O Impossível (2012)
Origem: Espanha
Diretor: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sánchez
Com: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland
Um tsunami de lágrimas… foi esse o efeito que o último filme de Juan Antonio Bayona teve sobre mim!
O Impossível conta o pesadelo real vivido pela família espanhola Alvarez-Belón – atingida pela onda gigante de 2004, quando passavam Natal na Tailândia -, sua sobrevivência e seu périplo pelos escombros a fim de se reencontrarem.
Adaptado à língua, aos traços étnicos e à cultura cinematográfica anglo-saxônica, o filme do diretor espanhol de O Orfanato (2007) – excelente, por sinal – nos mostra, pelos olhos dos sobreviventes, um dos maiores desastres naturais de nosso tempo. Assim como já havia feito brevemente Clint Eastwood em seu Além da Vida (2010), com Marie (Cécile De France), jornalista também sobrevivente do tsunami da Tailândia.
Mas, diferentemente da produção de Eastwood, o filme de Bayona é 95% angústia e tensão. Já nas primeiras cenas de O Impossível, quando a família ainda está sentada no avião rumo às suas férias de Natal, a tensão toma conta do ambiente, nos preparando para o que ainda está por vir. Cada turbulência é sentida com ansiedade pelos personagens e por nós, espectadores, graças a um trabalho de som minucioso, assinado por Fernando Velázquez.
Em seguida, o filme nos transporta para um universo paradisíaco, com direito a hotel cinco estrelas, praias de areias branquíssimas e água transparente. Um sonho que permeia a mente de quase todos nós, reles mortais. Por alguns poucos minutos nos damos ao luxo de respirar tranquilamente, mesmo sabendo que a catástrofe é iminente (vide as cenas subaquáticas que remetem à Tubarão, 1975). As cenas da “calmaria” são lindas! Mas, aproveitem, pois elas duram pouco.
Logo em seguida seremos levados com força para dentro das águas salgadas do mar. Seremos tragados pelo gigantismo desta onda e da superprodução de Bayona. Sentir-nos-emos em um filme-catástrofe de Spielberg ou de James Cameron. Entraremos no corpo da bela Naomi Watts, interpretando Maria, mãe de três meninos (e também a mãe que habita cada uma de nós), e veremos ou não veremos o mundo acabando bem à nossa frente, via uma super presente câmera subjetiva. A água invadindo todos nossos poros, nossos pulmões e nossas almas, para, depois de uma batalha frenética, finalmente conseguirmos voltar a respirar. Ufa! Mas depois do ar entrando novamente nos pulmões e um certo alívio percorrendo o corpo, vem o desespero, a consciência: onde estão os outros? Onde estão meus filhos, meu marido?
Emoções à flor da pele, excelentemente interpretadas por Watts, que atua no limite do real, sem exageros, sem cair no melodrama barato. Com a força, com a vulnerabilidade e com a coragem de uma verdadeira sobrevivente.
Destaque também para a atuação do jovem Tom Holland, no papel de Lucas, o primogênito da família Bernet (Alvarez-Belón na vida real) que comanda boa parte das ações pós-catástrofe. Interessante observar a troca de papéis que ocorre pós-tsunami, quando o filho tem que assumir o cuidado com a mãe, resistente ao se descobrir na pele da protegida e não mais da protetora.
A outra parte da família parece ter menos peso no roteiro de Sergio G. Sánchez, ocupando um tempo menor no desenrolar da trama do filme (pelo menos foi essa a impressão que tive). Enquanto a mãe agoniza sob os olhos angustiados de seu primogênito, tentando sobreviver a um hospital abarrotado e sem infraestrutura para tantos feridos, o pai Henry (Ewan McGregor) e os dois filhos menores, sem sinais de grandes ferimentos, seguem em busca do restante da família. Ewan McGregor está muito bem no papel do pai desesperado, mas deixa o show por conta de Naomi Watts.
Diferentemente do tom fantástico e surrealista de O Orfanato, que, aliás, caracterizam boa parte do cinema espanhol contemporâneo, O Impossível não explora o místico, o além-vida, as forças ocultas, a magia, etc. Tampouco recorre o diretor a metáforas ou alegorias para reproduzir a tragédia. Ele é direto, realista, seco. Sem nunca ser frio. Ao contrário. O filme é sentimental até o fim. Talvez apelando um pouco mais do que devia para as nossas glândulas lacrimais…
Impressionou-me, no entanto, ver que Bayona não aproveitou sua superprodução para exaltar seu povo e seu país, que vivem hoje uma real tsunami econômica. Talvez tivesse sido uma boa oportunidade para mostrar ao mundo a força e a capacidade de sobrevivência desse povo que enfrenta touros e tsunamis olhando-os de frente, olhos nos olhos.
Um filme PRA CHORAR. Não esqueçam o lenço!