Bela Vingança (2020)
Título original: Promising Young Woman
Origem: Reino Unido / EUA
Direção: Emerald Fennell
Roteiro: Emerald Fennell
Elenco: Carey Mulligan, Bo Burnham, Alison Brie, Laverne Cox, Max Greenfield, Connie Britton, Chris Lowell
Quem nunca teve vontade de se vingar daquele alguém que te fez sofrer? Não que o sentimento seja nobre, mas ele existe e é legítimo. O problema é, na verdade, até onde ir para ver satisfeito esse desejo… Bela Vingança (2020), da britânica Emerald Fennell, que concorre ao Oscar de melhor filme neste ano, trata exatamente desse tema de maneira inusitada, colorida, “musicada”, por vezes divertida, por vezes sombria e angustiante.
Trata-se, na verdade, de um thriller-comédia que traz a violência contra a mulher como tema central, mostrando a indiferença com que muitas vezes o assunto é tratado pela sociedade, incluindo as próprias mulheres, que por puro medo, ou por terem sido formatadas para achar aquele comportamento natural, acabam por relevar atos simplesmente inaceitáveis. Um tema pra lá de atual, nestes tempos em que vemos crescer o número de feminicídios em todo o mundo!
Com uma estética que ora lembra o Maria Antonieta (2006), de Sophia Coppola, ora o Coringa (2029) de Todd Phillips (ambos excelentes, por sinal!), o filme de Fennell é ambientado em um mundo cheio de cores, com uma paleta pastel que sugere uma espécie de caricatura do universo feminino, contrastando fortemente com o tema violento e sombrio ali tratado. A protagonista Cassandra – uma fantástica Carey Mulligan, concorrendo, aliás, ao Oscar de melhor atriz – veste, por sua vez, um figurino que se alterna entre o inocente e o vamp (com um quê de Harley Quinn), construindo um retrato perfeito da própria personagem, uma mulher marcada por traumas da adolescência, e que alterna doçura e veneno com muita desenvoltura! Para completar esse universo de contrastes tão presentes no filme de Fennell, uma trilha sonora dissonante embala as ações mais importantes!
Todos essas dissonâncias ajudam, na verdade, a trama a não cair no maniqueísmo simplório. Os personagens são complexos, nem bons, nem maus ( são os dois), mas são, sobretudo, o resultado de uma sociedade que precisa aprender urgentemente a criar seus meninos e meninas de forma igualitária, justa e consciente, aceitando suas escolhas de forma livre e não baseada em arquétipos e amarras pré-determinadas.
Apesar do tema pesado, Bela Vingança é um filme gostoso de ver, com ótimo ritmo, deliciosa trilha sonora e uma atuação fantástica de Carey Mulligan. Um filme feminista na medida certa, que mostra que vingança pode ser um prato que se come com charme, inteligência, cor, mas também com muita dor. Ele concorre ainda em outras 3 categorias: montagem, direção e roteiro original, essas duas últimas com a assinatura de Emerald Fennell. Um super trabalho dessa jovem britânica que participa de uma premiação que já virou História, ao ter indicado pela primeira vez, em 93 anos, duas mulheres ao Oscar de melhor direção. Que venham outros mais! Sem vingança!!!!
PRA PENSAR e PRA SE DIVERTIR