Kyss Mig (2011)

Veja o trailer aqui!

Título original: Kyss mig   

Origem: Suécia

Diretor: Alexandra-Therese Keining

Roteiro: Alexandra-Therese Keining

Com: Ruth Vega Fernandez, Liv Mjönes, Lena Endre, Krister Henriksson

Um filme que desenvolve um tema delicado, para muitos ainda tabu – o homossexualismo – tratado de maneira elegante, feminina, bela e extremamente sensual.

O filme da sueca Alexandra-Therese Keining conta a história de duas mulheres na casa dos trinta, já com a vida aparentemente encaminhada: Mia (Ruth Vega Fernandez), arquiteta, morena, reservada, séria, noiva às vésperas do casamento; E Frida (Liv Mjönes), professora de música (?), loira, risonha, determinada, também comprometida (mas só vamos saber disso já bem mais adiante no filme). As duas se conhecem na festa de noivado de seus pais. O pai de Mia vai casar com a mãe de Frida.

Desde o primeiro encontro das duas há uma certa tensão no ar, percebida pelas trocas de olhares furtivos tão bem interpretados pelas protagonistas. No início imaginamos que seja por ciúmes, já que o noivo de Mia se encanta pela beleza, independência e vida que irradia de Frida. Mia se sente incomodada pela presença da futura “irmã”, não conseguindo, no entanto, desviar sua atenção da figura esguia de Mia. Dá para sentir no ar que alguma coisa vai desandar naquele relacionamento.

Aliás, já desde a primeira cena do filme temos indícios de que uma reviravolta está por vir. O plano do casal  Mia e Tim na cama nos é mostrado de cabeça para baixo (ou de ponta-cabeça), em uma plongée vertical, causando certo desconforto aos nossos olhos.

O pai de Mia, que percebe a tensão no ar – e desejando unir sua nova família – arma uma armadilha para sua própria filha: ele a convida para passar com ele o fim de semana na casa de sua noiva, em uma ilha isolada, onde também estará sua enteada Frida. Acontece que ele não vai. Mia fica muito aborrecida de ter que passar o fim de semana com essas duas mulheres que ela mal conhece.  Percebendo a decepção de Mia, a mãe de Frida pede para que ela seja gentil com moça e que faça as vezes de boa anfitriã e de boa irmã-postiça.

Está feito então o convite para o nascimento de uma paixão arrebatadora que vai colocar em risco toda a estabilidade e os planos das vidas dessas duas belas mulheres.

Kyss mig é um filme banhado de luminosidade e de cores pastéis, por vezes lavadas, desbotadas, algumas vezes com imagens fora de foco. Um universo feminino, elegante e delicado. Nada aqui é vulgarizado. Nem o amor nem o sexo. As cenas são todas de extrema beleza e de uma intensidade e de uma paixão incontestáveis. A atuação das duas atrizes há de ser aqui enaltecida. As duas dão show ao transmitir sentimentos tão profundos, doloridos e verdadeiros.

E esse jogo de cena é acentuado ainda pelo uso constante de close-ups, com cenas fetichistas, em que vemos apenas detalhes dos corpos das duas amantes. Uma nuca descoberta, um colo em destaque ou uma perna em close… tudo trabalha para aumentar o clima de sensualidade do filme.

O tema do homossexualismo é tratado, assim, de maneira madura, elegante, sem recorrer a estereótipos nem a exageros. Em uma certa altura da trama,  porém, o filme cai na tentação do discurso-clichê. O que é uma pena, já que até lá o filme é todo lindo! No entanto, ao mesmo tempo, esse discurso-quase-piegas nos ajuda a enxergar a dificuldade que se impõe aos que resolvem assumir suas escolhas diante de uma sociedade ainda tão cheia de preconceitos. E olha que estamos aqui falando de Suécia, país do norte da Europa, conhecido por seus liberalismos. Imaginem nos trópicos!

A trilha, assinada por Marc Collin, da banda francesa Nouvelle Vague, também merece menção, já que casa tão bem com o clima sensual, delicado e elegante do filme. Sem falar no trabalho de som – ou de falta de som – para representar a ausência psicológica do personagem em determinada situação. Exemplo: Quando Frida vai embora no taxi e Mia sai correndo atrás, vemos Frida em primeiro plano dentro do carro e, pela janela, explorando a profundidade do campo, vemos Mia correndo atrás e gritando. Nós, espectadores, porém, não ouvimos nada. Só o silêncio do profundo sofrimento de Frida.

Kyss Mig é, portanto, um filme PRA PENSAR que retrata com primor um olhar feminino sobre uma paixão entre mulheres.


2 Responses to “Kyss Mig (2011)”

  1. Lilia, o seu comentário “Imaginem nos trópicos!” me fez lembrar um documentário sobre homossexuais que vivem em Juchitá no México. “Eles” são chamados de “muxes”, mas são extremamente respeitados na sociedade. Há até pais que desejam ter ao menos uma muxe em casa para terem com quem contar na velhice. Achei um vídeo no youtube sobre isso. 🙂 http://www.youtube.com/watch?v=QvbUYE3t688&playnext=1&list=PLDF631BC1C1837010&feature=results_video

    • Oi, Nádia. Obrigada pelo seu comentário. Eu assisti ao vídeo e achei super interessante. Me fez lembrar de uma reportagem que vi, certa vez, sobre o papel dos “hijras” – travestis – na Índia. Lá, eles acreditam, mesmo na zona rural, que os travestis têm poderes “mágicos”. E os pais não se importam tampouco que seus filhos resolvam se tornar “hijra”. O que não impede que, vez por outra, eles sejam agredidos em locais públicos. Triste! Lembro-me também de que, numa determinada cidade que não lembro o nome, era praxe que os recém-nascidos recebessem a benção dessas figuras super coloridas e respeitadas que são os “hijras”. Para você ver como tem muito mais coisa por esse mundão de meu deus aí que a gente ignora… Bjs

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