Capitães da Areia (2011)
Direção: Cecília Amado e Guy Gonçalves
Roteiro: Cecília Amado, Hilton Lacerda e Jorge Amado (livro)
Com: Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Israel Gouveia, Jordan Mateus
Jorge Amado deve ter organizado uma bela festa no céu, para celebrar a adaptação extremamente sensível de seu livro de juventude, realizada por sua neta Cecília Amado.
O filme é bonito, sensível, poético, crítico e gostoso de ver!
O Capitães da Areia de Cecília flui com a mesma facilidade que flui o Capitães da Areia de seu avô Jorge. O ritmo do filme é bom, embalado pela trilha original assinada por Carlinhos Brown. Os planos são bem pensados, bem compostos e harmoniosos. Alguns talvez “posados” ao extremo, beirando à teatralidade, mas ainda assim, belos.
Para quem não conhece, o livro / o filme conta a história de um grupo de meninos de rua, que, unidos pelo abandono, compartilham o mesmo “teto” (um trapiche caindo aos pedaços), os mesmos medos, as mesmas angústias e as mesmas dificuldades. Falta-lhes quase tudo: família, amor, comida e os meios básicos para sobreviver. Só o que têm é um ao outro. Assim, seguem lutando contra as adversidades da maneira que a vida lhes ensinou: roubando, trapaceando, cometendo pequenos delitos aqui e ali, e fugindo e se escondendo sempre. São foras da lei ou “heróis sem caráter”, como era também Macunaíma, famoso personagem criado por Mário de Andrade no fim dos anos 1920. Mas, antes de mais nada, são vítimas de um sistema defeituoso, vítimas do abandono. Vítimas de um país incapaz de garantir os direitos básicos aos seus cidadãos.
Interessante perceber toda a crítica social e política feita por um Jorge Amado ainda tão jovem – ele tinha 25 anos quando publicou o livro –, numa época de grande repressão política, social e cultural no Brasil. O livro foi publicado em 1937, e já foi logo perseguido, tendo tido vários exemplares queimados em praça pública.
Para os que leram o livro na juventude, o filme é uma bela maneira de recordar as sensações proporcionadas pela obra de Jorge Amado. Dá uma vontade danada de percorrer aquela estante empoeirada, pegar o livro e mergulhar novamente no universo dos meninos Capitães da Areia. Certamente será uma leitura diferente, desta vez com um olhar mais adulto sobre um tema juvenil (nem tanto) infelizmente ainda tão atual em nosso país e em outros cantos do globo.
Livro e filme absolutamente recomendados!
Para ler este texto na íntegra, vá até o blog do CEBRAC, http://blogdocebrac-acervo.blogspot.ch/