O Regresso (2015)

Título original: The Revenant

Origem: EUA

Direção: Alejandro González Iñárritu

Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Mark L. Smith, Michael Punke (livro)

Com: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Domhanall Gleeson, Will Poulter, Paul Anderson, Forrest Goodluck

A corrida para o Oscar já começou há algum tempo, mas só agora estou tendo a oportunidade de começar a assistir aos filmes-candidatos de 2016. Abro hoje, então, os trabalhos com aquele que obteve o maior número de indicações – 12 no total – à premiação concedida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Americana: O Regresso.

Filmão, a ser visto impreterivelmente no cinema, poético, tenso, denso, sublime e sangrento.

Baseado no livro de Michael Punke, O Regresso conta a história (verídica, apesar de inverossímil) de sobrevivência de Hugh Glass, um caçador de peles de animal e espécie de guia nas terras geladas do norte dos Estados Unidos, fronteira com Canadá. Personagem magnificamente interpretado por Leonardo DiCaprio, que tem grande chance de levar a estatueta dourada neste ano.

The-Revenant-Poster-Leonardo-DiCaprio-slice

No início do século 19 (por volta de 1820), Glass, acompanhado de seu filho mestiço Hawk (Forrest Goodluck), tem como missão auxiliar um grupo de mercenários (caçadores de pele) e oficiais americanos a atravessar os “desertos” gelados do Missouri. Uma região bela e hostil, habitada por animais selvagens e índios das tribos Pawnee e Ree (Arikaree), e extremamente disputada por americanos e franceses que buscam na caça aos animais (e às suas peles) a solução para o frio, para os seus bolsos e para suas conquistas territoriais.

Dentro do grupo há John Fitzgerald, também magnificamente interpretado por Tom Hardy, um homem incrédulo que odeia índios e que não enxerga em Glass nada além de um inimigo. A razão principal para tanta animosidade é o passado “duvidoso” do rapaz: filho com uma Pawnee e assassinato de um oficial americano. Depois então que Glass é atacado por um urso fêmea e fica entre a vida e a morte, tornando-se um peso para a expedição, Fitzgerald encontra ainda mais motivos para descarta-lo do grupo. Assim, quando encarregado de cuidar do moribundo, enterra-o (não totalmente) ainda com vida em uma cova e o abandona naquela imensidão gelada.

A partir daí começa a saga de Glass, um homem com feridas profundas que renasce para se vingar de seu algoz.

E para contar essa história de amor e vingança, Iñárritu foi buscar no olhar certeiro e poético do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki seu maior trunfo. O já “oscarizado” diretor de fotografia de Gravity (2013) e Birdman (2014) tem mais uma vez grandes chances de levar neste ano, a terceira consecutiva.

Sublime talvez seja a palavra mais acertada para definir a estética de O Regresso. Uma natureza bela e aterrorizante, que fascina e amedronta, filmada com maestria. Planos-sequências, planos estáticos, planos longos, primeiros planos, closes, planos curtos, tudo se alterna, complementa e intercala. Planos filmados com uma câmera bailarina (ou guerreira) que acompanha de perto o movimento dos personagens, nos fazendo viver cada cena. Batalhas filmadas com realismo, com flechas atravessando corpos, muito sangue e muita agitação contrastam com a beleza de longos planos calmos de paisagens encantadoras que demonstram a pequenez do homem diante da natureza.

Iluminação natural, sem efeitos, que trazem ainda mais realismo para o cenário de O Regresso complementam a estética de O Regresso. Difícil dizer quais cenas merecem destaque, são tantas… talvez me arriscasse em assinalar a que Glass se torna um pontinho preto no meio do vasto branco já na segunda metade do filme, ou a linda cena do céu visto em contra-plongée absoluto, ao som da respiração do protagonista, ou ainda o primeiro plano-sequência, logo após o prólogo, em que, com uma câmera baixa sobrevoamos algo que parece ser um riacho, à altura dos pés dos personagens. Não sei… são tantos momentos sublimes!

Uma cena que marca, não só pela estética, mas, sobretudo, pelo que ela representa no filme é aquela em que Glass tira as tripas do cavalo para se abrigar em seu ventre. Momento em que vemos a necessidade de proteção materna (e/ou paterna) para, em seguida, vermos o renascer do animal homem. A simbiose homem natureza, homem animal, lindamente representada por um plano em plongée absoluto em que o vermelho ganha destaque na imensidão branca.

O aspecto “família” (maternidade, paternidade), aliás, é central no filme, um verdadeiro leitmotif que move seres de tribos, raças e espécies tão distintas. Todos, ou quase todos ali, são movidos por questões familiares: o índio que sai em busca da filha raptada, Glass que quer vingar a morte de sua família, o índio que aparece mais tarde na historia e que erra pelo mundo depois de ter perdido sua esposa ou ainda a ursa que ataca para proteger seus filhotes… Um tema universal que transcende culturas, línguas, regiões geográficas, credos religiosos, etc.

Com este filme épico-poético, Iñarritú continua a esbanjar talento, tornando-se um forte candidato na corrida ao Oscar. Se tivesse que assinalar um senão do filme, seria o ritmo. A duração não ajuda, claro! O filme é longo e em alguns momentos acaba pesando um pouco, fica muito lento, talvez dispersando a atenção de alguns espectadores. Talvez um equilíbrio melhor entre cenas de ação e cenas de contemplação tivessem ajudado neste quesito. Mas nada que tire o brilho deste filme que veio para entrar na história.

Um filme PRA SE ANGUSTIAR e PRA CONTEMPLAR.

 

~ by Lilia Lustosa on fevereiro 3, 2016.

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