Grace: a Princesa de Mônaco (2014)

Veja o trailer aqui!

Título original: Grace of Monaco  movies-grace-of-monaco-poster

Origem: França / EUA / Bélgica / Itália

Diretor: Olivier Dahan

Roteiro: Arash Amel

Com: Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Paz Vega, Parker Posey

Grace de Mônaco abriu o Festival de Cannes nessa última quarta feira causando muita polêmica. O seleto público composto por artistas, críticos e alguns convidados vips se dividiu entre as vaias e os aplausos.

Eu, que, infelizmente, não fui convidada para subir as escadarias da La Croisette, e tive que me contentar em ir assistir ao filme numa sala de cinema vazia, confesso que gostei. Achei o filme lindo, glamoroso, envolvente e cheio de sacadas só possíveis para um olho verdadeiramente apaixonado por cinema (iluminação especial para a estrela – como aquela usada nos anos 50 – movimentos de câmera coreografados, ensaiados, compondo quase uma dança, transições bonitas, split screen, trilha sofisticada, etc.).

No entanto, fazendo também justiça à crítica especializada, tenho que admitir que o filme é de fato um “conto de fadas” moderno, pouco realista, açucarado, apesar do enorme esforço do diretor em nos mostrar uma Grace Kelly humana, real, crível, e não saída diretamente de uma animação Disney ou de um livro de M. Delly.

Mas o que parece mais ter incomodado o público cannois – fora a rigidez das feições esticadas de Nicole Kidman – foi o fato de o filme não ter se atido aos fatos históricos, tendo, assim, de certa maneira, traído a realidade. Há coisas ali inventadas – como a presença de Charles de Gaulle no baile da Cruz Vermelha – coisas acrescentadas para fazer Grace Kelly ainda mais especial, mais perfeita (e com isso, tornar o filme ainda mais comercial, como reclamou a família Grimaldi). Não se trata, portanto, de um filme histórico, de um documentário e nem mesmo de um Biopic. Trata-se simplesmente de uma ficção baseada na realidade, o que, aliás, está explícito já bem no comecinho do filme, e que endossa o discurso de Olivier Dahan que se defende, alegando seu direito à liberdade artística.

Feitos todos esses comentários, passemos agora ao filme.

A primeira sequência – que é um belo plano-sequência – é simplesmente divina, digna dos bons e velhos tempos do cinema hollywoodiano. Com uma câmera que dança a nossa frente, levando-nos de uma tela (dentro da tela) para os estúdios de Hollywood. Lá, a câmera segue a Grace-atriz, que se despede da sua vida de estrela, andando pelo estúdio, sempre de costas, até parar em um espelho dentro do camarim, quando a vemos de frente pela primeira vez. Na verdade, ela ainda nos dá as costas, mas vemos sua imagem refletida no espelho. Uma imagem que ela também vê pela última vez, a da atriz Grace Kelly.

Desta sequência daremos um salto no tempo e já veremos Grace, a princesa. Sempre linda, com vestidos maravilhosos, em um cenário de sonhos, vivendo o seu conto de fadas nem tão cor de rosa assim. Ela agora já é mãe de dois filhos, e já se sente infeliz com sua condição de princesa-prisioneira. E para piorar sua angústia, Hitchcock lhe faz visita, oferecendo-lhe o papel principal no seu filme Marnie.

A partir daí, o filme vai retraçar as angústias vivida por Grace-mulher, dividida entre os seus diversos papéis: mãe, esposa, princesa e… atriz. Neste aspecto, acho que o filme foi muito feliz, apresentando diálogos bem interessantes, profundos e bonitos, sobretudo os que ela tem com o Padre Francis Tucker (Frank Langella), também americano, seu amigo e confidente. Essa parte do filme me fez pensar que, em nosso universo plebeu, também estamos sempre nos alternando entre papéis. Alguns divertidos, outros nem tanto; alguns que nos realizam, outros nem tanto; mas sempre papéis. A tal ponto que acabamos por não saber direito quem de fato somos ou qual desses papéis é o nosso “eu” verdadeiro.

Fora essa questão existencialista, outro ponto interessante do filme é o pano de fundo político. Estamos no começo dos anos 1960, época de Guerra na Argélia, e em plena crise franco-monaguesca (1962), em que o General Charles de Gaulle solicita a revisão do Tratado de 1918, que assegurava a independência do Principado. Partes da história que, confesso, desconhecia completamente e nas quais jamais havia imaginado a linda e perfeita atriz-princesa Grace Kelly sendo uma de suas personagens. E viva a ignorância! Aliás, até que ponto ela de fato interferiu e ajudou seu marido a contornar a crise, como aparece no filme, não dá para saber, já que, como bem salientou seu diretor, não se trata de uma obra presa a fatos históricos.

Aqui vale também um parêntese: o discurso da princesa no baile da Cruz Vermelha também é muito, mas muito açucarado, digno das mais doces comédias românticas, prato cheio para aqueles que apreciam o gênero.

Para concluir, a maior dificuldade que tive com o filme foi a de aceitar Nicole Kidman como Grace Kelly. Não consegui enxergar uma na outra. O tempo todo via Nicole Kidman. Só no finalzinho, quando ela usa aquele vestido branco com a faixa “real” vermelha – imagem marcante da princesa para mim – é que pude ver de longe Grace Kelly. Não sei explicar exatamente o porquê desta sensação. Ambas são lindas, louras, altas, magras. Mas a mágica não funcionou para mim. Espero que funcione para vocês!

 Um filme gostoso de se ver. PRA SE DISTRAIR.

~ by Lilia Lustosa on May 16, 2014.

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