Twixt (2011)
Origem: EUA
Diretor: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola
Com: Val Kilmer, Elle Fanning, Bruce Dern, Ben Chaplin
Sombrio, estranho, surreal, não tão assustador, tampouco tão encantador, o último filme de Francis Ford Coppola se camufla de non-sense para falar de um assunto altamente delicado: a morte de um filho e o peso que esse acontecimento tem na vida de um pai.
Apesar de todo o “jeitão” de filme de terror, Twixt é, na verdade, muito mais um filme sobre luto, sobre a dor da perda, sobre uma ideia obsessiva, que não deixa respirar nem viver. Uma obra de caráter pessoal e introspectivo de um Coppola maduro, independente – ele é seu próprio produtor -, de um homem vivido e machucado.
Uma história sobre uma ferida não cicatrizada que se reflete constantemente na obra de um artista, no caso do personagem deste filme, um escritor que se vê acometido pelo famoso writer’s block – bloqueio na hora de escrever suas histórias. Trata-se, assim, de um filme que esmiúça essas questões, fazendo um tipo de sessão de parapsicologia com o autor, a fim de analisar e entender as razões que o levam a sofrer deste mal.
O filme escrito e dirigido por Coppola, conta a história de Hall Baltimore (Val Kilmer), um escritor de thrillers envolvendo bruxas e bruxarias, que, acometido pelo alcoolismo, vive um momento difícil em sua carreira e em sua vida pessoal. Ele perdeu sua única filha em um acidente de barco e vê sua carreira e seu casamento desmoronando diante de seus olhos.
Na tentativa de divulgar seus livros, Hall acaba indo parar em uma cidade um tanto quanto sinistra, perdida no meio do nada, com uma torre com 7 lados, cada qual contendo um relógio que marca um horário diferente. Apesar das tantas horas, a cidade parece parada no tempo. Sem vida. Sem alma. Ou com muitas delas…
Procurado pelo Xerife (Bruce Dern) – que também fabrica casas para morcegos – para que, juntos, possam escrever uma história de vampiros, Hall toma conhecimento de um assassinato em série acontecido no passado em um hotel ali da cidade. Mais precisamente no hotel em que Edgar Alain Poe se hospedara.
Assim, com sua mente repleta de novos elementos – uma história de assassinatos em série, a figura de Edgar Alan Poe (Ben Chaplin), um Xerife convencido da existência de vampiros do outro lado do lago, e sobretudo, com a dor da morte de sua filha – Hall vai devagarinho construindo suas hipóteses, embarcando em viagens do além, realizando encontros mágicos e sobrenaturais…
Enquanto faz suas próprias investigações, viajando por sonhos e alucinações alcoolizadas, o escritor vai revivendo diariamente seu próprio pesadelo, travando sua batalha pessoal, lutando contra seus fantasmas, suas culpas, seus medos, seus vícios, suas feridas não cicatrizadas.
Coppola escolheu construir seu filme de maneira a nos deixar confusos, sem sabermos ao certo o que é real ou o que é imaginado, o que é vivido ou sonhado. Como recurso estético, ele optou pelo preto e branco para as cenas sonhadas ou imaginadas (contendo apenas um elemento com cor) e pelas cores – escuras e sombrias – para as cenas da “realidade”. Foi ainda buscar inspiração provavelmente nos Irmãos Cohen, apresentando o filme, o cenário e os personagens por meio de um narrador de voz curiosa, desfilando sob nossos olhos uns Estados Unidos nada glamoroso, nada idealizado. Os planos também fogem do convencional, tendo sido tomados por ângulos incomuns, o que, vez por outra, causam um certo desconforto, desassossego.
Twixt é assim um filme pessoal de Coppola. Mais um fruto (assim como Tetro, de 2009) desta sua fase independente, livre das amarras hollywoodianas. Um filme em que, mais do que nunca, Coppola parece querer resgatar sua história e seus fantasmas, assim como seu personagem-escritor. Haja vista a forma escolhida para a morte da filha de Hall: uma reconstituição perfeita da morte de seu próprio filho Gian-Carlo, em 1986. Um momento de total arrepio quando se tem conhecimento da história pessoal do diretor!