O Dilema das Redes (2020)

Título original: The Social Dilemma

Direção: Jeff Orlowski

Roteiro: Jeff Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis

Entrevistados: Tristan Harris, Aza Raskin, Justin Rosestein, Shoshana Zuboff, Jaron Lanier, Skyler Gisondo, Kara Hayward, Vincent Kartheiser, Anna Lembke

Para os que não temem o espelho, minha recomendação hoje é o documentário O Dilema das Redes, lançado neste mês na Netflix, dirigido por Jeff Orlowski. 

Lançado no Sundance Film Festival no início deste louco 2020, só agora o filme está disponível nessa plataforma de streaming. Estariam os dirigentes da poderosa Netflix analisando cuidadosamente o impacto que esse documentário poderia ter em seus números, já que a ideia aqui é justamente a de despertar a consciência de que estamos sendo manipulados pelas máquinas, ou pelos tão falados algoritmos???!!! 

Em O Dilema das Redes, algumas das mentes brilhantes por trás da criação do Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, Pintarest, etc. falam dos perigos ocultos (ou não tão ocultos) dessas redes sociais, reconhecendo abertamente que a criatura acabou dominando o criador! Em sua defesa, eles alegam que todas essas ferramentas de comunicação teriam sido criadas com um propósito X, que teria sido aos poucos desvirtuado, ganhando então vida própria para seguir o caminho perverso da total manipulação de seus usuários, resultando em lucros cada vez mais exorbitantes para seus jovens proprietários. Mas, será que esses moradores do Vale do Silício foram mesmo assim tão ingênuos a ponto de não prever em que suas invenções iam se transformar? Tenho cá minhas dúvidas…

O fato é que nos tornamos realmente uma sociedade altamente controlada, refém das redes sociais e dos mil aplicativos que surgem a cada dia aos borbotões, cada um com mais atrativos do que o outro. As ferramentas de controle são tão perfeitamente engendradas que deixariam George Orwell e Michel Foucault boquiabertos!

Em 2019, Privacidade Hackeada já tinha me deixado assustada com a constatação do poder que os tais algoritmos exercem em nossas vidas. O documentário de Karim Amer e Jehane Noujaim, que expõe e analisa o escândalo envolvendo Facebook e Cambridge Analytica na manipulação das informações de seus usuários durante campanhas eleitorais nos EUA e na Inglaterra, é um soco no estômago! Lembro que, aterrorizada ao entender a face sangue-suga das redes sociais, fiquei um bom tempo sem querer entrar na minha conta de Facebook e, desde lá, confesso que reduzi bastante meu tempo gasto nessa rede social. No entanto, como não sou de ferro e estando bem inserida nesta sociedade do espetáculo na qual vivemos, acabei substituindo-a pela “irmã” Instagram. Sem falar que nunca tive coragem de simplesmente “deletar” minha conta. Mea culpa.

No caso de O Dilema das Redes, o que mais assusta talvez seja a compreensão – ou a confirmação – do impacto que as redes sociais têm na formação (ou deformação) de nossas crianças e adolescentes. Obviamente, nós, pais e mães, já temos claro há algum tempo que o excesso de tempo passado na frente das telas é nocivo à saúde física e mental de nossos filhos. Mas quando ouvimos isso dos próprios criadores de tais ferramentas, corroborados por depoimentos de psicólogos experts no assunto – Professores de Stanford e Harvard -, a coisa parece que fica ainda mais gigantesca e ameaçadora.

Mas o que podemos fazer para mudar nosso comportamento se hoje tudo passa pelas redes? Como não checar o email várias vezes ao dia, ou o Facebook, Instagram, Linkedin, WhatsApp, se tantos negócios são feitos por ali? Sobretudo depois que a pandemia do Coronavirus passou a comandar nossas vidas? Como não ser um refém das redes? Essa é a pergunta que fica no ar quando terminamos de assistir a O Dilema das Redes. Uma pergunta para a qual não se tem fácil resposta, já que vivemos agora no que a psicóloga e economista Shoshana Zuboff chama de “capitalismo de vigilância”, surgido a partir do nascimento da Google e da monetização de dados pessoais via Internet. Um fenômeno que se espalhou rapidamente por todo o Vale do Silício, reflexo mesmo da evolução da tecnologia, e que trouxe uma série de benefícios para nossa sociedade. Isso não há como negar! É só lembrar como era a vida sem Uber, Rapi, Airbnb, Zoom e tantos outros aplicativos. 

No entanto, para que a “criatura” não seja soberana, é urgente criarmos mecanismos para driblar seu esquema de manipulação! Talvez passando alguns dias sem acessar às redes, desligando as notificações, não aceitando toda sugestão de artigo para ler ou de publicidade daquele produto que você nem precisa tanto… sei lá!   Pode ser que despistando os que nos controlam tenhamos alguma chance de não sermos tão escravos de suas escolhas. Porém, a maior ferramenta que temos e que precisamos desenvolver em nossas crianças e adolescentes é o pensamento crítico. Hoje, mais do que nunca, é preciso, ensinar nossos jovens a pensar. A educação mais uma vez – e sempre – parece ser o melhor caminho. Talvez o único!

PARA PENSAR MUITO

~ by Lilia Lustosa on setembro 27, 2020.

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