American Vagabond (2013)
Título original: American Vagabond
Origem: Finlândia /Dinamarca
Diretora: Susanna Helke
Roteiro: Susanna Helke
Com: James Temple, Tyler Johnson, Sandy Temple, Jim Temple,
Acabo de chegar de mais um filme apresentado no Festival Visions du Réel, aqui de Nyon. Desta vez meu selecionado foi uma produção finlandesa / dinamarquesa, dirigida por Susanna Helke, uma premiada realizadora de documentários.
A história se passa nos Estados Unidos de hoje e narra a vida de James Temple, um homossexual de 17 anos, que, sem encontrar apoio familiar, deixa sua casa, na pequena cidade de Chico, nos EUA, a fim de tentar a sorte naquela que ele imagina ser o paraíso dos gays: São Francisco.
Ele parte em companhia de seu namorado Tylor Johnson, um ano mais velho que ele, e que, obviamente, tampouco é aceito por sua família. Os dois vão apenas com uma malinha, duas mochilas, duas raquetes de tênis (símbolos da esperança de uma vida decente) e com seus respectivos sacos de dormir, para serem usados nos primeiros dias, até encontrarem emprego e ajeitarem a vida. Em seus sonhos, eles se veem vivendo em uma cidade livre de preconceitos e fervilhando de oportunidades. Taylor, com sua maioridade e seu conhecimento de informática vai logo poder “descolar um bico” e os dois vão ser felizes para sempre, longe dos insultos paternos e da conivência de uma mãe fraca e impotente, dividida entre seus sentimentos, suas crenças religiosas, e a influência de um marido machista.
Acontece que as coisas não vão sair bem como planejado. E as cores do arco-íris, vislumbradas pelo casal, acabam se esvanecendo rapidamente. O mundo que descobrem é um mundo cinza e frio, com ruas, prédios e almas cinzas, como diz James em uma de suas falas.
O filme é, aliás, praticamente todo narrado por James e conduzido por ele. A câmera, em muitas ocasiões, substitui seus olhos e nos faz ver o que está à sua frente. Outras vezes, ela parece que tem vida própria, é sua companheira nesta vida-bandida de errante, tão homeless quanto ele. Uma sacada fantástica da diretora, que nos oferece uma câmera desnorteada, perambulando lentamente pelas ruas, pelos parques e por debaixo de pontes, em busca de um lugar para pousar, para descansar o corpo e o espírito. Sempre acompanhada por uma bela música triste. O que aumenta mais o nosso pesar.
American Vagabond é, sem dúvida, um filme triste, angustiante, mas necessário. Um filme que nos joga na cara de maneira sensível, delicada e direta, o mal que podemos fazer a nossos filhos ao não aceitarmos ou respeitarmos suas escolhas de vida. Um filme que nos joga também na cara o quão hipócrita é a nossa sociedade. No caso aqui, a sociedade norte-americana, mas, definitivamente, não acho que possamos nos excluir dessa categoria! Uma mãe que diz que entende o filho, mas que não faz nada para impedir os abusos de um pai ignorante e estúpido, na verdade, não entende de verdade o filho. Apenas finge para passar por boazinha. Uma mãe que tem plena consciência de que o filho está passando fome e frio e nada faz para ajuda-lo, não pode entender seu filho. Uma mãe que reza pedindo a ajuda de Deus, mas que nada faz de prático, definitivamente, não aceita de fato a sexualidade do filho.
Não que a questão seja simples ou fácil para todos. Não, não é isto que estou dizendo, e, nem acho que seja esse o propósito do filme. Trata-se muito mais de alertar-nos sobre a necessidade de se rever uma porção de questões oriundas das tradições de uma sociedade extremamente conservadora. E que, muitas vezes aceitamos, sem maiores questionamentos. Trata-se, também, de abrir nossos olhos e nossos corações para a compreensão e o respeito. Respeito pelas escolhas individuais. Compreensão para enxergar que, independentemente da escolha sexual feita, um filho é e sempre será um filho. Isso não muda um só grama do que ele é em sua essência.
Certamente, para alguns pais, o tempo de entendimento da situação, ou mesmo de aceitação do fato, será maior ou menor, a depender do grau de “poluição” de sua alma. É preciso, no entanto, se esforçar, dar uma chance e tentar deixar a sensatez, o bom senso e o amor falarem mais alto. Senão, o preço que se pode pagar depois pode ser bem alto. E nada, absolutamente, nada, substitui o amor e a convivência de um filho.
Um filme PRA PENSAR e PRA SE ANGUSTIAR.