Um Divã para Dois (2012)
Origem: EUA
Diretor: David Frankel
Roteiro: Vanessa Taylor
Com: Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell
Quando lemos Meryl Streep, lemos imediatamente: “filmão”! E quando descobrimos que seu parceiro será Tommy Lee Jones, temos praticamente a confirmação de que estamos diante de um obra-prima do cinema. Mas não. Desta vez não é bem o caso!
Um Divã para Dois é, sem dúvida, um filme divertido, com boas interpretações por parte dos dois atores, mas que, infelizmente, não encanta!
No melhor estilo comédia romântica hollywoodiana, o filme do mesmo diretor de O Diabo Veste Prada é composto por um amontoado de clichês, déjà vus e happy endings. A diferença é que, desta vez, o par romântico não é formado por uma mulher que veste size zero nem por um garotão de barriga tanquinho… Ao contrário, o casal em destaque já chegou à casa dos 60, não esconde suas rugas, seu corpo mais volumoso, nem sua falta de elã pela vida conjugal.
Aliás, é justamente essa falta de desejo pelo desejo que eles vão tentar mudar. Ou mais precisamente, que ELA vai tentar resgatar.
A história do filme é, então, a de uma mulher – Kay (Meryl Streep) – que, ao celebrar seus 31 anos de casamento, descobre-se infeliz. Sua vida entrou em uma rotina sem graça, em que não há mais espaço para diálogos, carinhos, intimidades nem alegrias. Como se a vida se movesse por inércia apenas.
Apesar de seu companheiro Arnold (Tommy Lee Jones) não parecer insatisfeito com a vida que leva, Kay, inconformada com a infelicidade, vai buscar ajuda de um especialista – Dr. Alfred – interpretado por um difícil-de-levar-a-sério Steve Carell. Ele é o dono de uma centro de reconciliação de casais em Great Hope Springs, uma cidadezinha no litoral de Maine, no nordeste do Estados Unidos.
O x da questão é que, por se tratar de uma terapia de casal, obviamente é preciso que marido e mulher estejam presentes e de comum acordo. Acontece que o rabugento Alfred não está nem um pouco interessado nesta “balela” de terapia de reconciliação, tendo sido levado praticamente à força até Hope Springs, o que torna todo o “tratamento” bem mais difícil!
A estrutura do filme é simples, composta de cenas das sessões de terapia, em que o casal – sempre sentado em um sofá – revela suas frustrações, infelicidades, sonhos e fantasias. Seguidas por cenas de exercícios de intimidade (ou tentativa de intimidade) do casal. Algumas das quais conseguem nos arrancar boas risadas, outras nos desconcertam e outras ainda nos dão um certo nó na garganta.
Assim, em um jogo constante de close-ups, os rostos do trio Kay-Alfred-Arnold se revezam na tela, nos deixando mais próximos dos personagens, como se estivéssemos, nós também, participando da terapia.
Nas cenas do sofá, que também se repetem constantemente, a distância entre o casal reflete o estado de intimidade e de (in)felicidade dos dois. Nas primeiras sessões, vemos Kay e Arnold sentados bem distantes um do outro. Já em outra cena, mais tarde, quando as coisas parecem melhorar, percebemos a distância entre os dois diminuir (pelo menos no sofá); eles sentados, então, perto um do outro, no cantinho, deixando mesmo escapar um sorriso cúmplice.
Arnold sempre vestido de cores escuras, revezando diferentes espessuras de listras masculinas, e ela com roupas bem femininas, de cores mais suaves, florais ou de golas com babados. Uma representação explícita dos dois universos, masculino e o feminino, ela sendo a parte mais sensível, mais frágil, símbolo de uma geração em que “moças de família” não podiam ter fantasias nem vontades sexuais. E ele, representante do macho insensível, provedor, a quem todo tipo de sexo e de fantasia eram permitidos. Certamente, uma linguagem estereotipada, mas que não deixa de refletir características reais (embora gerais) de uma geração que assim foi ensinada.
A trilha do filme – bem gostosa por sinal – é composta por pop music (Lenny Kravitz, Annie Lennox, Al Green, Van Morrison, etc.) com letras que se encaixam perfeitamente às cenas que vão sendo exibidas. Um recurso bem batido, meio kitsch, démodé, mas que tem seu charme e seu público.
Um Divã para Dois não é, portanto, lá um filmão! E dificilmente Meryl Streep vai ganhar o seu quarto Oscar por ele… Trata-se muito mais de um filme PRA SE DIVERTIR simplesmente. Mas que, de certa maneira, também nos faz acreditar que, mesmo passando por períodos de inverno em nossos relacionamentos, ainda vale a pena investir e esperar pelas primaveras que estão por vir.