Le Weekend (2013)
Origem: Inglaterra / França
Diretor: Roger Mitchell
Roteiro: Hanif Kureishi
Com: Lindsay Duncan, Jim Broadbent, Jeff Goldblum
O diretor do inesquecível Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) presenteia-nos mais uma vez com uma história romântica e deliciosa de assistir! A diferença é que agora os pombinhos não são assim tão jovens e o palco não é mais a Inglaterra de Hugh Grant.
Le Weekend conta a história de um casal de professores ingleses que decide passar um fim de semana em Paris para comemorar seus trinta anos de casados e, assim, tentar fazer renascer a relação. Meg (Lindsay Duncan) e Nick (Jim Broadbent) formam um casal comum de classe média britânica, parte de uma elite intelectual sem dinheiro que, após tantos anos juntos, acumulam rancores, dúvidas e, claro, algumas (muitas?) alegrias. Após tantos anos já não sabem mais se estão juntos por amor ou comodismo? Foram felizes? São felizes? Realizaram seus sonhos? Têm ainda algum sonho? O que aconteceu-lhes após a saída dos filhos ?
Narrado de maneira simples e clássica, sem flashbacks, flashforwards ou grandes elipses, Le Weekend é um filme divertido (ah, o afiado humor inglês!), sensível, que alterna momentos sérios e delicados com outros bem leves e despretensiosos.
Não há grandes novidades estilísticas nem temáticas. Mesmo assim, o filme agrada por seus lindos planos da cidade-luz (Torre Eiffel, Montmartre, Museu Rodin, etc.) e por seus diálogos inteligentes e realistas. Para quem está (ou já esteve) casado há muito tempo, não há como não se identificar com uma porção de situações vividas e discutidas pelo casal. Sem falar na questão da idade e do envelhecer, assunto aliás em voga no cinema – haja visto a quantidade de filmes recentes que tratam do tema – e que é aqui trabalhado com elegância e equilíbrio, sem se deixar cair no exagero.
A cena em que Nick dança sozinho de madrugada no quarto do hotel, “curtindo” sua solidão e seu medo de envelhecer, enquanto sua mulher dorme, ignorando solenemente seu ainda vivo apetite sexual, é emblemática dessa angústia causada pelo passar do tempo. Ele de cueca, camiseta, meias e fone de ouvidos, ao som de um Bob Dylan que pergunta: “How does it feel to be without a home like a complete unknown. Like a rolling stone?” Excelente! Ou, ainda, quando ele assiste pela televisão ao filme de Godard – Bande à part (1964) – e que ele arrisca alguns passos da famosa dança no bar, relembrando com nostalgia seus tempos de “anarquista de esquerda”… Cena aliás reproduzida no final, numa linda homenagem ao mestre da Nouvelle Vague.
Há, no entanto, vez por outra, alguns estereótipos cristalizados em cenas-clichês que poderiam ter sido evitadas, como a de Nick forçando uma amizade com o filho adolescente de seu colega de faculdade, o bem sucedido americano Morgan (Jeff Goldblum), uma espécie de filósofo-pop, escritor de best-sellers, que o inglês reencontra por acaso nas ruas de Paris.
Por outro lado, podemos enxergar nesse reencontro uma reflexão interessante sobre os desdobramentos e as reviravoltas que a vida às vezes dá. Morgan, na época de faculdade, via Nick como seu mentor, um colega que tinha conhecimento superior ao seu e como alguém que lhe abriu as portas do mundo acadêmico e da vida adulta. Por uma “ironia do destino”, o ídolo-Nick ficou estagnado em sua carreira e em sua região, enquanto que o não-tão-brilhante Morgan enriqueceu, ganhou projeção internacional, tendo vários livros publicados. Uma espécie de espelho que faz o professor olhar para sua própria trajetória e se dar conta de seus fracassos, de suas não-conquistas e também de alguns pequenos sucessos.
Le Weekend é, na verdade, uma sucessão desses olhares para trás na busca de um enxergar lá na frente. Um belo exercício de análise das conquistas e derrotas do passado, com o intuito de aprendermos a valorizar o presente e, assim, conseguirmos enxergar esperança no futuro.
Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA PENSAR.