Relatos Selvagens (2014)

Título original: Relatos salvajes

Origem: Argentina / Espanha

Direção: Damián Szifrón

Roteiro: Damián Szifrón

Com: Ricardo Darín, Leonardo Sbaraglia, Camila Franco, Diego Gentile, María Marull

Tenho visto, ultimamente, nas redes sociais comentários super positivos e bem entusiasmados sobre Relatos Selvagens, filme argentino produzido pelos irmãos Almodóvar, escrito e dirigido por Damián Szifrón, indicado à Palma de Ouro em Cannes em 2014 e, agora, concorrendo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

relatos salvajes

Entendo o entusiasmo, já que o filme é de fato 1) interessante 2) argentino e 3) « politicamente incorreto » (talvez não seja este o termo mais apropriado). Sendo esses dois últimos itens coisas da moda nesta nossa sociedade do espetáculo. Explico-me:

Curiosamente, em solo brasileiro, “ser argentino” pesa a favor do filme (afinal, não estamos falando de futebol!). Na verdade, já faz alguns anos que os filmes argentinos tornaram-se queridinhos dos brasileiros. Fato, aliás, perfeitamente compreensível, se considerarmos a excelente qualidade do que vem sendo produzido por nossos hermanos. No entanto, falar que filme argentino é muito bom acabou virando uma espécie de clichê para os cinéfilos de plantão, ou para os “entendidos” de arte em geral. Vamos com calma aí. Em qualquer país, há filmes e filmes.

Um outro ponto que pesa a favor de Relatos Selvagens, ajudando-o a entrar na listinha dos queridinhos do público e da crítica, é seu lado “politicamente incorreto”, ou talvez, mais precisamente, seu lado « macabro », violento, rebelde, e que atrai muito mais hoje em dia. Isso porque depois de tanto se incutir na cabeça das pessoas a ideia de que tudo (exagero aqui!) que antes era visto como normal era, na verdade, politicamente incorreto, hoje, o que se vê, ao contrário, é uma total desvalorização do seguimento às regras e do bom comportamento. O bacana agora é ser « do mal » (mais um exagero!). O politicamente correto não só perdeu a graça, como perdeu seu lugar ao sol. O que se vende hoje como “legal” ou “cool” é quebrar regras, ser do contra, não respeitar às leis. Como se fazer as coisas certas e seguir regras fosse um mal. Talvez esteja na hora de encontrarmos um equilíbrio! Assim sendo, como reflexo deste período de extremos, filmes sobre bons sentimentos, com personagens de boa índole, não são mais tão valorizados. Entram na vala dos água-com-açúcar e perdem pontos com os “entendidos”. Mas isto é assunto para uma tese…

Não estou querendo dizer aqui que Relatos Selvagens seja ruim. De forma alguma. Achei o filme bom, bem feito e interessante. Os sketches escolhidos formam um todo coerente, tendo como fio condutor aquela raiva que vai se avolumando dentro do cidadão comum diante das injustiças do dia-a-dia e de sua impotência e incapacidade para vence-las. Todas as partes são filmadas de forma simples, objetiva, direta, vez por outra com planos tomados de ângulos bastante inusitados e acompanhadas de boa trilha musical. Sem falar no sketch de abertura – muito bom, à la Almodóvar – que me fez criar ainda mais expectativas com relação ao filme.

No entanto, tenho que dizer aqui que esperava bem mais de Relatos Selvagens. Não achei assim “nenhuma Brastemp”, principalmente, porque não achei original. Não é original nem na forma (composto por sketches), nem no conteúdo. Lembrei o tempo todo de Um dia de fúria (1993), excelente filme realizado por Joel Schumacher, com Michael Douglas e que trata justamente desta explosão de raiva contida, desse sentimento de vingança que ultrapassa o limite do aceitável e do racional e que leva a pessoa ao fundo do poço, a um caminho muitas vezes sem volta, difícil e amargo. O tempo todo, ao longo do filme, vinha-me à mente a imagem de Michael Douglas enfurecido, “vomitando” seus piores sentimentos e assustando a todos a sua volta, um personagem que é ao mesmo tempo vítima e algoz de uma sociedade injusta e hipócrita. Como se Damián Szifrón tivesse “repaginado” aquele filme, dividindo-o em partes, adaptando-o à realidade argentina e às diferentes situações da vida naquele país.

Para os que adoraram o filme, peço que me desculpem. Talvez eu tenha caído exatamente no “conto do filme argentino” que mencionei no início deste texto, criando, por isso, expectativas demasiadamente elevadas com relação a Relatos Selvagens. Sem falar nesta mania de cobrar originalidade de tudo e de todos. Mea culpa. Afinal, quem disse que tem que ser original para ser bom?

Um filme PRA SE ANGUSTIAR.

PS. Ainda não entendi o porquê de alguns críticos colocarem o filme na categoria “comédia”. Só se for humor negro, pois o filme é bem angustiante, tratando sempre de sentimentos ruins, em situações deprimentes, violentas e pesadas. Não consegui dar nenhuma risada.

 

 

~ by Lilia Lustosa on janvier 23, 2015.

3 Responses to “Relatos Selvagens (2014)”

  1. Adorei o filme.
    Fiquei feliz com a indicação, de novo, de um filme argentino para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
    Qual das partes é a sua favorita ? Não consegui escolher uma… fiquei com a dos dois motoristas, a do Sr. Bombinha e a do casamento.
    Bye.

  2. Oi, Andréa. Minha parte favorita foi a do menino rico que atropela a mulher grávida. Acho quer daria um ótimo longa metragem. Fiquei com vontade de ver mais, de ver os desdobramentos, de ver até onde iria aquele jogo tão sujo, hipócrita e, ao mesmo tempo, desesperado. Bjs

  3. Que bueno leer la crítica, espero que me entiendas yo comprendo portugués escrito pero no lo podría escribir y si google me lo traduce mal creo que quedaría peor aún.
    Yo vi ésto que decís de la comedia, me pareció una parodia de la tragedia, llevada al punto culmine en donde los espectadores que lo pueden ver de fuera decimos algo así como ésto es un poco demasiado.
    Es más, no creo que haya sido el mensaje del autor pero yo lo vi como un mensaje de Basta ya de violencia.
    Just other point of view 🙂

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