A Filha do Pai (2011)

•janeiro 13, 2013 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer!

Título original: La Fille du Puisatier    7674499087_la-fille-du-puisatier

Origem: França

Diretor: Daniel Auteuil

Roteiro: Daniel Auteuil (da obra original de Marcel Pagnol)

Com: Daniel Auteuil, Sabine Azéma, Kad Merad, Astrid Berges-Frisbey, Nicolas Duvauchelle

Singelo, puro, bucólico e belo!

O filme de estreia de Daniel Auteuil como diretor é banhado de sol, de uma luz tão intensa que faz lembrar aquela luz que tanto procuravam os pintores impressionistas. A sequência inicial, aliás, parece saída de uma exposição expressionista, com quadros de paisagens ensolaradas, com a linha do horizonte ocupando o alto da tela. Um verdadeiro colírio para os olhos!

Trata-se na verdade de um remake do filme de Marcel Pagnol*, lançado em 1940 e estrelado por Raimu, no papel do pai / puisatier, e pelo grande ator cômico francês Fernandel (na versão atual, substituído por Kad Merad).

O filme conta a história de Patricia (Astrid Berges-Frisbey) – uma jovem que acaba de completar seus 18 anos, filha de Pascal Amoretti (interpretado divinamente pelo próprio Daniel Auteuil), um simples puisatier (um cavador / desentupidor de poços) – e de sua paixão arrebatadora por Jacques (Nicolas Duvauchelle), piloto, filho de um homem abastado, comerciante e proprietário de terras. Um relacionamento fadado ao fracasso em função da diferença social entre os dois amantes.

Patricia, que é uma moça muito trabalhadora e honesta, se encanta e se deixa seduzir pelo jovem piloto, engravidando logo no segundo encontro. Um verdadeiro escândalo para a época e para um vilarejo da Provence francesa.  E, para piorar a situação, antes mesmo do terceiro encontro do casal, Jacques é subitamente enviado para a guerra, sem que consiga nem se despedir da moça.

A partir deste mote o filme vai, então, desenvolver-se, com um bom equilíbrio de humor e drama, colocando em jogo as tradições, os costumes locais, as diferenças sociais e, sobretudo, os sentimentos verdadeiros de pessoas bem diferentes.

De um modo geral, a mise-en-scène é simples, assim como são o próprio enredo e as soluções encontradas para a trama. Há, porém, muitas elipses que permitem acompanharmos o desdobrar de toda a história, mas que, por vezes, parecem um pouco bruscas demais, dando-nos a impressão de um certo problema de continuidade. Mas nada que atrapalhe a compreensão dos acontecimentos. Imagino que isso se deva, sobretudo, à tentativa de Auteuil de se manter fiel à obra de Pagnol e, portanto, à estética e “aos costumes” dos filmes da época.

A trilha sonora, assinada por Alexandre Desplat, é magnífica e casa muito bem com as imagens do filme. As músicas são de uma luminosidade, de uma intensidade e de uma poesia dignas da Provence e dos quadros impressionistas!

A Filha do Pai é um presente para os olhos e para os ouvidos! Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA SE ENCANTAR.

* Para quem se interessar, o filme original pode ser visto na íntegra pelo Youtube.

Tarantino’s Mind (2006)

•janeiro 9, 2013 • Leave a Comment

Para quem gosta de Tarantino e de Selton Mello, aí vai uma dica imperdível:

Tarantino’s Mind, curta metragem dirigido por Selton Mello e encenado pelo próprio Selton e por Seu Jorge. TarantinosMind-17

No filme, os dois personagens cinéfilos, em um cenário “tarantiniano”, discutem uma tese sobre um possível código que percorre toda a obra de Tarantino.

Uma divertida viagem pelo mundo do diretor americano com passagens interessantíssimas e bem engraçadas!

Top 10 2012

•janeiro 6, 2013 • 2 Comments

Estive alguns dias fora do ar, sem acesso à Internet e, portanto, sem conseguir publicar nada neste blog… Mil desculpas!

Nos últimos dias de 2012, gostaria de ter divulgado, assim como fiz no ano passado, a lista dos Top 10 do Cahiers du Cinéma – revista número 1 da crítica francesa e, quiçá, mundial – e de, ao mesmo tempo, ter pedido para vocês sua listinha de filmes preferidos.  IMG_4087

Como nunca é tarde para compartilhar opiniões nem filmes, publico, logo abaixo, a lista dos Top 10 do Cahiers e, em seguida, a minha. Fico aguardando a listinha de vocês para publicarmos, na semana que vem, os Top 10 do Meu Olhar.

Top 10 Cahiers du Cinéma (da redação)

1. Holy Motors, de Leos Carax

2. Cosmópolis, de David Cronenberg

3. Twixt, de Francis Ford Coppola

4. 4h44, O Fim do Mundo, de Abel Ferrara

4. In Another Country, de Hong Sang-soo

4. O Abrigo, de Jeff Nichols

4. Go Go Tales, de Abel Ferrara

8. Tabu, de Miguel Gomes

8. Fausto, de Alexandre Sokourov

10. Keep the Lights On, de Ira Sachs

Como vocês podem perceber, alguns desses filmes não chegaram ainda ao Brasil (e nem aqui à Suíça). Ah, e os números 4 e 8 repetidos não foram erro de digitação não! É que esses filmes ficaram empatados em número de votos junto aos críticos da revista. Infelizmente, desses só vi Twixt, do Coppola, e não colocaria na minha listinha top 10…  Falando nela, aí vai:

Meus Top 10

1. Argo, de Ben Affleck

2. Amour, de Michael Haneke

3. Jogos Vorazes, de Gary Ross

4. Carnage, de Roman Polanski

5. Qual é o Nome do Bebê, de Alexandre de la Patellière e Matthieu Delaporte

6. Oslo – 31 de Agosto, de Joachim Trier

7. Frankenweenie, de Tim Burton

8. Moonrise Kingdom, Wes Anderson

9. Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard

10. 007: Operação Skyfall, de Sam Mendes

Ufa, como é difícil dar ordem de preferência aos filmes de que gostamos!!!! Eles são tão diferentes! Uns divertem, uns nos fazem pensar, uns nos fazem viajar, outros nos encantam… O que é melhor? Vale mais a pena dizer, então, que foram esses os dez melhores (pra mim) e pronto! Sem levar muito em conta o numerozinho que antecede cada título…

Fico aguardando, então, a listinha de vocês para montarmos os Top Ten do Meu Olhar!

E que venha uma boa nova safra em 2013!!!!!!

 

 

Detona Ralph (2012)

•janeiro 6, 2013 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Wreck-It Ralph  Wreck-It-Ralph-post3

Origem: EUA

Diretor: Rich Moore

Roteiro: Rich Moore, Phil Johnston, Jim Reardon, Jennifer Lee

Com as vozes de: John C. Reilly, Sarah Silverman, Jack McBrayer, Jane Lynch

Tenho que admitir que fui assistir a este filme sem muito entusiasmo! Deveria ter lembrado de que, hoje em dia, nenhuma animação Disney é lançada sem receber antes o aval de John Lasseter, o mago da Pixar, hoje diretor artístico da Disney Toons Studios.

Embora seja apaixonada por filmes de animação, não sou lá grande fã de jogos eletrônicos. E, como a trama de Detona Ralph é justamente sobre os ditos jogos, achei que o resultado seria um pouco chato. Agradável engano!

O filme de Rich Moore é inteligente, criativo e simplesmente delicioso de se assistir!

A história – numa mistura de Toy Story, Mostros SA Noite no Museu – conta um pouco sobre a “vida real” dos personagens de jogos eletrônicos, levando-nos a conhecer o que acontece do outro lado da tela que separa usuários-humanos de atores-eletrônicos depois que termina o expediente na “loja de fliperamas”.

O personagem principal é Ralph (na voz de John C. Reilly), vilão de Conserta Félix, um jogo que comemora seus 30 anos de existência. Sua função é quebrar cada pedacinho de um prédio residencial,  para que, em seguida, tudo seja rapidamente consertado por Félix Jr (Jack McBrayer) – o grande herói do jogo – e que, por seu bom desempenho, recebe, como recompensa, uma medalha de ouro.

Acontece que o grandão-quebrador-de-tudo já está cansado de ser sempre o malvado da história. De nunca ser recompensado pelo seu trabalho duro. De ser tão solitário. De nunca poder, após sua longa jornada de trabalho, participar da vida social de seu jogo. E o clímax de seu sofrimento foi perceber que nem mesmo da festa de comemoração de 30 anos do jogo em que ele é peça fundamental ele pôde participar!

Assim, com o objetivo de ser aceito pela comunidade do Conserta Félix, o grandalhão Ralph vai sair de seu mundinho de cores primárias pixelizadas e vai percorrer outros jogos eletrônicos em busca de uma medalha que comprove pelo menos um ato de heroísmo e de bondade.

É dada, assim, a partida para uma história repleta de diálogos inteligentes, bem escritos, divertidos, em que personagens de jogos novos se encontram com personagens de jogos antigos, em que a alta definição se confronta com os pixelizados personagens do passado.

Para as crianças ou adolescentes dos anos 80 Detona Ralph é uma pérola! Apesar de muitos jogos terem sido inventados especificamente para esse filme, muitas lembranças vão vir à tona e vão trazer aquele gostinho de infância de volta, enchendo a sala de nostalgia

Bem ritmado e bem acompanhado por uma trilha que mistura a música eletrônica de hoje com a disco dos anos 80, Detona Ralph é também um trabalho estético super interessante e cuidadoso que mistura tipos diferentes de animação. Para cada jogo, uma estética apropriada ao seu ano de criação. Para cada personagem, um estilo diferente.

Mas nessa história, todos – pixelizados e altamente definidos – vão se encontrar em um jogo de corrida, cujo cenário lembra A Fantástica Fábrica de Chocolate e seus personagens de olhos enormes parecem saídos de animações japonesas. Um contraste para personagens como Ralph, vindo de um mundo anguloso, de cores primárias e grandes pixels aparentes, ou ainda para a Sargento Calhoun (Jane Lynch), acostumada a um mundo escuro, violento e altamente definido.

Detona Ralph é, assim, uma homenagem aos jogos de todos os tempos, aos fliperamas, aos Ataris, a Nintendo, etc. Um filme que, por meio da diversão, levanta questões sobre as nossas diferenças e sobre o papel importante que cada um de nós desempenha em nossa família, comunidade, sociedade.

Super divertido, o último filhote Disney faz a gente esquecer o tempo lá fora e voltar a ser criança. Mesmo para quem não é assim tão fã de jogos eletrônicos como eu…

Um filme encantador PRA SE DIVERTIR em família.

PS. Importantíssimo dizer que meu “agradável engano” já começou pela surpresa de uma também tradição Pixar, adotada desta feita pela Disney: a exibição do curta de animação Paperman (2012), de John Karhs, antes de passarmos ao longa. Puro encantamento!

Trois Mondes (2012)

•dezembro 23, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Trois Mondes   

Origem: França

Diretor: Catherine Corsini

Roteiro: Catherine Corsini, Antoine Jaccoud

Com: Raphaël Personnaz, Clotilde Hesme, Adèle Haenel, Arta Dobroshi

Escuro, denso, tenso e humano!

Selecionado, neste ano, para o prêmio “Un Certain Regard”, em Cannes, o filme da diretora francesa Catherine Corsini conta a história de um acidente que une três mundos. Três classes sociais que se esbarram, se tocam, mas não se confundem.

De um lado temos Al (Raphaël Personnaz), jovem ambicioso, filho de empregada doméstica, que, depois de anos de esforço como vendedor de carros, vê-se promovido a sócio da empresa em que trabalha e prestes a se tornar genro do patrão.  De outro, temos Vera (Arta Dobroshi), imigrante moldava, casada com um também moldavo operário ilegal da construção civil, ambos levando uma vida clandestina, cheia de dificuldades financeiras. E, no outro lado deste triângulo, temos Juliette (Clotilde Hesme), estudante de medicina, grávida, pertencente à classe média alta francesa.

Os três levam vidas paralelas até o dia em que Al, vindo de uma farra em que comemorava com os amigos sua ascensão social, atropela um transeunte e foge sem dar socorro. A vítima era o marido de Vera. Fato que passaria despercebido não fosse a presença de Juliette no alto de sua janela. A moça, estudante de medicina, ao perceber que o carro-algoz havia desaparecido, desce em socorro à vítima.

A partir daí, Juliette, por amor à futura profissão ou por pura solidariedade, vai se envolver cada vez mais com este acidente, aproximando-se da vítima e do culpado, até o ponto de ela própria se meter em uma grande enrascada. Isso porque, ao desvendar a identidade do motorista fugitivo, ela descobre também um homem de bom coração e não um canalha, como havia imaginado. Um homem fraco, sem dúvida, totalmente estraçalhado por sua própria atitude e por sua falta de coragem de assumir o crime.

Assim, com um enredo que lembra bastante 21 Gramas (2003) – sem, no entanto, nunca atingir o brilhantismo do filme de Iñárritu – a trama de Trois Mondes, que é contada de forma linear (aliás, bem diferente de 21 Gramas), vai se aprofundar justamente no drama interior vivido pelo autor do crime, fazendo-nos, assim, enxergar pelos olhos de um homem que errou gravemente, tendo plena consciência de sua culpa e dos desdobramentos de seus atos, mas sem forças para sair do buraco. Raphaël Personnaz consegue, aliás, passar-nos muito bem toda a carga dramática da situação, fazendo-nos mergulhar em seu mar de sofrimento, através de seus olhos tão azuis.

Azul também muito presente, em todos os seus tons, nas cenas do hospital, na loja de carros ou ainda nas roupas sempre azuis de Juliette, que, ao fazer o meio de campo entre  vítima e algoz, vai, pouco a pouco, vendo sua ingenuidade ser invadida pela realidade. Seu universo azul-hospital começa a se rachar, abrindo fendas que permitem à entrada da “vida como ela é”. Vidas como a de Vera, imigrante em busca de uma melhor qualidade de vida, invejosa da vida dos países ricos, em que mulheres podem vestir vestidos diferentes a cada dia. Uma jovem amarga, ferida, que deixa aflorar uma grande revolta, um enorme rancor por sua condição de imigrante clandestina, trazendo à tona uma série de questões que perturbam muito a França de hoje.

Assim, com uma mis-en-scène sem grandes novidades, Trois Mondes é um filme sobre a culpa que corrói. Um filme banhado pela escuridão em que às vezes mergulha nossa alma e que nos faz refletir sobre nossas fraquezas, nossos erros e sobre a pressão que sofremos do grupo social a que pertencemos ou queremos pertencer.

Um filme PRA PENSAR.

Filmes para ver no Natal

•dezembro 17, 2012 • Leave a Comment

Para quem gosta de assistir a filmes natalinos nesta época do ano, aí vão algumas sugestões.

A maioria se encaixa mais na categoria PRA SE DIVERTIR ou PRA RIR, mas há também alguns PRA SE ENCANTAR. E esses são meus favoritos! Marquei-os com um asterisco!

Bom filme e Feliz Natal!  milagre_na_rua_34

Se quiserem enviar suas sugestões, por favor, não se acanhem. Elas serão muito bem vindas! Depois, acrescentarei os novos títulos à lista! Obrigada.

 

1.    De Ilusão Também Se Vive / Milagre na Rua 34 (1947) *

Título original: Miracle on 34th Street

Origem: EUA

Diretor: George Seaton

Com: Edmund Gween, Maureen O’Hara, John Payne, Natalie Wood

2.    Esqueceram de Mim (1990)

Título original: Home Alone

Origem: EUA

Diretor: Chris Columbus

Com: Macaulay Culkin, Joe Pesci, Daniel Stern, Catherine O’Hara

3.    Esqueceram de Mim 2 – Perdido em Nova York (1992)

Título original: Home Alone 2

Origem: EUA

Diretor: Chris Columbus

Com: Macaulay Culkin, Joe Pesci, Daniel Stern, Catherine O’Hara

4.    O Estranho Mundo de Jack (1993)

Título original: The Nightmare Before Christmas

Origem: EUA

Diretor: Henry Selick

Com: Danny Elfman, Chris Saradon, Catherine O’Hara

5.    Milagre na Rua 34 (1994) – Remake *

Título original: Miracle on 34th Street

Origem: EUA

Diretor: Les Mayfield

Com: Richard Attenborough, Elizabeth Perkins, Dylan McDermott

6.    Meu Papai é Noel (1994)

Título original: The Santa Clause

Origem: EUA

Diretor: John Pasquin

Com: Tim Allen, Judge Reinhold, Wendy Crewson

7.    O Grinch (2000)

Título original: How The Grinch Stole Christmas

Origem: EUA /Alemanha

Diretor: Ron Howard

Com: Jim Carrey, Taylor Momsen, Jeffrey Tambor

8.    Um Duende em Nova Iorque (2003)

Título original: Elf

Origem: EUA / Alemanha

Diretor: Jon Favreau

Com: Will Ferrell, James Caan, Bob Newhart

9.    O Expresso Polar (2004) *

Título original: The Polar Express

Origem: EUA

Diretor: Robert Zemeckis

Com: Tom Hanks, Chris Coppola, Michael Jeter, Leslie Zemeckis

10. Titio Noel (2007)

Título original: Fred Claus

Origem: EUA

Diretor: David Dobkin

Com: Vince Vaughn, Paul Giamatti, Rachel Weisz, Kevin Spacey

11. Os Fantasmas de Scrooge (2009)

Título original: A Christmas Carol

Origem: EUA

Diretor: Robert Zemeckis

Com: Jim Carrey, Garry Olman, Colin Firth

12. Operação Presente (2011)

Título original: Arthur Christmas

Origem: EUA / Inglaterra

Diretor: Sarah Smith, Barry Cook

Com: James McAvoy, Jim Broadbent, Bill Nighy

 

Thérèse Desqueyroux (2012)

•dezembro 15, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Thérèse Desqueyroux   

Origem: França

Diretor: Claude Miller

Roteiro: Natalie Carter, Claude Miller

Com: Audrey Tatou, Gilles Lellouche, Anaïs Demoustier

Uma “tragédia amoral”, fruto de sentimentos ambíguos e complexos, contada de maneira simples e elegante.

A adaptação do romance de François Mauriac, escrito em 1927 e levado às telas pela primeira vez em 1962, por Georges Franju, foi a obra escolhida por Claude Miller para ser seu filme-testamento. O último de sua carreira.

O diretor francês morreu na fase final de produção do filme, não tendo tido tempo nem de vê-lo ser exibido em Cannes.

O romance que causou furor no final dos anos 1920, conta a história de Thérèse Larroque, transformada por casamento em Thérèse Desqueyroux. Um casamento de conveniência, feito para unir duas famílias donas de grandes propriedades agrícolas na região de Landes, na França.

Thérèse (magnífica na pele de Audrey Tatou), criada pelo pai e por uma tia surda, era um espírito confuso, complexo e fora do comum. A frente do seu tempo, inteligente e de pensamento sofisticado, ela própria não entendia o que se passava dentro de sua cabeça. Não entendia seus sentimentos, seus anseios nem seus sonhos. Era uma mente em crise. Ela sonhava com o dia em que se libertaria dessa prisão que era seu próprio corpo. Ela sonhava com a paz da simplicidade. E chegou a acreditar que o casamento podia lhe trazer essa sensação.

O marido “arranjado” de Thérèse, Bernard (Gilles Lellouche) – que era também o irmão de sua melhor amiga Anne (Annaïs Domoustier) – era um homem da categoria dos “simples”, satisfeito com sua condição de dono de terra e esposo de uma mulher igualmente proprietária de terra, bem adaptado às convenções e às tradições locais. Para ele, a vida era fácil e descomplicada.

Mas a instrospectiva e taciturna Thérèse não vai desistir de sua tão sonhada paz libertadora. E para consegui-la, ela será capaz de tudo!

Ao contrário da versão de 1962 – que é contada por meio de uma série de flash-backs – a atual é contada de forma linear, clássica, clara e fácil de entender. O que não deixa de ser curioso, já que contrasta tão fortemente com a complexidade da protagonista, dona de um espírito marcado por ziguezagues, reviravoltas e vais e vens. E, confesso, não fosse a brilhante atuação do trio Tatou-Lellouche-Domoustier, impondo-lhe ritmo e força, o filme seria extremamente monótono.

Talvez o que Claude Miller pretendesse com esse classicismo todo fosse justamente mostrar como era viver em uma sociedade linear, fechada em suas próprias convenções, tradições e regras sociais e familiares. Uma vida monótona para muitos, sobretudo se enxergada pelos olhos de um espírito sensível, inquieto, angustiado e sonhador de liberdade como o de Thérèse.

Esteticamente falando, o filme-testamento de Claude Miller é extremamente pictural, com lindos planos “pintados à mão”. Planos gerais de florestas, de campos e do mar com um certo barquinho vermelho passando ao longe, de uma intensidade e riqueza de cor que beiram o artificial, parecendo ilustrações ou telas transportadas para o cinema.

Um ponto bastante interessante do filme (e imagino que do romance, que não li infelizmente) é que ele não nos induz a um julgamento de valor. Não nos faz pensar o tempo inteiro se Thérèse agiu de maneira correta ou errada. Entendemos seu sofrimento. Sofremos com ela. Percebemos que, da sua maneira peculiar, tudo o que ela buscava era sua paz de espírito. Sua liberdade de pertencer à “raça implacável dos simples”. E ponto.

Um filme PRA PENSAR.

007: Operação Skyfall (2012)

•dezembro 7, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Skyfall   

Origem: EUA

Diretor: Sam Mendes

Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade

Com:  Daniel Craig, Javier Bardem, Naomie Harris, Judi Dench, Ralph Fiennes

Skyfall é uma volta às origens, um resgate do passado e da essência do espião mais famoso do planeta: James Bond.

Passado é, aliás, o grande leitmotif deste último filme de 007, embalado pela música Skyfall de Adele.

Sam Mendes, mais acostumados a temas psicológicos do que aventureiros (vide seus excelentes Beleza Americana (1999) e Foi Apenas um Sonho (2008)), conseguiu trazer para o 007 de 2012 um toque de drama psicológico e de sentimentalismo que só enriqueceu a história de Bond, mais uma vez interpretado por Daniel Craig, que, aliás, está melhor do que nunca. (Parece que ele finalmente se encontrou no papel do espião!) Um excelente presente para esta “edição de aniversário”, em que se comemora os 50 anos de criação do personagem por Ian Flemming.

Mas, calma, fãs de Bond! Não se desesperem. Nem por isso o filme caiu na armadilha do pieguismo ou do melodrama! Seu menu principal ainda é a ação, muita ação! Sem falar nas jovens mulheres bonitas, sempre presentes e nos cenários magníficos, que incluem agora a Turquia e a China.

Desta vez, no entanto, elas – as moças – ocupam menos espaço na trama, cedendo lugar a uma não menos bonita, mas bem mais madura M., interpretada novamente por Judi Dench. Mais mãe do que chefe nesta versão.

O inimigo, fantasticamente interpretado por Javier Bardem, ocupa também todos os espaços quando aparece. De cabelos louros e visual nada glamoroso, Bardem está divino na pele do cheio de charme “Silva”. Uma figura do passado de M-16 que volta à tona, depois de haver decidido cortar o cordão umbilical anos antes.

Skyfall é assim uma grande reflexão sobre a passagem do tempo, sendo o filme todo permeado pelo contraste do novo e do velho, do passado e do presente, da tecnologia e da sabedoria, da máquina e do homem.

Isso vale inclusive para a trilha sonora do filme, em que o antigo e o novo se encontram, em que a tradição se mistura ao contemporâneo. Adele, cantora inglesa de grande destaque na atualidade, representa o novo, com sua música já sendo tocada no início do filme.  Após um prólogo de tirar o fôlego, em que Bond persegue o inimigo pelos telhados do Grand Bazar em Istambul, pela Mesquita de Santa Sophia e em cima de um trem, a música de Adele nos faz respirar, subir, descer, voar e cair, junto com Bond. Tudo isso enquanto assistimos ao “clip” de abertura, já tradição dos filmes de Bond.

Mas, não se enganem, a boa, antiga e clássica música-tema de 007 também é tocada em várias partes do filme, sobretudo nas cenas de aventura. Fantástica a paleta musical organizada por Thomas Newman, que dá show à frente da trilha sonora deste último episódio.

Skyfall é, assim, um filme-homenagem à vida deste personagem que vem há 50 anos arrebatando os corações e os olhos de milhões de espectadores no mundo inteiro. Um filme PRA SE DISTRAIR que deve agradar a jovens e maduros. Aos antigos e aos novos fãs de Bond.

Bicho de Sete Cabeças (2001)

•dezembro 6, 2012 • Leave a Comment

Para quem ainda não teve a oportunidade de assistir a Bicho de Sete Cabeças, este é o filme de estréia da diretora Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo, 2010) e do ator Rodrigo Santoro em longa-metragem de ficção. E vale a pena demais conferir! O filme é forte, angustiante, inquietante, triste, real! Uma lição que dói!

Para ler mais, vá até o blog do parceiro CEBRAC – Centro Brasil Cultural (http://blogdocebrac-acervo.blogspot.ch/2012/12/bicho-de-sete-cabecas-2001.html).

Bicho de Sete Cabeças (2001)

Origem: Brasil

Diretora: Laís Bodanzky

Roteiro: Luiz Bolognesi

Com: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Caco Ciocler

 

 

O Impossível (2012)

•dezembro 2, 2012 • Leave a Comment

Veja o trailer aqui!

Título original: Lo Imposible    

Origem: Espanha

Diretor: Juan Antonio Bayona

Roteiro: Sergio G. Sánchez

Com: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland

Um tsunami de lágrimas… foi esse o efeito que o último filme de Juan Antonio Bayona teve sobre mim!

O Impossível conta o pesadelo real vivido pela família espanhola Alvarez-Belón – atingida pela onda gigante de 2004, quando passavam Natal na Tailândia -, sua sobrevivência e seu périplo pelos escombros a fim de se reencontrarem.

Adaptado à língua, aos traços étnicos e à cultura cinematográfica anglo-saxônica, o filme do diretor espanhol de O Orfanato (2007) – excelente, por sinal – nos mostra, pelos olhos dos sobreviventes, um dos maiores desastres naturais de nosso tempo. Assim como já havia feito brevemente Clint Eastwood em seu Além da Vida (2010), com Marie (Cécile De France), jornalista também sobrevivente do tsunami da Tailândia.

Mas, diferentemente da produção de Eastwood, o filme de Bayona é 95% angústia e tensão. Já nas primeiras cenas de O Impossível, quando a família ainda está sentada no avião rumo às suas férias de Natal, a tensão toma conta do ambiente, nos preparando para o que ainda está por vir. Cada turbulência é sentida com ansiedade pelos personagens e por nós, espectadores, graças a um trabalho de som minucioso, assinado por Fernando Velázquez.

Em seguida, o filme nos transporta para um universo paradisíaco, com direito a hotel cinco estrelas, praias de areias branquíssimas e água transparente. Um sonho que permeia a mente de quase todos nós, reles mortais. Por alguns poucos minutos nos damos ao luxo de respirar tranquilamente, mesmo sabendo que a catástrofe é iminente (vide as cenas subaquáticas que remetem à Tubarão, 1975). As cenas da “calmaria” são lindas! Mas, aproveitem, pois elas duram pouco.

Logo em seguida seremos levados com força para dentro das águas salgadas do mar. Seremos tragados pelo gigantismo desta onda e da superprodução de Bayona. Sentir-nos-emos em um filme-catástrofe de Spielberg ou de James Cameron. Entraremos no corpo da bela Naomi Watts, interpretando Maria, mãe de três meninos (e também a mãe que habita cada uma de nós), e veremos ou não veremos o mundo acabando bem à nossa frente, via uma super presente câmera subjetiva. A água invadindo todos nossos poros, nossos pulmões e nossas almas, para, depois de uma batalha frenética, finalmente conseguirmos voltar a respirar. Ufa! Mas depois do ar entrando novamente nos pulmões e um certo alívio percorrendo o corpo, vem o desespero, a consciência: onde estão os outros? Onde estão meus filhos, meu marido?

Emoções à flor da pele, excelentemente interpretadas por Watts, que atua no limite do real, sem exageros, sem cair no melodrama barato. Com a força, com a vulnerabilidade e com a coragem de uma verdadeira sobrevivente.

Destaque também para a atuação do jovem Tom Holland, no papel de Lucas, o primogênito da família Bernet (Alvarez-Belón na vida real) que comanda boa parte das ações pós-catástrofe. Interessante observar a troca de papéis que ocorre pós-tsunami, quando o filho tem que assumir o cuidado com a mãe, resistente ao se descobrir na pele da protegida e não mais da protetora.

A outra parte da família parece ter menos peso no roteiro de Sergio G. Sánchez, ocupando um tempo menor no desenrolar da trama do filme (pelo menos foi essa a impressão que tive). Enquanto a mãe agoniza sob os olhos angustiados de seu primogênito, tentando sobreviver a um hospital abarrotado e sem infraestrutura para tantos feridos, o pai Henry (Ewan McGregor) e os dois filhos menores, sem sinais de grandes ferimentos, seguem em busca do restante da família. Ewan McGregor está muito bem no papel do pai desesperado, mas deixa o show por conta de Naomi Watts.

Diferentemente do tom fantástico e surrealista de O Orfanato, que, aliás, caracterizam boa parte do cinema espanhol contemporâneo, O Impossível não explora o místico, o além-vida, as forças ocultas, a magia, etc. Tampouco recorre o diretor a metáforas ou alegorias para reproduzir a tragédia. Ele é direto, realista, seco. Sem nunca ser frio. Ao contrário. O filme é sentimental até o fim. Talvez apelando um pouco mais do que devia para as nossas glândulas lacrimais…

Impressionou-me, no entanto, ver que Bayona não aproveitou sua superprodução para exaltar seu povo e seu país, que vivem hoje uma real tsunami econômica. Talvez tivesse sido uma boa oportunidade para mostrar ao mundo a força e a capacidade de sobrevivência desse povo que enfrenta touros e tsunamis olhando-os de frente, olhos nos olhos.

Um filme PRA CHORAR. Não esqueçam o lenço!

 
WP Like Button Plugin by Free WordPress Templates