Meu Pai (2020)
Título original: The Father
Origem: Reino Unido / França
Diretor: Florian Zeller
Roteiro: Florian Zeller, Christopher Hampton
Elenco: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Olivia Williams, Imogen Poots, Rufus Sewell, Mark Gatiss
Concorrendo ao Oscar em 6 categorias – melhor filme, melhor ator (Anthony Hopkins), melhor atriz coadjuvante (Olivia Colman), melhor roteiro adaptado, melhor montagem e melhor design de produção – Meu Pai, do francês Florian Zeller, é um filme-experiência que aborda com beleza, crueza e poesia as dificuldades do envelhecer!
Baseado na peça Le Père, escrita pelo mesmo Florian Zeller, o filme conta a história de uma filha angustiada, que já não sabe mais o que fazer para cuidar de seu pai octogenário que sofre de demência. Ele se recusa a receber ajuda e cria confusão com todas as cuidadoras que a filha tenta arrumar!
Até aí, nada de novo! Parece até uma daquelas histórias que vão-nos fazer chorar até a última lágrima. Ledo engano! Não que gotas não escorram dos olhos – principalmente se você estiver vivenciando ou já tiver vivido algo semelhante –, mas o filme de Zeller é muito maior do que isso. Ele desorienta, desassossega, angustia, e desconcerta porque nos coloca justamente no lugar do protagonista e de sua doença. E não como meros espectadores. Sentimos por ele, sofremos com ele, perdemo-nos com ele!
E para isso, o diretor – que também é o responsável pela adaptação do roteiro – faz um uso absolutamente fantástico do cenário, com trocas sutis (ou nem tanto) da decoração do apartamento, com seus corredores e portas que mais parecem um labirinto, onde não é fácil se achar, principalmente quando o cérebro já insiste em pregar peças!
Dica: prestem bastante atenção ao cenário do filme! O apartamento é praticamente outro personagem e as mudanças em sua decoração são chave para entender essa história. É assim que percebemos (ou não) a passagem do tempo e a progressão da doença, ajudadas pelos cortes secos da montagem, de forma às vezes discreta, às vezes abrupta, sempre bastante confusa. Sem falar na troca de atores. De repente Anne, a filha, que é interpretada por Olivia Colman, aparece na figura de outra atriz (Olivia Williams). Mas quem é mesmo quem nessa história? O que é realidade, o que é confusão? Qual versão é a verdadeira? Onde estamos afinal?
Vemos e sentimos com olhos de Anthony, o pai, interpretado de forma magistral por Sir Anthony Hopkins. Há quem diga que esta é uma das melhores performances de sua longa carreira! Não vi toda sua filmografia para fazer tal afirmação, mas que ele dá um show de interpretação, isso ninguém pode discutir! Seu olhar perdido – por vezes desesperado, por vezes entristecido, agitado ou desligado – é de cortar o coração! E Olivia Colman não deixa por menos, fazendo com Anthony Hopkins uma dupla de primeira grandeza. O sofrimento contido, dolorido, desesperado de uma filha que sabe que a situação só tende a piorar, dá um nó no estômago, um aperto no peito… uma sensação de desesperança!
Ao mesmo tempo, ao colocar-nos “nos sapatos” de Anthony, Meu Pai acaba por dar-nos também uma espécie de orientação, funcionando quase como um antídoto, ou como uma conversa com o geriatra ou com o psicólogo, fazendo-nos entender que a única munição da qual dispomos para enfrentar essa doença é o amor e a paciência. Não adianta ficar com raiva, brigar ou discutir! É preciso ouvir, abraçar e dar colo para quem já fez tantas vezes o mesmo por nós.
FILME PARA PENSAR, PRA CHORAR E PRA SE ENCANTAR.