Mon Pire Cauchemar (2011) x Crazy, Stupid, Love (2011)
Tão parecidos, tão diferentes !
Duas comédias (românticas ?) lançadas no fim de 2011 me chamaram a atenção. Não tanto pela qualidade, devo confessar, mas sobretudo pelas semelhanças e diferenças.
Uma delas é uma produção francesa, “Mon pire cauchemar”, estrelada pelos bem conceituados André Dussollier – tão querido de Alain Resnais – e Isabelle Huppert. A outra é uma produção americana, “Amor a Toda Prova”, com a excelente atriz Julianne Moore e com o ator cômico Steve Carrel.
Coincidentemente os dois filmes contam a história de casais que, após longo tempo de relacionamento, resolvem se separar. Casais que, de repente, se dão conta de que a magia e o encanto do princípio já não existem mais. Em ambos os filmes, os personagens (ex-casais) se envolvem com outros parceiros, vivem novas experiências, e acabam com isso, involuntariamente, envolvendo e machucando os bem próximos – os filhos.
Até aí, muitas semelhanças. Vamos então às diferenças:
No filme francês, o casal tem apenas um filho, já que a mãe trabalha em uma galeria e é uma pessoa extremamente ocupada e eficiente, não tendo tempo a perder com outros assuntos.
No filme americano, o casal tem três filhos, ambos os pais trabalham, mas conseguem ainda ser pais participativos e presentes na vida das crianças: o eterno modelo da família americana “perfeita”.
Em ambos os filmes, as mães são chamadas à escola em virtude de problemas de comportamento dos filhos. A francesa por seu filho ter se envolvido com vendas de drogas ilícitas; a americana em virtude de seu filho ter feito uma análise um tanto quanto pessimista – e “fora do padrão” – do livro The Scarlet Letter, se valendo de um punhado de palavrões, pra dizer que não acreditava no amor.
Os cenários, naturalmente, são bem diferentes. O francês exalando arte e glamour. O apartamento da família é lindo, super bem decorado, moderno, chique. O americano mais aconchegante, mais família, mais classe média, mais bagunçado…
As escolas das crianças são também bem diferentes. A americana é o famoso estereótipo das High Schools, com seus longos corredores cheios de lockers, exalando hormônios de uma sexualidade aparentemente excessiva. A francesa é sóbria, conservadora, careta. Também estereotipada, mas certamente com suas razões de ser.
Fora todas estas diferenças culturais, facilmente percebidas, há ainda as diferenças nas maneiras de pensar o cinema, de encontrar (ou não) soluções para os enredos.
Nos dois filmes, ambos os casais se dão conta, após certo tempo de separação, de que não eram tão infelizes assim. Que a vida era feita de altos e baixos, mas que o somatório final ainda era positivo. Ainda valia a pena ficar junto. No entanto, os finais são bem diferentes. O americano, como sempre, tentando nos dar uma lição de moral, tentando nos fazer seguir o “bom” caminho. Já o francês, também seguindo sua tradição, não nos dá respostas certas, apenas nos mergulha em um mundo de reflexões, no qual nos questionamos se há de fato “um” bom caminho.
Muito interessante assistir aos dois pra confrontar as semelhanças e as diferenças, e ainda por cima, poder dar boas risadas.
Mas não vá ao cinema esperando mais do que isto!
Mon Pire Cauchemar (2011) – ainda sem título no Brasil
Título original: Mon Pire Cauchemar
Origem: França / Bélgica
Diretor: Anne Fontaine
Roteiro: Anne Fontaine, Nicolas Mercier
Com: Isabelle Huppert, André Dussollier, Benoît Poelvoorde
Amor a Toda Prova (2011)
Título original: Crazy, Stupid, Love
Origem: EUA
Diretor: Glenn Ficarra, John Requa
Roteiro: Dan Fogelman
Com: Julianne Moore, Steve Carell, Ryan Gosling