Thérèse Desqueyroux (2012)

Veja o trailer aqui!

Título original: Thérèse Desqueyroux   

Origem: França

Diretor: Claude Miller

Roteiro: Natalie Carter, Claude Miller

Com: Audrey Tatou, Gilles Lellouche, Anaïs Demoustier

Uma “tragédia amoral”, fruto de sentimentos ambíguos e complexos, contada de maneira simples e elegante.

A adaptação do romance de François Mauriac, escrito em 1927 e levado às telas pela primeira vez em 1962, por Georges Franju, foi a obra escolhida por Claude Miller para ser seu filme-testamento. O último de sua carreira.

O diretor francês morreu na fase final de produção do filme, não tendo tido tempo nem de vê-lo ser exibido em Cannes.

O romance que causou furor no final dos anos 1920, conta a história de Thérèse Larroque, transformada por casamento em Thérèse Desqueyroux. Um casamento de conveniência, feito para unir duas famílias donas de grandes propriedades agrícolas na região de Landes, na França.

Thérèse (magnífica na pele de Audrey Tatou), criada pelo pai e por uma tia surda, era um espírito confuso, complexo e fora do comum. A frente do seu tempo, inteligente e de pensamento sofisticado, ela própria não entendia o que se passava dentro de sua cabeça. Não entendia seus sentimentos, seus anseios nem seus sonhos. Era uma mente em crise. Ela sonhava com o dia em que se libertaria dessa prisão que era seu próprio corpo. Ela sonhava com a paz da simplicidade. E chegou a acreditar que o casamento podia lhe trazer essa sensação.

O marido “arranjado” de Thérèse, Bernard (Gilles Lellouche) – que era também o irmão de sua melhor amiga Anne (Annaïs Domoustier) – era um homem da categoria dos “simples”, satisfeito com sua condição de dono de terra e esposo de uma mulher igualmente proprietária de terra, bem adaptado às convenções e às tradições locais. Para ele, a vida era fácil e descomplicada.

Mas a instrospectiva e taciturna Thérèse não vai desistir de sua tão sonhada paz libertadora. E para consegui-la, ela será capaz de tudo!

Ao contrário da versão de 1962 – que é contada por meio de uma série de flash-backs – a atual é contada de forma linear, clássica, clara e fácil de entender. O que não deixa de ser curioso, já que contrasta tão fortemente com a complexidade da protagonista, dona de um espírito marcado por ziguezagues, reviravoltas e vais e vens. E, confesso, não fosse a brilhante atuação do trio Tatou-Lellouche-Domoustier, impondo-lhe ritmo e força, o filme seria extremamente monótono.

Talvez o que Claude Miller pretendesse com esse classicismo todo fosse justamente mostrar como era viver em uma sociedade linear, fechada em suas próprias convenções, tradições e regras sociais e familiares. Uma vida monótona para muitos, sobretudo se enxergada pelos olhos de um espírito sensível, inquieto, angustiado e sonhador de liberdade como o de Thérèse.

Esteticamente falando, o filme-testamento de Claude Miller é extremamente pictural, com lindos planos “pintados à mão”. Planos gerais de florestas, de campos e do mar com um certo barquinho vermelho passando ao longe, de uma intensidade e riqueza de cor que beiram o artificial, parecendo ilustrações ou telas transportadas para o cinema.

Um ponto bastante interessante do filme (e imagino que do romance, que não li infelizmente) é que ele não nos induz a um julgamento de valor. Não nos faz pensar o tempo inteiro se Thérèse agiu de maneira correta ou errada. Entendemos seu sofrimento. Sofremos com ela. Percebemos que, da sua maneira peculiar, tudo o que ela buscava era sua paz de espírito. Sua liberdade de pertencer à “raça implacável dos simples”. E ponto.

Um filme PRA PENSAR.

~ by Lilia Lustosa on dezembro 15, 2012.

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