta feita, Woody Allen tem um novo trunfo. E não é pequeno. Refiro-me aqui a Cate Blanchett. Uma atriz já consagrada, por certo, e que eleva a obra de Allen a um outro patamar. Sua atuação é absolutamente irretocável e brilhante, sendo a precisão de seu gestual e de seu olhar a responsável por grande parte do sucesso do filme.  Na pele da neurótica e depressiva Jasmine (ou Jeannette, seu verdadeiro nome), Blanchett é capaz de nos conduzir por estágios diversos de seus sentimentos, percorrendo seu labirinto de sofrimentos, angústias e delírios. Sempre com pitadas de um humor triste, amargo e melancólico, reflexo de alguém que não conseguiu enfim convencer-se de sua própria fantasiada felicidade.

Com Blue Jasmine, o bom e velho Woody Allen está de volta, desta vez mais maduro e menos complicado! Viva!

PS. Para os amantes da moda e da elegância, Cate Blanchett está imperdível! 

Um filme PRA PENSAR e PRA SE DISTRAIR.

 

 

Capitães da Areia (2011)

•novembro 6, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Capitães da Areia

Origem: Brasil  Carrossel_Capitaes

Direção: Cecília Amado e Guy Gonçalves

Roteiro: Cecília Amado, Hilton Lacerda e Jorge Amado (livro)

Com: Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Israel Gouveia, Jordan Mateus

 

Jorge Amado deve ter organizado uma bela festa no céu, para celebrar a adaptação extremamente sensível de seu livro de juventude, realizada por sua neta Cecília Amado.

O filme é bonito, sensível, poético, crítico e gostoso de ver!

Capitães da Areia de Cecília flui com a mesma facilidade que flui o Capitães da Areia de seu avô Jorge. O ritmo do filme é bom, embalado pela trilha original assinada por Carlinhos Brown. Os planos são bem pensados, bem compostos e harmoniosos. Alguns talvez “posados”  ao extremo, beirando à teatralidade, mas ainda assim, belos.

Para quem não conhece, o livro / o filme conta a história de um grupo de meninos de rua, que, unidos pelo abandono, compartilham o mesmo “teto” (um trapiche caindo aos pedaços), os mesmos medos, as mesmas angústias e as mesmas dificuldades. Falta-lhes quase tudo: família, amor, comida e os meios básicos para sobreviver. Só o que têm é um ao outro. Assim, seguem lutando contra as adversidades da maneira que a vida lhes ensinou: roubando, trapaceando, cometendo pequenos delitos aqui e ali, e fugindo e se escondendo sempre. São foras da lei ou “heróis sem caráter”, como era também Macunaíma, famoso personagem criado por Mário de Andrade no fim dos anos 1920. Mas, antes de mais nada, são vítimas de um sistema defeituoso, vítimas do abandono. Vítimas de um país incapaz de garantir os direitos básicos aos seus cidadãos.

Interessante perceber toda a crítica social e política feita por um Jorge Amado ainda tão jovem – ele tinha 25 anos quando publicou o livro –, numa época de grande repressão política, social e cultural no Brasil. O livro foi publicado em 1937, e já foi logo perseguido, tendo tido vários exemplares queimados em praça pública.

Para os que leram o livro na juventude, o filme é uma bela maneira de recordar as sensações proporcionadas pela obra de Jorge Amado. Dá uma vontade danada de percorrer aquela estante empoeirada, pegar o livro e mergulhar novamente no universo dos meninos Capitães da Areia. Certamente será uma leitura diferente, desta vez com um olhar mais adulto sobre um tema juvenil (nem tanto) infelizmente ainda tão atual em nosso país e em outros cantos do globo.

Livro e filme absolutamente recomendados!

Para ler este texto na íntegra, vá até o blog do CEBRAC, http://blogdocebrac-acervo.blogspot.ch/

Gravidade (2013)

•outubro 27, 2013 • 3 Comments

Veja o trailer aqui!

Título original: Gravity  gravity-movie

Origem: EUA

Diretor: Alfonso Cuarón

Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonas Cuarón,

Com: Sandra Bullock, George Clooney,

Ao perguntar a um amigo americano sua opinião sobre Gravidade, o último filme de Alfonso Cuarón, sua resposta foi curta e simples: “Wow!”

Em princípio, achei curioso seu comentário, mas, hoje, após assistir ao filme, entendo perfeitamente sua interjeição.

Gravidade é de fato um filme WOW!

Um filme que revoluciona a questão espacial, que tira-nos completamente do eixo. Não estamos mais na vertical, nem na horizontal… a câmara mexe o tempo todo, gira de um lado para o outro, de cima para baixo, de baixo para cima, deixa-nos meio zonzos… Os atores tampouco estão na posição em que estamos acostumados a vê-los. Estão de cabeça pra baixo, de lado, de costas, de frente… os objetos voam, flutuam, não têm um lugar certo. Tudo parece fora de órbita.

O uso exaustivo de closes, associado à técnica do 3D, aproxima-nos ainda mais dos personagens. Estamos grudados neles, estamos no espaço com Sandra Bullock e George Clooney. A sensação é quase de estarmos em um daqueles simuladores da Disney. Nosso coração bate forte, nossa respiração passa de ofegante a quase ausente numa fração de segundos. Tudo é intenso!

A trama em si, porém, é bem simples. A equipe composta pela doutora Ryan Stone (Sandra Bullock) , Matt Kowalski (George Clooney) e Shariff (Phaldut Sharma), tem como missão consertar uma peça em pane na estação espacial norte-americana. Tudo parece caminhar (ou flutuar) bem, até que eles são avisados de que devem abortar a missão, em função de uma tempestade de escombros, provocada por um míssil russo que se chocou com um satélite. A calmaria e a paz da solidão do espaço são então substituídos pela agitação de uma catástrofe. Dra. Stone e Matt Kowalski ficam então perdidos, à deriva, soltos no espaço.  A partir daí tem-se início a uma luta frenética pela sobrevivência, numa montagem bem ritmada, capaz de prender-nos do início ao fim, mesmo com o elenco bem minimalista.

George Clooney e Sandra Bullock são os personagens principais e praticamente os únicos atores do filme. Fora uma ou outra voz (vindas via computador), o show é todo por conta deles. Nem Houston se faz tão presente nesta saga espacial norte-americana. E os dois conseguem segurar bem o filme. Sobretudo, Sandra Bullock, que leva, sozinha, uma boa parte de Gravidade.

Interessante notar que o filme não nos apresenta nunca o que está acontecendo do outro lado do mundo, ou melhor, do lado da Terra. Estamos o tempo todo no espaço, junto com os únicos-atores-principais. Cuarón optou, assim, pela simplicidade, dispensando flash-backs, flash-fowards, grandes elipses ou qualquer outros figuras de narração. O filme todo se passa ali no espaço, seguindo a linearidade do tempo. Não temos, portanto, escolha, nem escapatória. Temos que viver a experiência com eles, temos que sofrer com eles, nossos corpos presos nas cadeiras de cinema, enquanto nossas mentes vagueiam pelo universo. Sem refresco!

Nossa visão é também constantemente interpelada pela beleza escandalosa do cenário. A terra está bem diante de nossos olhos, linda, colossal, assustadora, sublime! A 3D é muito bem usada, ajudando-nos a adentrar o universo sideral.  A sequência em que a Dra. Stone “dança” no espaço com um extintor de incêndios é uma homenagem explícita ao robô Wall-E, em sua dança espacial com EVA.

A audição também é convidada a participar da experiência, por meio de um trabalho de som irrepreensível. A alternância entre barulhos altíssimos e silêncios totais mexem com nossos sentimentos e com nosso cérebro que tenta se acostumar com as mudanças de paradigma que o filme propõe.

E por falar em quebras de paradigmas, vale ressaltar a participação da China no roteiro deste filme norte-americano. Estávamos tão acostumados a ver sempre a Rússia como grande concorrente dos EUA na corrida espacial – e ela continua lá, obviamente – mas agora, a grande potência China também se faz presente e tem papel fundamental no filme. Ela é o quesito apaziguador, quer seja por meio da figura de um buda no “console” da nave, ou ainda pela canção de ninar cantada via rádio…

Para não me alongar demais, e para não dizer que o filme beira a perfeição, a penúltima sequência de Gravidade é, ao meu ver, totalmente dispensável. Uma angústia desnecessária e exagerada.

Fora isso, Gravidade é sim um grande filme, além, de ser uma experiência sensorial de primeiro porte.

Um filme PRA SE ANGUSTIAR e PRA SE ENCANTAR.

Conselho: Assista a esse filme no cinema, em 3D, se possível num Imax. Vale cada centavo gasto!

La Vie d’Adèle – chapitre 1 & 2 (2013)

•outubro 20, 2013 • 9 Comments

Veja o trailer aqui!

Título original: La Vie d’Adèle  La-Vie-Adele-poster-2

Origem: França

Diretor: Abdellatif Kechiche

Roteiro: Julie Maroh, Abdellatif Kechiche

Com: Léa Seydoux, Adèle  Exarchopoulos, Salim Kechiouche

De volta aos filmes de arte ou de autor, o assunto de hoje é o vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2013: La Vie d’Adèle.

Mas confesso que estou até agora tentando entender o porquê deste filme ter recebido o maior prêmio do cinema francês neste ano. Talvez, ao escrever, consiga ir decifrando junto com vocês este mistério.

O filme é longo demais, démaquillé demais, explícito demais e não tão profundo quanto deveria, deixando questões fundamentais de lado.

Baseado na BD* francesa Le Bleu est une Couleur Chaude, de Julie Maroh, o filme conta a vida de Adèle (Adèle Exarchopoulos) – uma menina comum da classe média francesa – desde sua adolescência, ainda frequentando o Lycée, até sua vida de adulta, como professora de ensino fundamental.  Neste percurso, por meio de elipses não muito bem marcadas, vamos vendo as transformações e descobertas da protagonista.

Da adolescente que atrai os meninos bonitinhos da escola, até a descoberta do amor verdadeiro na figura de Emma (Léa Seydoux) – uma moça de cabelos azuis, um pouco mais velha do que ela, estudante de Belas-Artes – Adèle vai, pouco a pouco, descobrindo sua sexualidade, e adentrando um mundo azul, bem representado no filme, por meio dos vários objetos azuis presentes em praticamente todas as cenas.

No entanto, nada é muito desenvolvido até o fim. Nada é aprofundado. Nunca sentimos que adentramos em sua alma verdadeiramente. Muitos assuntos são deixados em aberto. No início do filme, por exemplo, vemos sua dificuldade de assumir sua homossexualidade ao ser chamada de lésbica na porta da escola. Ela nega, mas mesmo assim continua se encontrando com Emma. Em seguida, já vemos as duas juntas, mantendo um relacionamento fixo, mas nunca mais a vemos naquele contexto escolar. Nunca mais a vemos tendo que enfrentar o preconceito dos colegas de sala. E ficamos sem saber como ela superou tudo aquilo.

Nessa fase adolescente, há também a sequência em que Adèle é apresentada aos pais de Emma, dois artistas, intelectuais, que aprovam a escolha da filha. Em seguida, vemos o mesmo acontecer na casa de Adèle. Num décor bem mais simples, os pais da menina, recebem Emma como a professora de filosofia da filha. É assim que Adèle resolve apresentar Emma.

Fica claro ali que os pais ignoram a homossexualidade da filha e que ela, Adèle, não tem coragem de assumir sua condição. Mas isso nunca é abertamente discutido. Ela nunca conversa com sua companheira sobre suas dúvidas, angústias ou sofrimentos. Os pais nunca questionam a filha, não acham estranho seu comportamento…

Nessas duas sequências, aliás, o contraste é enorme, e fica evidente a diferença social e cultural entre as duas meninas. No primeiro caso, o casal intelectual serve ostras e um excelente vinho para as duas. A conversa gira em torno de cursos universitários, caminhos profissionais, mas sempre com muito respeito pelas escolhas tomadas. No segundo caso, o casal de trabalhadores, oferece spaghetti à bolognesa, também acompanhado de vinho. O ambiente é bem menos sofisticado e o discurso bem mais pragmático: é preciso trabalhar para ganhar dinheiro. E a arte nem sempre é capaz de assegurar o pão de cada dia.

De repente, damos um salto no tempo, e Adèle já terminou a escola e está morando com Emma. Ela agora é professora de crianças pequenas. Não vemos suas angústias, nem seus confrontos com o preconceito. Tudo acontece hors champ, tudo passa batido. No entanto, em uma briga entre as duas, Adèle confessa não ter tido coragem de contar na escola onde trabalha, que ela mora com uma mulher.

Percebemos, então, que o tempo passou e Adèle ainda não se sente totalmente segura de sua escolha, embora esteja convencida de que ame Emma. Ou, pelo menos, não conseguiu ainda juntar forças para enfrentar de cabeça erguida o preconceito da sociedade francesa. Adèle é, assim, uma pessoa dividida, que, na escola, assume um papel e, no mundo artístico de Emma, assume outro. Mas nós, do lado de cá da tela, só a vemos em um mundo ou em outro. Jamais no limbo… jamais penetramos seu mundo espiritual, jamais entramos em seu sofrimento.

Parece clara, então, a escolha do diretor pela exibição, pela exteriorização, deixando de lado a introspecção. Ou, ao contrário, a exibição para justamente não ter que tocar na ferida do drama interior.

As cenas de sexo – que são muitas – são explícitas, cruas, nuas são bons exemplos disso. A sequência da primeira relação sexual é tão longa (7 minutos ou mais) que causa desconforto. É tudo tão claro, limpo e natural (sem nuances de luz), que chega a ser grotesco. Composta por muitos closes, que se intercalam com planos médios, vemos todas as partes dos corpos das atrizes. Aliás, o close é a grande ferramenta deste filme. Vemos suas peles como se estivéssemos com lupas diante de nossos olhos, vemos suas bocas, pernas, bumbuns, pescoços, tudo. Tudo está ali tão próximo de nós e por tanto tempo que incomoda.  Na sala de cinema em que estava, pude ouvir pessoas rindo depois de um certo tempo. Provavelmente incomodadas pelo excesso, pela crueza e pela proximidade das cenas, que de tão “reais” acabam por tornarem-se cômicas. E não acredito que seja porque se trata de um casal homossexual não. Um casal heterossexual provavelmente causaria o mesmo desconforto.

Mas a verdade é que Kechiche gosta mesmo de expor o corpo feminino de forma grotesca, sem maquiagens, sem sombras nem meias-luzes. Faz parte de sua poética. Em Vênus Negra (2010), lembro-me de ter tido essa mesma sensação de desconforto diante de algumas cenas de exibição corporal excessiva. Como estava assistindo ao filme em casa, não tive dúvida, peguei o controle remoto e acelerei… Desta vez não tive escolha!

Ainda dentro do modo “exibição” / “exteriorização”, Kechiche optou por trabalhar com atrizes não maquiadas e não penteadas. Deixou-as em seus modos naturais, sem disfarces, sem esconderijos, para que pudessem dar seu melhor, sem máscaras para as protegerem. O resultado foi bom, pois a atuação das duas é excelente. Aliás, o ponto alto do filme.

No entanto, Julie Maroh, a autora da BD e homossexual assumida, criticou a atuação das duas durante as cenas de sexo, argumentando que não sabe quem orientou as moças, mas que o diretor deveria ter escolhido atrizes lésbicas a fim de que as cenas fossem mais verossímeis. Segundo ela, tudo ficou tão falso e feio que beira o pornô.

Mas talvez tenha sido justamente esta opção pelo “exterior”, pela falta de máscara ou subterfúgios, que tenha dado à La Vie d’Adèle a Palma de Ouro. Para mim, ainda faltou algo. Faltou informação (e olha que o filme dura três horas), faltou sentimento e, sobretudo, faltou encanto.

Um filme PRA PENSAR.

*BD (bande dessinée), revista em quadrinhos, comics.

Elle S’En Va (2013)

•outubro 20, 2013 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Elle S’En Va  elle s'en va affiche

Origem: França

Diretora: Emmanuelle Bercot

Roteiro: Emmanuelle Bercot

Com: Catherine Deneuve, Nemo Schiffman, Gérard Garouste

Catherine Deneuve nos dá as costas. Plano fechado na nuca da atriz. Seus cabelos dourados, dançando ao vento, dão a cor do filme. Ela caminha e se distancia de nós, espectadores. Elle s’en va!

CATHERINE DENEUVE, seu nome aparece na tela em letras garrafais de cor amarela. Ela é o filme. O filme é pra ela!

Emmanuelle Bercot – diretora do sketch mais interessante de Os infiéis (2012), além dos filmes Clément (2001) e Backstage (2005) – não desmente: o filme foi de fato feito para a eterna Belle du Jour.

Trata-se de um road-movie (falei sobre esse gênero no post do dia 18/9), em que Betty, uma sessentona (ou setentona), depois de se saber largada por seu amante, resolve partir em fuga rumo à liberdade. Talvez liberdade não seja bem a palavra. Na verdade, o que Betty procura é um pouco de ar puro para respirar. Ela se sente sufocada por aquela vida já tão sem razão de ser. Ela sai, então, sem rumo, dirigindo sua velha Mercedes dourada, em busca de um cigarro ou de um não sei o quê que dê novamente sentido à sua vida de mulher madura.

No caminho, ela vai cruzar com as mais variadas figuras. Desde um velhinho camponês simples, que vai lhe enrolar um cigarro à moda antiga até um homem que ganhou um concurso reproduzindo sons de animais. A cena do velhinho é particularmente interessante.  Num ritmo super lento, vemos os dedos inchados do velho em close. Com suas unhas sujas, ele vai enrolando com dificuldade e muuuuita lentidão o cigarro de palha para Betty. A cena contrasta com a agonia e a angústia vividas pela “fugitiva”. Nós, espectadores, também nos sentimos incomodados e agoniados com tamanha lentidão. Não estamos mais acostumados à calmaria da vida simples. E nos incomoda a falta de destreza daqueles dedos gordos e sujos do velho.

Viúva, morando ainda com a mãe, com quem divide o trabalho no restaurante (negócio próprio) em uma cidadezinha perdida na Bretagne, Betty nunca cultivou um bom relacionamento com a única filha que tem, Muriel. Porém, durante sua “fuga”, ela recebe uma ligação da filha, pedindo-lhe um favor: levar o neto Charly (Nemo Schiffman) – com quem ela também tem pouquíssimo contato – até o avô paterno, para que o o menino fique por lá uma semana, enquanto ela tenta arrumar um novo emprego.

A partir daí, todos ingredientes para um bom road-movie estão aí alinhados.

Elle s’en va é um filme de autor, como se convencionou chamar aqueles filmes que não atendem aos padrões estéticos hollywoodianos e que trazem, ao invés, a marca de seus autores. Tomadas feitas com a câmera na mão, uso e abuso de closes, deixando rugas, manchas e marcas da velhice em evidência, zoons abruptos, movimentos laterais maladroits, imagens fora de foco e mais uma porção de quebras nos códigos do cinema dito de transparência estão na paleta de cores de Emmanuelle Bercot.  Há também um uso recorrente da imagem de Deneuve de costas, dentro do mesmo princípio da cena do início. Ele funciona como um tipo de pontuação, fazendo transições espaciais e temporais na história.

O filme parece, assim, dedicar-se a exibir a decadência. Não somente a decadência física, mas também a financeira,  política, intelectual, pessoal. Não que Catherine Deneuve seja o símbolo desta decadência. Longe disso! Ela continua em forma, trabalhando, dando entrevistas, sendo admirada e respeitada. Mas ela, como todos os outros mortais, também envelheceu. Ela já não tem mais aquela pele que tinha, o corpo de Miss que tinha, nem as mãos lisinhas, esticadas e sem manchas do passado. E isso está no filme. Bercot não hesita em nenhum segundo em expor a Deneuve de hoje em toda a sua plenitude. Pelos closes, vemos suas mãos manchadas de senhora, seu rosto trabalhado pelas rugas, pelo botox, pela plástica ou seja lá por qual outro artifício contra o tempo que ela vem usando. O próprio carro que Betty (Catherine Deneuve) dirige é também uma estrela “decadente”. Uma Mercedes dourada antiga. Um carro que certamente teve seus dias de glória e que hoje denota um tempo que já foi. Um sucesso que já não existe mais!

Mas talvez esteja justamente aí o mais belo do filme. O de ter a coragem de exibir a realidade da vida, a “decadência” do corpo, da imagem, ou do papel que se ocupa na sociedade, para, em seguida, mostrar que ainda assim há um sentido em se continuar andando. Que a vida vale a pena em qualquer fase!

A trilha sonora é curiosa, com as letras das músicas se encaixando perfeitamente com a cena exibida. Uma atitude meio kitsch, meio passada, démodé, “decadente” (?).  Mas tudo combina. Tudo faz sentido.

Há, no entanto, alguns deslizes. Erros bobos, como o excesso de merchandising (o primeiro da Nivea é horroroso), ou um não tão bobo assim, como um final muito facilmente resolvido. Mesmo assim, Elle s’en va é bom. E Catherine Deneuve é, sem dúvida, a grande estrela da festa. Ela está inteira no filme. Verdadeira, natural, simples, sem glamour, linda e, em hipótese alguma, decadente.

Um filme PRA PENSAR.

O Ataque (2013)

•outubro 13, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: White House Down

Origem: EUA

Diretor: Roland Emmerich

Com: Channing Tatun, Jamie Foxx, Maggie Gyllenhaal, Joey King

Totally American! Só que feito por um alemão!  MV5BMTAyNzQyNTcwNjVeQTJeQWpwZ15BbWU3MDAwOTQ4Nzk@._V1._SX640_SY946_

Depois de tanto escrever sobre filmes franceses ou canadenses, filmes “de arte”, de autor, ou, simplesmente, sobre os famosos filmes-cabeça, que tanto agradam a uns e tanto desagradam a outros, hoje,  mudo radicalmente de registro, e vou falar de um blockbuster americano da atualidade: O Ataque.

 Impossível ser mais americano.

Já pelo nome de seu diretor – que é, por sinal, alemão –  dá para saber o que esperar do filme. Roland Emmerich é também o “pai” dos não menos blockbusters Independence Day (1996), O Dia Depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009).

Sem grandes novidades, O Ataque segue a mesma receita: Muito barulho, muita ação, muito efeito especial, algumas cenas sentimentais, heróis invencíveis, salpicadas de piadinhas aqui e ali e sempre uma lição de moral no final.

Dá para ver que o “carinha” gosta mesmo da “América” e do gênero filme-catástrofe.

Desta feita, Emmerich parece decidido a prestar homenagem explícita a Barack Obama, colocando no papel de presidente dos EUA, o ator Jamie Foxx, que exerce seu segundo mandato, sempre levantando a bandeira de paz e da não repetição dos erros do passado.

A trama se passa em dois dias apenas, quando a Casa Branca sofre um atentado, colocando em risco não só a vida do presidente da República e de vários de seus altos funcionários, mas também colocando em cheque a paz mundial.

Com uma certa visão irônica dos protocolos, autoridades e rituais americanos, além de um quê de crítica à segurança da Casa Branca, o filme põe os EUA no centro do mundo. Até aqui nenhuma novidade, certo?

O ritmo é bom, a trilha excelente, e o filme consegue manter-nos ligados do começo ao fim. Tudo vai bem – dentro do esperado para um filme-catástrofe-hollywoodiano – até que Emmerich erra na medida e, nos últimos minutos, impõe-nos uma sequência pra lá de piegas e ufanista que, infelizmente, não posso contar aqui, para não estragar o efeito-surpresa (?).

Menos, diretor, menos!

Ainda assim, o filme é divertido e bem feito. Bom para aqueles que apreciam filmes de ação, recheados de efeitos especiais. O alerta vermelho vai, porém, para um final bem piegas e nada original.

Cinesporte

•outubro 10, 2013 • Leave a Comment

Atendendo aos pedidos de meus filhos atletas (que, felizmente, em nada puxaram à mãe) inauguro hoje uma seção dedicada ao esporte.

 É a CINESPORTE.

Isso mesmo. Uma seção inteiramente dedicada a filmes cuja temática gira em torno de esportes diversos (futebol, hockey, rugby, baseball, etc.), sempre no espírito eclético que rege este site.

Assim, nada de preconceito de gêneros, nacionalidades, épocas, tamanhos, nem cor. Filmes brasileiros, americanos, franceses, canadenses, coloridos, preto e branco, longos, curtos, novos, antigos, etc. Vale tudo!

A subdivisão desta vez será feita por esporte. Assim, você pode escolher facilmente o filme relacionado ao seu esporte preferido.

Por enquanto, as listas ainda estão curtas. Mas, com o tempo e com sua ajuda, vou aumentando-as pouco a pouco.

Espero que gostem!

E para abrir com “chave de ouro”, gostaria de indicar o filme brasileiro Garrincha, alegria do povo (1962), de Joaquim Pedro de Andrade. garrincha_a_alegria_do_povo_1963_dvd_g

O filme faz parte do controverso período de nascimento do Cinema Novo, um dos maiores, e porque não dizer, o maior movimento cinematográfico brasileiro.

Adotando um estilo de cinema-verdade, em voga na época, mas sem deixar de acrescentar um certo tom sentimental, Joaquim Pedro construiu seu filme com imagens de arquivo dos jogos e da vida do nosso saudoso Mané Garrincha.  Pouca narração, muitas imagens (fixas e em movimento) e um show de bola de filme!

Para os que não tiveram o privilégio de assistir aos jogos de Garrincha no passado, está aí uma maneira de voltar no tempo e se deixar encantar pelos dribles burlescos que aquelas pernas tortas tanto sabiam construir. Para os que viram os jogos, uma maneira de matar a saudade do antigo futebol. Menos glamoroso, mas tão cheio de criatividade e de paixão. Muito interessante notar a diferença entre a vida que levava um jogador de futebol naquela época e a que levam os jogadores-milionários de hoje. Sem falar na emoção que é ver a estreia de Pelé na seleção. Imagens que valem ouro e que são uma parte bonita de nossa história.

Veja o filme aqui!

Gabrielle (2013)

•setembro 29, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Gabrielle   gabrielle_France

Origem: Canadá

Diretora: Louise Archambault

Roteiro: Louise Archambault

Com: Gabrielle Marion Rivard, Alexandre Landry, Mélissa Désormeaux-Poulin

Uma história de amor inocente, descomplicada e linda! Um filme absolutamente sensível, intimista, inspirador, poético!

A cada dia que passa mais me encanta e impressiona a sensibilidade dos québécois – esses canadenses de “francês engraçado” (perdoem-me, não é uma crítica!) – e a capacidade que eles têm de, de maneira direta e descomplicada, realizar filmes tão plenos de poesia.  Chapeau!

Gabrielle, segundo longa metragem da realizadora Louise Archambault, vem encantando plateias do mundo inteiro, já tendo arrebatado o prêmio de melhor filme pelo público (Prix du public) do Festival de Locarno, aqui na Suíça.

Gabrielle, o filme, conta a história de Gabrielle, a personagem, uma jovem de vinte e poucos anos, portadora da Síndrome de Williams, que busca a todo custo provar sua autonomia a fim de conquistar sua independência. Interpretada de forma iluminada por Gabrielle (Marion Rivard), a atriz, ela também portadora da tal síndrome, a jovem sorridente mora em um centro de apoio, junto com outros jovens também portadores de deficiências intelectuais. Lá, cercada de cuidados e de carinho (interessante notar a maneira positiva com que a diretora apresenta os cuidadores da instituição), Gabrielle leva uma vida “normal”: trabalha, nada, passeia e faz parte de um coral, sua grande paixão.

A música, aliás, tem um papel fundamental no filme, sendo um meio de integração e de válvula de escape. É por meio da música que Gabrielle e seus companheiros de coral se libertam, espantam seus fantasmas, e se tornam “normais” para os olhos da sociedade.

E vai ser exatamente nesse ambiente musical que Gabrielle vai descobrir uma nova paixão: Martin (magnificamente interpretado por Alexandre Landry). Um jovem também portador da síndrome de Williams, corista principal do grupo, mas que não vive no centro de apoio. Ele mora com a mãe, que o enche de mimos, cuidados e de proteção.  Os dois jovens vão pouco a pouco se descobrindo, se tocando, se apaixonando até não mais conseguirem se conter de desejo e serem repreendidos pelos adultos “responsáveis”.

A escolha estética para o filme é acertadíssima. Num clima intimista, a “câmera na mão” segue os personagens, em grandes closes que nos levam quase a tocá-los. Sentimos suas peles, tocamos seus rostos, participamos de suas experiências sensoriais, de seus silêncios, de suas crises, de suas alegrias. Por muitas vezes as imagens ficam fora de foco, estouram em uma luz intensa, acompanhadas por música alta ou por um silêncio perturbador, desnorteando nossa visão, nossa audição e outros de nossos sentidos. O trabalho de som é, aliás, particularmente bom.

E nesse quesito, vale aqui um PS: Como parte do processo de integração dos jovens “deficientes”, o filme nos apresenta o coral se preparando para uma apresentação em público ao lado do respeitado cantor canadense Robert Charlebois. Com participação especial no filme, o cantor nos regala com algumas de suas mais belas músicas, como a famosa “Ordinaire”, de 1971, que, diga-se de passagem, tem tudo a ver com o tema do filme. Lindo, lindo!

Mas, não se enganem, o filme não é um conto de fadas e nem tudo são flores na vida de Gabrielle e de Martin. Louise Archambault, sem nunca perder o tom doce e encantador,  mostra-nos também o lado realista da vida dos portadores de deficiências, defendendo a ideia de que eles podem sim levar uma vida normal, mas na maioria dos casos, precisam de um certo apoio, de uma certa estrutura para que possam ter essa independência.

Pelo pouco que li sobre a Síndrome de Williams, parece-me que seus portadores são pessoas extremamente sociáveis e de fácil sorriso. E Gabrielle, a atriz, de fato nos transmite essa alegria, por meio de uma interpretação luminosa, mostrando-nos uma Gabrielle, personagem, cheia de vida e de vontade de aproveitar cada minuto de sua existência.

Gabrielle é, assim, uma história de amor.  Mas, mais do que isso, é uma história de luta pela independência, pela inclusão social e pelo direito a uma vida “normal” e digna.

Um filme poético, lindo, PRA SE ENCANTAR.

 
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