Philomena (2013)

Veja o trailer aqui!

Título original: Philomena   philomena-movie-banner-new

Origem: Inglaterra / EUA / França

Diretor : Stephen Frears

Roteiro : Steve Coogan, Jeff Pope, Martin Sixsmith

Com : Steve Coogan, Judy Dench, Sophie Kennedy Clark, Mare Winningham

Comecei o ano de 2014 escrevendo sobre um filme encantador, cheio de sutilezas, poesia e sensibilidades – o indiano The Lunchbox. Hoje, abro os trabalhos de fevereiro com um filme igualmente tocante, (talvez ainda mais por se tratar de uma história real), desta vez uma coprodução Inglaterra/França/EUA, que soube dosar com maestria humor e drama, sem nunca se deixar cair na armadilha da pieguice nem da lição de moral barata.

Lindo, sensível, inteligente, bem humorado e tocante!

Baseado no livro The Lost Child of Philomena Lee, escrito em 2009 pelo jornalista Martin Sixsmith, Philomena conta a história real de uma mãe-adolescente numa Irlanda católica dos anos 1950, expulsa de casa e enviada a um convento para assim encobrir sua própria existência e seu pecado.

O filho de Philomena nasce ali naquele ambiente de escravidão e de culpa, e vai ali crescendo até o dia em que, com apenas 3 anos de idade, será adotado (vendido) por uma família de americanos, sem que a jovem mãe tenha tido direito nem mesmo a um adeus!

Dali em diante, a ainda adolescente Philomena (interpretado quando adulta pela magnânima Judy Dench) seguirá seu destino de castigo e culpa, dividida entre o pecado do sexo antes do casamento (e com prazer) e o pecado da mentira mantida para preservar sua imagem e sua sobrevivência em uma sociedade extremamente conservadora e preconceituosa.

A dupla culpa-pecado é, aliás, o fio condutor desse filme brilhantemente roteirizado por Steve Coogan, que encarna também o papel do jornalista inglês Martin Sixsmith (super inglês indeed!), responsável por revelar para o mundo a história de Philomena, bem como de tantas outras mães-adolescentes irlandesas, depois de tê-la ajudado a descobrir o paradeiro do filho roubado.

Culpa e pecado incutidos por uma cultura regida pela Igreja Católica e que vão ser constantemente questionados ao longo do filme, sem, no entanto, tomar de fato nenhum partido, sem estabelecer nenhuma conclusão fechada. Ora concordamos com Sixsmith (no meu caso, muitas vezes) e com sua revolta contra os absurdos incutidos pelo catolicismo, ora compreendemos e respeitamos a fé quase cega que move Philomena. Entendemos, por exemplo, o espanto do jornalista com relação ao desejo de confissão de Philomena, em que ele agressivamente pergunta: Se confessar porque, pra que? Que pecados você tem pra confessar? Sugerindo, em seguida, que quem deveria se confessar era a própria Igreja que lhe tomara o filho, vendendo-o e sonegando informações sobre seu paradeiro. Ao mesmo tempo em que apreciamos e respeitamos o desejo de Philomena, admirando sua bondade, seu coração “largo” (como diz meu pai) e sua infinita capacidade de perdão. E essa liberdade de pensamento é fantástica no filme!

Fora a questão religiosa, temos também no filme de Frears, um confronto entre dois mundos bem distintos: de um lado, o jornalista sendo o típico inglês upper class, egresso de Oxford e morador de Knightsbridge, bairro super chique de Londres, frequentado pela fina flor (É lá que fica a Harrods, by the way!); e do outro lado, Philomena, enfermeira aposentada, representante típica da working class britânica. Gente que rala, que lê literatura cor-de-rosa e que se deslumbra com as ameneties de hotéis ou com o serviço de bordo de companhias aéreas que não sejam nem a  RyanAir nem a Easyjet. Um confronto que rende diálogos riquíssimos, cheios de humor inteligente, e que dão leveza à história densa e triste de Philomena.

Esse confronto entre dois mundos tão díspares, tantas vezes reproduzidos em filmes de diversas nacionalidades, ganha na versão de Frears, uma nova cara, bem mais leve, menos piegas, menos maniqueísta e bem menos moralista. O diretor de A Rainha (2006) nos presenteia, isso sim, com uma rica troca cultural, em que as diferenças fazem refletir, questionar, mas sem invadir o espaço uma da outra, sem tomarem um o lugar da outra.

Construído por inúmeros flashbacks de textura diferente, com imagens mais granuladas e com cores mais desbotadas do que as do presente, Philomena é também um filme esteticamente bem sucedido. Composto por belos closes que nos aproximam dos personagens, por uma paleta de cores com tons escuros e frios, capazes de nos colocar, assim, bem dentro dessa história que nos revolta, espanta e, ao mesmo tempo, encanta-nos enormemente.

Um filme PRA PENSAR e PRA SE ENCANTAR. Concorrendo ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora Original. E Judy Dench, claro, ao de Melhor Atriz.

~ by Lilia Lustosa on fevereiro 2, 2014.

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