Argo (2012)

Veja o trailer aqui!

Título original: Argo  

Origem: EUA

Diretor: Ben Affleck

Roteiro: Chris Terrio, Joshuah Bearman

Com: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman, Alan Arkin

Filmão!!!! Daqueles que há tempos não via! Do tipo que te faz grudar os olhos na tela durante duas horas e pouco, te faz prender a respiração em vários momentos, apertando o  braço da cadeira ou o da pessoa ao lado. Uma verdadeira aula de cinema!

Baseado em uma história real e emocionante, acontecida no finalzinho dos anos 1970, Argo conta o passo-a-passo de um resgate de seis diplomatas americanos escondidos em solo iraniano, feito pela CIA (Central Intelligence Agency) e executado por Tony Mendez – um especialista em exfiltrações – interpretado pelo também diretor Ben Affleck.

Optando por uma estética vintage, de imagens granuladas, Affleck resolveu não só nos contar uma história passada nos anos 70, mas quis (e conseguiu) nos levar de volta ao fim da década de 1970.

Desde a abertura do filme, quando a logo da Warner Bros surge à nossa frente, já temos a impressão de termos voltado no tempo… A imagem não parece tão nítida para nossos olhos de século 21,  já tão acostumados a ver a vida em alta definição. Chegamos até a sentir um certo desconforto ou estranhamento. Em seguida vem uma sequência de abertura em formato de storyboard + fotos de arquivos, acompanhada de narração didática, resumindo a história do Irã e situando-nos no contexto tenso da história que nos vai ser contada

Teerã, novembro de 1979. A Embaixada Americana é invadida pelos militantes islamitas que reclamavam a volta de seu líder, exilado nos EUA. Eles o queriam de volta para que ele fosse morto em sua terra natal, lugar onde ele próprio havia matado tanta gente.

Durante a invasão, um grupo de seis diplomatas resolve fugir da Embaixada, encontrando abrigo na residência do Embaixador canadense. Lá eles ficam escondidos, presos e isolados, sem o conhecimento dos islamitas iranianos. Os outros diplomatas americanos são feitos reféns e ficam presos dentro da Embaixada.

A CIA resolve agir e enviar, então, um de seus agentes com o intuito de resgatar as seis ovelhas desgarradas de seu rebanho. Acontece que os americanos estavam pra lá de visados no Irã. Seria simplesmente impossível passar pelo controle de imigração. Várias possibilidades são pensadas. Mas a “pior melhor ideia” é justamente a de Tony Mendez que, inspirado pelo filme A Batalha do Planeta dos Macacos (1973), propõe trazer os seis diplomatas como se eles fossem parte de uma equipe canadense de produção de um filme de ficção científica. Eles estariam lá fazendo as pesquisas de campo, para ver se Teerã seria de fato uma boa locação para sua nova produção.

No entanto, para que  a coisa toda convencesse, era preciso que existisse de fato um filme em produção, com tudo o que se tem direito. Roteiro de verdade, equipe de produção de verdade, lançamento, etc. O roteiro escolhido foi Argo. O produtor, Lester Siegel (Alan Arkin). E o maquiador, John Chambers (John Goodman), ganhador de um Oscar pelo seu excelente trabalho nos 5 filmes do Planeta dos Macacos.

A história acontece, portanto, em três locais simultaneamente: Hollywood, local de falsa produção do filme; Washington, sede da Cia, e local de onde os comandos são dados; e Teerã, onde a invasão e a tentativa de resgate acontecem. Cada uma das partes tem, por sua vez, características diferentes, que ajudam a delimitar bem os acontecimentos, complementando-os e os enriquecendo.

A parte de Hollywood é a responsável por trazer um pouco de leveza e humor ao filme. A de Washington traz o suspense gerado pela burocracia e pelos entraves políticos, como nos bons filmes de espionagem. Teerã é o drama, a tragédia. Imagens desfocadas, com movimentos imprecisos, grandes zooms nos personagens, mostrando-nos suas caras e seus sofrimentos. Tudo isso alinhavado por uma trilha brilhante e por uma atuação super realista por parte de todos os atores.

O mais interessante é que, para este seu terceiro longa-metragem, Affleck não foi buscar na tecnologia seu grande trunfo. A grande sacada de Argo é, na verdade, sua montagem. Um trabalho de grande precisão e cuidado, que nos faz colar na cadeira de tensão, ansiedade, angústia, esperando o próximo passo de Tony Mendes. Esperando que a próxima cena traga uma solução, um alívio para nossas almas aflitas. Uma grande aula de “montagem paralela”, recurso introduzido por  Edwin S. Porter, já em 1903, com seu marcante O Grande Roubo do Trem.

Um bom exemplo dessa excelência na montagem é a cena de leitura do roteiro, alternada com invasão da Embaixada. Absolutamente fantástica!

Perseguindo ainda seu objetivo de tornar aquela história plausível – possível de ser encarada como “história real”, já que o é – Affleck explorou bastante a câmera subjetiva selvagem, em que os olhos da câmera são também os nossos olhos. Nós, espectadores, estamos lá! Estamos no meio daquela multidão, somos parte do filme! Sentimo-nos parte daquela história! Somos também personagens e, por isso, sofremos. Por isso, suamos!

A fim de conseguir esse efeito na cena da invasão da Embaixada, ao mesmo tempo que plantou sua 35mm no alto de uma grua, Affleck distribuiu câmeras Super 8 para alguns figurantes e deixou que filmassem à vontade. E foram essas as imagens escolhidas! Nada de imagem digital de alta definição, nada de imagem certinha, bem enquadrada, profissional. O que ele nos deu foi trechos de realidade!

Argo é assim um filme sobre um acontecimento dos anos 70, feito aos moldes dos anos 70, à base de suor e talento. E por isso ele parece tão real! Por isso ele é tão bom!

Um filme PRA APRENDER e PRA FICAR TENSO. Forte candidato ao Oscar.  Imperdível!

~ by Lilia Lustosa on novembro 27, 2012.

2 Responses to “Argo (2012)”

  1. Liloca querida,
    Adorei o ” Argo” e muito muito mais os seus comentários, demais. Parabéns, saudades e agora mais ainda seu fã. BJS Joelzim

    • Joelzim querido, que bom receber um comentário seu!!!! Fiquei muito feliz de saber que você gostou dos filmes e dos meus textos. Estou gostando bastante de escrever sobre cinema. Tanto que até ingressei agora no Doutorado, você acredita? Estou de volta aos livros, à pesquisa e mergulhando mais do que nunca no mundo do cinema! Beijos saudosos, meu amigo.

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