Mommy (2014)

Título original: Mommy

Origem: Canadá

Direção: Xavier Dolan

Roteiro: Xavier Dolan

Com: Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon, Suzanne Clément

Realizado e escrito pelo menino prodígio do cinema contemporâneo – Xavier Dolan – Mommy é denso, intenso, belo, hiperbólico, atual e eterno!

Quinto longa metragem do canadense de vinte seis anos (realizado quando ainda tinha 25), Mommy ganhou o Prix du Jury no Festival de Cannes de 2014, dividindo-o com ninguém mais ninguém menos do que Jean-Luc Godard, por seu Adieu au LangageMOMMY-Affiche

O filme conta a história de Diane (Anne Dorval), uma mãe quarentona, viúva há não muitos anos, e que, sozinha, tenta criar o filho Steve (Antoine-Olivier Pilon), adolescente difícil, que sofre de distúrbios psíquicos não muito bem definidos (Déficit de atenção, hiperatividade…) Males dos novos tempos, males de todos os tempos.

O filme começa com Diane sendo chamada para buscar seu filho em um centro de reabilitação (ou algo do gênero), depois do adolescente ter colocado fogo em uma das alas do prédio, causando uma queimadura grave em um de seus colegas.

A mãe que vive de bicos para sobreviver desde que ficou viúva, vive o dilema de não querer ver o filho sofrer e ser tratado como criminoso, dando sua guarda ao Governo canadense, via lei S-14*, ou de levá-lo para casa e não saber como lidar sozinha com os destemperos (doença) do filho. Seu instinto materno, no entanto, a faz acreditar que há uma esperança para o menino, mesmo depois de ouvir da moça da instituição que a pior coisa que se pode fazer a um filho doente é acreditar que se é invencível ou que ele seja invencível. E que só o amor não basta, infelizmente. “Não é porque amamos alguém que podemos por isto salvá-lo”, diz a moça. Momento forte, ainda bem no início do filme, em que Diane, em close, responde: “os céticos serão desmentidos”.

E é com este tom que o filme é aberto. Aliás, aberto talvez não seja a palavra mais adequada, já que o formato escolhido por Dolan foi um formato diferenciado, apertado (como se filmado/visto por uma tela de ipad ou de telefone na vertical) que faz pensar no formato do cinema dos primeiros tempos. Uma fórmula que nos incomoda, que nos sufoca, dando-nos vontade de agir, aumentando a tela, abrindo nosso campo de visão. Mas é exatamente isto que ele quer, nos colocar dentro do universo desta mãe que sofre, que se sente oprimida, sufocada, encurralada, sem conseguir enxergar uma saída para seu filho e para sua própria vida.

Eis que, para aliviar a vida de todos, inclusive a nossa de espectadores, surge Kyla (Suzanne Clément) uma vizinha recém-chegada ao bairro da periferia de Montreal, que sofre de um distúrbio da fala. Depois de um trauma, que nunca é explicitado no filme (tenho minhas desconfianças), ela gagueja e tem que abandonar seu trabalho de professora. E é no universo desequilibrado de Diane e de Steve, que Kyla – que vive com marido e filha em um lar aparentemente “normal”- encontra seu equilíbrio. É lá, em meio à gritaria, fumaça de cigarro, álcool, música alta e um “quase-filho”, que ela consegue melhor se expressar, se soltar, se liberar de seus traumas silenciosos e misteriosos até o fim do filme.

Assim, com esse trio de personagens maravilhosamente interpretados pelos três atores, o filme vai nos envolvendo, nos embarcando numa espécie de montanha russa de sentimentos e de sensações, em que vamos do riso à lágrima em poucos segundos, da calmaria à taquicardia de uma cena a outra. Reflexo imediato do que vemos na tela: Steve indo da candura à loucura em frações de segundos; as falas absurdamente rápidas de Diane, contrastando com as falas super lentas e gaguejadas de Kyla; sentimentos de esperança, seguidos do mais puro desespero…

Para completar a fórmula de sucesso de Mommy, a excelente trilha que embala o filme – composta basicamente de música pop – faz parte na realidade, de sua própria diegese (universo fílmico), sendo constituída pela playlist que o pai de Steve lhe deixou gravada em um CD, antes de morrer, e por isso mesmo, tão carregada de sentimentos e de recordações.

Uma das sequências mais ensolaradas do filme é a ritmada pela música Wonderwall, da banda Oasis, cuja cena-climax é a de Steve andando de skate, acompanhado por Diane e Kyla de bicicleta, e ele, transbordando de felicidade, empurra as bordas da tela, abrindo-nos finalmente a visão por algumas cenas. São momentos, mesmo que curtos, de alívio, de esperança, de crença na possibilidade de um futuro feliz para esta mãe e para este filho que tanto sofrem e não sabem que caminho seguir. Talvez não por simples coincidência a banda se chame “Oasis”. Esta sequência é um oásis dentro das areias infinitas do filme.

Mommy é um filme forte, que mexe pra valer com a gente, sobretudo com as mães de plantão, que tudo o que mais querem na vida é ver seus filhos felizes! Imperdível!

PRA PENSAR. PRA SE ANGUSTIAR.

* No início do filme, um texto em letras minúsculas, explica que em um Canadá fictício de 2015, a lei S-14 permite que um dos pais de uma criança portadora de distúrbios comportamentais severos, em caso de problemas financeiros, perigos físicos e/ou psicológicos, possa deixar seu filho (a) sob a guarda dos hospitais públicos canadenses.

~ by Lilia Lustosa on abril 19, 2015.

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