Her (2013)
Origem: EUA
Diretor: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Com: Joachin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Scarlett Johansson
Um conto pós-moderno. Uma crônica sobre a solidão.
Num futuro não muito distante, em que os carros ainda não voam, os alienígenas ainda não dominaram o planeta, mas os homens já perderam a capacidade de se relacionarem uns com os outros, o sensível e romântico Theodore (Joachin Phoenix) ganha a vida escrevendo (ditando) cartas em nome de outras pessoas.
Num cenário dominado por arranha-céus e névoas de poluição, a solidão parece aplacar a humanidade, ameaçando de extinção as relações humanas. Em meio às multidões que recobrem as grandes cidades, os indivíduos se cruzam mas não se olham, não se ouvem nem se falam. Preferem falar sozinhas ou com suas máquinas pessoais, espécies de super-secretárias-robôs-damas-de-companhia que fazem de tudo um pouco, inclusive (e sobretudo) companhia.
Theodore, em pleno processo de divórcio, apaixona-se, então, por seu novo sistema operacional recém-lançado no mercado. Uma espécie de máquina inteligente – à la Hal 9000, de 2001 Uma odisseia no espaço (1968), bem menos maquiavélica, claro – que o conquista já no primeiro “encontro”. Com sua voz sexy (a voz de Scarlett Johansson) e calorosa, seu bom humor e sua eterna disponibilidade e capacidade de compreensão, ela representa para o romântico e solitário escritor de cartas o ouvido tão sonhado, a companheira idealizada, a forma perfeita de driblar a realidade.
Com um jogo bonito de cores quentes e de ambientes vazios (reparem nas quatro cadeiras sem mesa do apartamento de Theodore), a vida também vazia dessa cidade sem nome, vai passando de forma rotineira, confundido dia-a-dia realidade com virtualidade, relações concretas com relações idealizadas, sentimentos desbotados com sonhos cheios de cor.
A personagem de Amy Adams – que não por acaso se chama Amy – talvez represente a realidade que “mora ao lado”, mas que parece sempre tão distante e tão difícil de se enxergar nesse mundo pós-moderno, coberto por uma desbotada, mas espessa névoa tecnológica.
E curiosamente, em meio à tanta tecnologia e modernidade, o clima que paira em todo o filme é o da nostalgia, vide o figurino dos personagens, sempre vestidos com aquelas calças de cintura alta, ou o próprio bigode de Theodore. Uma espécie de tentativa inconsciente de resgatar uma época em que as pessoas ainda se olhavam nos olhos, apertavam as mãos umas das outras e que ainda precisavam de carne e osso para viverem seus relacionamentos.
Nesta nossa era dominada por dispositivos eletrônicos, o Her de Spike Jones traça uma bela reflexão sobre a direção que estamos tomando nos diversos tipos de relacionamento que compõem nossas vidas. Um filme PRA PENSAR.