Na Estrada (2012)

•junho 12, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: On the Road     

Origem: Brasil, EUA, Inglaterra e França

Diretor: Walter Salles

Roteiro: José Rivera, Jack Kerouac (livro)

Com: Garrett Hedlund, Sam Riley,  Kristen Steward, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst

Vida louca vida! Estrada longa estrada!

O filme de Walter Salles, selecionado para a Palma de Ouro no Festival de Cannes,  é, esteticamente falando, bonito, tecnicamente falando, bem-feito, porém longo demais, acadêmico demais, não tendo sido assim capaz de encantar  a plateia, nem de reascender o  fogo do Beat Generation.

O filme é uma adaptação do livro On the Road de Jack Kerouac – publicado em 1957 – considerado um livro-manifesto do movimento Beat Generation. 

Beat Generation foi um movimento de contra cultura, surgido no período pós-guerra, formado por artistas, principalmente escritores e poetas, e que pregava a liberdade artística, intelectual, sexual, espacial… total! Um precursor do movimento hippie.

O filme/ livro conta então uma parte da vida de seu próprio autor, interpretado por Sam Riley, tendo início logo após a morte de seu pai, Léo Kerouac. A história, narrada em primeira pessoa, na voz do rouca do ator inglês, se passa nos Estados Unidos, entre 1947 e 1950, e mostra as infinitas idas e vindas do jovem Kerouac – no filme Sal Paradise – em busca de um não-sei-o-quê que lhe desse razão de viver.

Sal Paradise segue assim um caminho sem destino, pegando caronas, conhecendo novas gentes e lugares, experimentando um pouco de tudo o que a vida lhe era capaz de oferecer. Ele penetra o mundo das drogas, do álcool, do sexo livre, do jazz, da escrita livre… da não-responsabilidade! Viver por viver parecia ser seu grande mote!

Ao longo dessa estrada, Sal/Kerouac vai encontrando figuras que o marcam profundamente em função de seus grandes desapegos materiais e de sua ampla e total liberdade de viver. Um deles é Dean Moriarty (Garrett Hedlund) – Neal Cassady na vida real – filho de um pai alcoólatra desaparecido, órfão de mãe, um charmoso e belo irresponsável, com passagens pela prisão, um viciado em sexo, drogas e em diversão.

Outra figura importante é a primeira companheira de Moriarty, uma adolescente libertina, pegando fogo de vontade de viver, Marylou (LuAnne Henderson na vida real), muito bem interpretada por Kristen Stewart, que aliás debuta esplendorosamente com este filme no universo do cinema adulto.  Sal, Dean e Marylou vão viver então uma relação a três por algum tempo.

As cenas de abertura do filme, com seu movimento incerto de “câmera no ombro” e com sua imagem quente de solo árido  tiveram para mim um quê de Glauber Rocha… um qualquer coisa de realidade, de documentário, de pé na estrada. O tom sépia que domina todo o filme, assim como o uso constante de closes dos personagens em contraste com a grandeza dos planos gerais das paisagens, percorrendo a tela em travellings imensos, deram ao filme o movimento e a beleza necessários a um grande filme.

Estivesse ele contando um outro tipo de história, talvez pudesse figurar na categoria do “excelente”, mas em se pensando em um filme que se predispõe a transpor uma obra considerada o símbolo do Beat Generation, falta ao Na Estrada aquele fogo que arde na alma de seus personagens. Falta ao filme de Walter Salles a liberdade criativa, a volúpia, a loucura e a intensidade de viver que tanto pregava o movimento.  Uma pena!

Mas nem por isso o filme deixa de ser interessante, bonito e altamente recomendado! Um filme PRA APRENDER sobre este movimento dos anos 50 chamado Beat Generation.


Direto do Festival de Annecy: Eun-Sil-Yee – The Dearest (2011)

•junho 8, 2012 • 1 Comment

The Dearest (2011)  

Título original: Eun-Sil-Yee

Origem: Coréia do Sul

Diretor: Sun-Ah Kim e Se-hee Park

Com as vozes de: Chae-Soo Kim, Hyo-Jung Han, Yoo-Jung Jung, Hyun-Jin Cho

O filme Eun-Sil-Yee – em competição no Festival de Annecy – é um filme de animação de uma dureza tamanha, que poucos adultos serão capazes de digerir!

Ele mostra a crueldade de uma sociedade pautada pela violência sexual doméstica, em que as mulheres não têm vez nem voz.

A primeira cena do filme já é chocante e, ao mesmo tempo, emblemática: uma grande vagina toma conta de toda a tela, abrindo-se e fechando-se, numa luta desesperada para dar espaço a uma nova vida. Nasce assim o bebê de Eun-Sil-Yee, uma jovem com atraso mental, que acaba morrendo ao dar à luz sua filha.

A história vai então girar em torno da origem e do destino desta criança, que chega ao mundo só, sem mãe, sem pai, sem avós e com praticamente todos os habitantes do vilarejo querendo que ela suma por todo o sempre.

Os motivos?

Serão as amigas de infância de Eun-Sil que vão investigar e desenrolar este horroroso novelo de abusos físicos, morais, mentais… Duas delas estão de regresso da capital Seul, onde moram e buscam um futuro melhor, numa tentativa de fugir e de se esquecer das feridas do passado. As outras duas, tendo ficado sempre no vilarejo, serão peças importantes para explicar o que acontecia por aquelas bandas no período em que as amigas estiveram fora.

O filme revela, então, de maneira explícita a condição da mulher na sociedade sul-coreana, até hoje tão inferiorizada e submissa aos desejos e comandos dos homens. As cenas são fortes, violentas, cruéis, doloridas e, muitas vezes, difíceis de ver. Mesmo quando paramos para pensar que estamos “apenas” diante de um filme de animação.

Por falar nisso, a técnica de animação é bem simples: desenho em papel, 2D, nada de grandes tecnologias, sem grandes extravagâncias nem belezas. Aliás, o filme é feio, com cores apagadas, escuras, baixo-astral, que acabam por refletir bem seu grande tema.

E voltando ao início, creio que posso dizer que as diretoras foram muito felizes (se é que se pode usar um adjetivo desses num filme tão triste) na escolha da primeira cena, que representa tão bem toda a temática do filme. A luta deste bebê-menina, buscando ar, querendo vir ao mundo, e o corpo de sua mãe – uma órfã, deficiente mental – sabiamente se fechando, não desejando que ela aqui desembarque, mas, ao mesmo tempo, não querendo tampouco que ela morra. Uma cena forte, marcante, um abrir e fechar de vagina que representam um amor gigante, uma mistura de instintos de proteção e de sobrevivência. Um amor de mãe, de mulher, de guerreira. Fantástico!

Sem dúvida, um filme PRA SE ANGUSTIAR e PRA PENSAR muito!

Festival International du Film d’Animation – Annecy

•junho 4, 2012 • Leave a Comment

Começou hoje o Festival Internacional do Filme de Animação de Annecy, na França, com uma extensa programação que segue até sábado, dia 9 de junho. Se você estiver por estas bandas, recomendo fortemente a visita!

O Festival de Annecy é um dos mais importantes do mundo em sua categoria, reunindo obras dos quatro cantos do planeta. Só pra se ter uma ideia da dimensão do evento, neste ano 2.455 filmes foram inscritos, dos quais 229 foram selecionados para competição (entre longas e curtas metragens) e 472 serão projetados.

Além das projeções dos filmes, há ainda uma série de exposições, conferências, workshops, palestras e debates com profissionais do mundo da animação, sem falar na MIFA – Marché International du Film d’Animation. Uma super feira de negócios em que os profissionais do setor podem encontrar financiamento para seus projetos, estabelecer parcerias, conhecer ou adquirir novas tecnologias, etc, etc, etc. Enfim, uma ótima oportunidade pra conseguir botar “seu filme na rua”!

Agora, deixando os negócios e a seriedade de lado, o Festival de Annecy é um evento super descolado, descontraído, bem estilo cinema de animação mesmo. Os trajes são os mais variados possíveis e os penteados idem. Ah, e o comportamento, no mínimo, curioso! Hoje, por exemplo, antes da projeção do primeiro longa em competição, o mestre de cerimônias reclamou a falta de aviões de papel no palco… Isso mesmo! Uma das tradições do Festival de Annecy é que o público jogue aviões de papel no palco. Assim sendo, no filme da tarde, o palco estava repleto de aviõezinhos, e o mesmo Mestre de Cerimônias parabenizou então a plateia. Hilário!

Outra boa: quando as luzes se apagam, todos começam a emitir uns sons engraçados, abrindo e fechando a boca, como se fossem peixes fazendo bolhas… E isso se repete a cada intervalo entre a exibição de um curta e outro. Que tal?

Pra terminar, aí vai um pequeno e importante PS: Pra quem não conhece, Annecy é uma cidade linda, situada na região de Rhône-Alpes, bem na ponta do lago de Annecy. Um lugar encantador que merece ser visitado com ou sem Festival!!!!!!

Moonrise Kingdom (2012)

•junho 3, 2012 • 1 Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Moonrise Kingdom  

Origem: EUA

Diretor: Wes Anderson

Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola

Com: Bruce Willis, Bill Murray, Edward Norton, Jared Gilman, Kara Hayward

Curioso, leve, divertido, caricato, ingênuo, belo… e encantadoramente original!

Original no roteiro, que conta uma história de amor entre dois pré-adolescentes rejeitados, Sam (Jared Gilman) e Susy (Kara Hayward), que, por se sentirem diferentes, deslocados, solitários e infelizes, decidem fugir de casa.

Original no cenário, bastante econômico, colorido, caricato, artificial.

Original no movimento de câmera, meio duro, meio mecânico, artificial, hora indo para o lado, em movimento horizontal, hora subindo verticalmente, como se pegasse um elevador ou como se seguisse a trilha do Pac-Man.

Original no jogo de cena artificial de seus atores. Nas cores des suas imagens.

Original ainda na escolha do narrador, um tipo de expert na geografia do lugar, vestido de duende, com jeitão de Wood Allen.

E maravilhoso na trilha sonora. A música Le Temps de l’Amour, da cantora francesa Françoise Hardy é divina e reflete com muito charme todo o espírito do filme. Encantadora!

Enfim, o filme que foi escolhido para abrir o 65° Festival de Cannes, é um conto quase-fantástico, que brinca o tempo todo com o real e com o artificial, com o possível e com o impossível. Uma história simples que se fantasia de surreal para tratar de questões sérias com a leveza de uma brincadeira de criança.

No seu “visual” tudo parece meio forçado, falso, caricato. Mas, no fundo, no fundo, no seu “não visual”, tudo é absolutamente sério e pra valer! A infelicidade dos dois pré-adolescentes – assim como a dos adultos que as cercam – está lá. E ela é tão real, legítima e profunda que nos atingem em cheio.

Moonrise Kingdoom mistura assim a ingenuidade e os sonhos da infância com as angústias e com a realidade da vida adulta, nos levando de volta a esta zona de turbulência que é a adolescência. A este meio-de-caminho rumo uma idealizada liberdade.

E assim, com o mais profundo respeito aos sentimentos da adolescência, Wes Anderson e Roman Coppola nos revelam os primeiros movimentos do amor de uma maneira inocente, bonita, divertida, delicada e séria. E acabam por nos fazerem enxergar que não devemos desprezar as infelicidades e as angústias de nossas crianças, pois elas são legítimas e reais, podendo ser ainda um reflexo da nossa própria infelicidade.

Super recomendado!

PS. Para os que apreciam música instrumental, recomendo que não saiam da sala antes do final…

O filme “Amour” ganha a Palm d’Or em Cannes

•maio 27, 2012 • Leave a Comment

O grande premiado do Festival de Cannes foi Amour do diretor austríaco Michael Haneke. 

O filme conta a história de um casal de músicos octogenários – Anne e Georges – pais de uma filha também música, mas que mora longe. Um dia, Anne sofre um AVC e fica com um lado do corpo completamente paralisado. O filme gira então em torno do cuidado, da dedicação e do amor deste marido a sua grande companheira de vida.

Já premiado em Cannes pelo filme A Fita Branca, em 2009, (leia a crítica aqui mesmo neste site, no post de 16/1/2012), Haneke foi aplaudido de pé!

Infelizmente o filme só deve ser lançado no segundo semestre deste ano! Vamos ter que esperar pra ver!!!!!

O Exótico Hotel Marigold (2012)

•maio 27, 2012 • 1 Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: The Best Exotic Marigold Hotel

Origem: Inglaterra

Diretor: John Madden

Roteiro: Ol Parker, Deborah Moggach

Com: Judi Dench, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Maggie Smith, Penelope Wilton, Dev Patel

Fui ao cinema esperando assistir a uma comédia leve e despretensiosa! Qual não foi minha surpresa ao me deparar com um filme divertido, por certo, porém, ao mesmo tempo, profundo e sério.  E melhor ainda, sem perder nunca o charme e a sofisticação do humor britânico!

A história, baseada no romance da escritora inglesa Deborah Moggach, traz à tona uma série de questões importantes que atingem nossa sociedade pós-moderna, que envelhece cada vez mais.

Assim como Et Si On Vivait Tous Ensemble, lançado na França no começo deste ano – leia a crítica neste site, post do dia 29/1/12– The Best Exotic Marigold Hotel dirige seu olhar para essa geração, cada vez mais numerosa, que chega aos 60 ou 70 anos em plena forma, ainda cheia de vontade de viver, de ver e de fazer. Um grupo de pessoas que, além de perdas emocionais e de certas limitações físicas, ainda enfrenta diariamente muitos tipos de preconceitos e de maus tratos.

Enquanto no filme francês, um grupo de amigos na casa dos 60/70 resolve se juntar e dividir o mesmo teto, compartilhando assim seu dia-a-dia, suas angústias, alegrias, medos, inseguranças e, acima de tudo, uma bela amizade, no filme inglês, um mesmo teto será compartilhado por 7 desconhecidos. Neste caso, um grupo formado por aposentados, viúva, solteiros, que após se verem diante de problemas financeiros, morais ou emocionais,  partem para uma aventura na India, dando nova chance as suas vidas.

Inspirados pelas promessas lidas em um folheto promocional ou na Internet, apresentando um novo conceito de residência destinada a pessoas “maduras e bonitas”, os desconhecidos voam para o oriente na esperança de uma vida melhor e mais digna. Chegando lá, no entanto, eles descobrem que o Palácio das fotos estava, na verdade caindo aos pedaços. Pura propaganda enganosa! O dono, um jovem malandro (Dev Patel – star de Slumdog Millionaire) e ao mesmo tempo ingênuo, personagem caricatamente otimista, insiste que tudo é questão de tempo, e que em breve o Marigold Hotel brilhará novamente como no passado.

Diante desta grande decepção- ou roubada -, o que fazer? Desistir ou encarar? Avançar ou recuar? Abraçar o que a vida oferece ou se fechar em sua própria infelicidade?

E assim, entre idas e vindas, entre mistérios e descobertas, os 7 personagens vão pouco a pouco nos revelando suas fraquezas e fortalezas, suas qualidades e defeitos, suas feridas e desejos, suas histórias vividas e suas tantas outras sonhadas.  Tudo feito de maneira equilibrada, dosando na medida certa o humor e a seriedade que as questões tantas vezes pedem.

Fora isso, o filme mostra também uma India de contrastes, de castas, de preconceitos, de choque de gerações. Uma India de sari que convive lado a lado com uma India de jeans. Um país que pouco a pouco se abre a novas ideias, mas que teme perder suas tradições. Uma cultura que ainda guarda na simplicidade sua maior sabedoria.

Assim, pelos olhos e lentes de John Madden – mesmo diretor de Shakespeare Apaixonado – Jaipur se abre a nossa frente em confusos travellings na multidão, ou em planos gerais magnificamente reveladores de suas tantas cores, gentes, motos, tuk-tuks… Dá quase para sentir o cheiro de curry no ar!

Saímos então de O Exótico Marigold Hotel com a sensação de que independentemente do lugar – India, Brasil, China, Inglaterra, Marrocos ou Marte – sempre há o que ver, o que fazer e o que descobrir depois que se atinge 60, 70, 80, 90 ou 100 anos (minha vó Dolores que o diga! Ela festejará seus 98 anos no próximo mês, super inteira e lúcida, para orgulho de sua grande família). Basta ser capaz de enxergar e de acreditar que nunca é tarde para experimentar a felicidade!

Twixt (2011)

•maio 20, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Twixt   

Origem: EUA

Diretor: Francis Ford Coppola

Roteiro: Francis Ford Coppola

Com: Val Kilmer, Elle Fanning, Bruce Dern, Ben Chaplin

Sombrio, estranho, surreal, não tão assustador, tampouco tão encantador, o último filme de Francis Ford Coppola se camufla de non-sense para falar de um  assunto altamente delicado: a morte de um filho e o peso que esse acontecimento tem na vida de um pai.

Apesar de todo o “jeitão” de filme de terror, Twixt é, na verdade, muito mais um filme sobre luto, sobre a dor da perda, sobre uma ideia obsessiva, que não deixa respirar nem viver. Uma obra de caráter pessoal e introspectivo de um Coppola maduro, independente – ele é seu próprio produtor -, de um homem vivido e machucado.

Uma história sobre uma ferida não cicatrizada que se reflete constantemente na obra de um artista, no caso do personagem deste filme, um escritor que se vê acometido pelo famoso writer’s block – bloqueio na hora de escrever suas histórias. Trata-se, assim, de um filme que esmiúça essas questões, fazendo um tipo de sessão de parapsicologia com o autor, a fim de analisar e entender as razões que o levam a sofrer deste mal.

O filme escrito e dirigido por Coppola, conta a história de Hall Baltimore (Val Kilmer), um escritor de thrillers envolvendo bruxas e bruxarias, que, acometido pelo alcoolismo, vive um momento difícil em sua carreira e em sua vida pessoal. Ele perdeu sua única filha em um acidente de barco e vê sua carreira e seu casamento desmoronando diante de seus olhos.

Na tentativa de divulgar seus livros, Hall acaba indo parar em uma cidade um tanto quanto sinistra, perdida no meio do nada, com uma torre com 7 lados, cada qual contendo um relógio que marca um horário diferente. Apesar das tantas horas, a cidade parece parada no tempo. Sem vida. Sem alma. Ou com muitas delas…

Procurado pelo Xerife (Bruce Dern) – que também fabrica casas para morcegos – para que, juntos, possam escrever uma história de vampiros, Hall toma conhecimento de um assassinato em série acontecido no passado em um hotel ali da cidade. Mais precisamente no hotel em que Edgar Alain Poe se hospedara.

Assim, com sua mente repleta de novos elementos – uma história de assassinatos em série, a figura de Edgar Alan Poe (Ben Chaplin), um Xerife convencido da existência de vampiros do outro lado do lago, e sobretudo, com a dor da morte de sua filha – Hall vai devagarinho construindo suas hipóteses, embarcando em viagens do além, realizando encontros mágicos e sobrenaturais…

Enquanto faz suas próprias investigações, viajando por sonhos e alucinações alcoolizadas, o escritor vai revivendo diariamente seu próprio pesadelo, travando sua batalha pessoal, lutando contra seus fantasmas, suas  culpas, seus medos, seus vícios, suas feridas não cicatrizadas.

Coppola escolheu construir seu filme de maneira a nos deixar confusos, sem sabermos ao certo o que é real ou o que é imaginado, o que é vivido ou sonhado. Como recurso estético, ele optou pelo  preto e branco para as cenas sonhadas ou imaginadas (contendo apenas um elemento com cor) e pelas cores – escuras e sombrias – para as cenas da “realidade”. Foi ainda buscar inspiração provavelmente nos Irmãos Cohen, apresentando o filme, o cenário e os personagens por meio de um narrador de voz curiosa, desfilando sob nossos olhos uns Estados Unidos nada glamoroso, nada idealizado. Os planos também fogem do convencional, tendo sido tomados por ângulos incomuns, o que, vez por outra, causam um certo desconforto, desassossego.

Twixt é assim um filme pessoal de Coppola. Mais um fruto (assim como Tetro, de 2009) desta sua fase independente, livre das amarras hollywoodianas. Um filme em que, mais do que nunca, Coppola parece querer resgatar sua história e seus fantasmas, assim como seu personagem-escritor. Haja vista a forma escolhida para a morte da filha de Hall: uma reconstituição perfeita da morte de seu próprio filho Gian-Carlo, em 1986. Um momento de total arrepio quando se tem conhecimento da história pessoal do diretor!

Pequeno Dicionário Amoroso (1997)

•maio 19, 2012 • Leave a Comment

Leve, divertido e despretensioso, este filme de Sandra Werneck nos apresenta o amor de A a Z (ou a X), visto tanto por olhos femininos quanto  masculinos! 

Com roteiro de José Roberto Torero e Paulo Halm, o filme conta com Daniel Dantas e Andréa Beltrão nos papéis principais. Além de Tony Ramos, Glória Pires, Mônica Torres e José Wilker.

A música – deliciosa! – ficou a cargo de Ed Motta e José Nabuco.

Para ler a crítica completa, clique aí na barra lateral, no link do parceiro CEBRAC – Centro Brasil Cultural.

Boa leitura e bom filme !!!!!!

Le Prénom (2012)

•maio 13, 2012 • Leave a Comment

Veja aqui o trailer do filme!

Título original: Le Prénom   

Origem: França / Bélgica

Diretores: Alexandre de la Patelièrre e Matthieu Delaporte

Roteiro: Matthieu Delaporte

Com: Patrick Bruel, Valérie Benguigui, Charles Berling, Guillaume de Tonquédec, Judith El Zein

Dentro dos mesmos moldes de Carnage, de Roman Polanski, lançado em 2011 (leia a crítica aqui, post de 5/2/2012 ), Le Prénom é uma peça de teatro levada à telona! Um filme em que o maior efeito especial é o texto! E que o jogo de cena é a grande “tecnologia” utilizada.

A história – baseada na peça escrita pelo mesmo Matthieu Delaporte que assina o roteiro do filme – começa quando Vincent (Patrick Bruel) e sua esposa Anna (Judith El Zein), grávida de 5 meses, são convidados para jantar na casa de sua irmã Elisabeth (Valérie Benguigui) e de seu cunhado Pierre (Charles Berling), na companhia ainda de um amigo de longa data, o pacífico e contido suíço Claude (Guillaume de Tonquédec).

Uma noite em família, com ares de normalidade, em que tudo parece estar no lugar – boa comida, bom vinho, boa música… – até o momento em que Vincent resolver anunciar o nome escolhido para o bebê.

Nasce ali, então, naquela noite, a polêmica. Seguida da revelação, da raiva, da vergonha, da falta dela , bem como do medo dos desdobramentos da verdade.

A paz e a leveza do início cedem espaço a discussões variadas, que vão se emendando, uma após a outra, se aprofundando, se complicando até chegar ao ponto do sem-volta. Verdades em forma de opiniões são cuspidas, vomitadas, berradas. O clima vai ficando pesado, tenso, quase insuportável. Segredos são revelados, “pecados” são expostos, mas as mea culpa são, na maior parte das vezes, ignoradas. E tudo isso sem nunca deixar de lado o humor inteligente e o volume alto dos debates tão tipicamente franceses!

Apesar do ambiente huis clos – praticamente todas as ações se passam entre a sala de jantar e a sala de estar do apartamento de Elisabeth e de Pierre – e do número não tão vasto de personagens, o filme consegue manter bem o ritmo, não nos deixando cair no sono nem no tédio em nenhum momento. Isso graças aos ricos diálogos e ao jogo de cena dos atores.

A crítica francesa não foi, no entanto, muito positiva com Le Prénom, talvez justamente pelo fato de o filme ser assim… tão francês… por mostrar, por meio de um humor mordaz, certos estereótipos gauleses que refletem (e que certamente exageram) um pouco do que eles são.

Há, por exemplo, o intelectual de esquerda, professor universitário, que se julga humilde, não ligando nada para as aparências nem para os bens materiais. Ele não se incomoda de não ter carro do ano e nem mesmo se preocupa com o que os outros pensam dele por usar sempre o mesmo paletó de veludo cotelê, até mesmo durante o verão…

Há também o personagem bling-bling (uma expressão bem francesa que é usada para os emergentes, para os que realmente ligam – e assumem que ligam – para as aparências). São os  capitalistas perdulários ou talvez um tipo de “nouveau dandy”, só que sem o charme intelectualóide desta figura.

Para completar o quadro dos clichês franceses, há ainda a mãe-esposa frustrada, que não foi adiante na carreira por causa do casamento e da maternidade; ou ainda a profissional bem sucedida que está sempre atrasada e que tem toda a pinta de que não vai ser boa mãe (ela até fuma durante a gravidez!!!!). Fora o artista, claro! Não há França sem arte! Um músico, mais precisamente, um homem do bem, sensível, que sabe apreciar o belo, que consegue tirar um imenso prazer das coisas simples da vida, como aromas, cores, sons, etc. Ah, um detalhe importante: o artista francês do nosso filme não é francês, é suíço. O que torna a “piada” ainda melhor, pois assim ele pode ser retratado como o “neutro”, o que se abstém de dar opiniões, o que não entra em guerras… Muito interessante ver como os franceses (e talvez o resto do mundo) pintam os suíços!

E assim o filme segue, enveredando em alguns pontos por caminhos perigosos, às vezes, sem volta, fazendo-nos pensar até onde devemos ir com a verdade. Até que ponto podemos conviver bem em sociedade sendo inteiramente sinceros. Perguntas talvez sem resposta. Ou talvez com respostas que nós simplesmente não queremos ouvir.

Enfim, Le Prénom é um filme divertido, com diálogos bem escritos, mesmo que empanados com uma cobertura de clichês diversos. Bem gostoso de se ver, bom para pensar e para se distrair!

Tropicália (2012)

•maio 6, 2012 • 1 Comment

Veja aqui a entrevista que me levou ao filme!

Origem: Brasil

Diretor: Marcelo Machado

Roteiro: Marcelo Machado, Di Moretti

Com: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom Zé, Hélio Oiticica, etc.

13h40. Olho a programação do Festival de Nyon pela Internet. Assisto a uma entrevista com um diretor brasileiro – Marcelo Machado – sobre seu documentário sobre o Tropicalismo. Ummmm, parece bem interessante! Pena que começa às 14h. Será que dá tempo? Começo rapidamente a fazer os cálculos: 10 minutos daqui até lá, mais 5 minutos pra estacionar, mais outros 5 pra comprar o ingresso e achar um lugar… Bem apertado, mas dentro de “condições normais de temperatura e pressão”, acho que dá. Agarro a bolsa, que está bem ao meu lado, desço a escada correndo, tranco a casa, entro no carro e voo, deixando para trás o computador aberto na página do Festival.

Chego a Nyon rapidinho, sem tráfego. Depois de dar umas duas rodadas no estacionamento, encontro enfim uma vaga, atravesso correndo a rua – na faixa, é claro, afinal, estou na Suíça – entro no prédio, localizo o guichê pra comprar o ingresso, pergunto esbaforidametne à moça do caixa se ainda dá tempo. Ela me responde “Oui, madame”; o filme não havia nem começado. Ufa! Tento acalmar minha respiração ofegante, pego meu bilhete, caminho apressadamente rumo à sala, ignorando pipocas, balas ou refrigerantes. Pego um lugar logo na segunda fileira e, antes mesmo de conseguir me desvencilhar do casaco, as luzes se apagam. Parece que o filme esperava por mim!

Ainda com o coração batendo rápido dentro do meu peito, vejo a tela preta ganhar as cores verde e amarela. Ancine, Petrobrás, Bossa Nova Films, etc. Todos nomes tão familiares mas também tão distantes. Transporto-me para o Brasil. Estou aqui e estou lá. Estou lá e estou aqui. O Brasil se abre a minha frente, me invade, me contamina. O espetáculo vai começar!

Mais do que um documentário, Tropicália é uma experiência sensorial, uma verdadeira viagem no tempo conduzida e embalada pelas vozes de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé e tantos outros. Um filme que ultrapassa o limite do documentário para atingir o patamar de quase-poesia, tocando nossas almas lá no fundo.

Escrito com uma linguagem dinâmica de clip, misturando grafismos a imagens de arquivos, trechos de filmes  (como os do Glauber Rocha, por exemplo) e de entrevistas que exploram o campo e o contra-campo, Tropicália é fruto de um trabalho de pesquisa riquíssimo. Algumas imagens que compõem o filme são inéditas até mesmo para os artistas que fizeram parte do próprio Tropicalismo, afirma uma de suas produtoras, Paula Concenza.

O filme de Marcelo Machado é, mais do que tudo, um reencontro.

Para os  brasileiros “da velha guarda”, um reencontro nostálgico com um momento tão marcante e importante da música e da política brasileiras – a política sendo o pano de fundo para a grande protagonista “música”.

Para mim – e para tantos outros que estão longe – Tropicália é um reencontro com meu país, com minha cultura, com minha gente.

Para os mais jovens, talvez o mais certo fosse falar de um primeiro encontro, de uma apresentação, de um aprendizado feito por meio do encantamento!

Deixo-me então levar pela música alta e abundante no filme. Redescubro os Mutantes, com uma Rita Lee tão novinha, com seus cabelos longos e seu estilo tão original. Fico encantada com tamanha ousadia e talento daquela banda! E vou assim me encantando e me emocionando a cada nova música, a cada nova entrevista, até não conseguir mais conter as lágrimas, que começam a deslizar copiosamente pelo meu rosto, ao ritmo dolorido de Asa Branca, na voz e no violão de um exilado Caetano Veloso. Absolutamente sublime!

O filme então termina e a plateia aplaude. Meus olhos ainda marejados sorriem timidamente, como se fossem os responsáveis pela beleza daquela obra. Quase me levanto para agradecer! Sinto então uma vontade danada de gritar: Esse aí é o meu país! É minha música! É minha terra! É minha gente! Mas as luzes se acendem e me fazem colocar o pé de volta na realidade, guardando então dentro do meu peito todo o orgulho que carrego de ter nascido em um país com tantas cores e sons! Viva o Tropicalismo! Viva Marcelo Machado! Viva o talento brasileiro!

 
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