Les Saveurs du Palais (2012)
Título original: Les Saveurs du Palais
Origem: França
Diretor: Christian Vincent
Roteiro: Christian Vincent, Etienne Comar
Com: Catherine Frot, Jean d’Ormesson, Hippolyte Girardot, Arthur Dupont
O novo queridinho da França é um filme absolutamente delicioso de se ver!
Estreado em 17 de setembro último, o filme de Christian Vincent vem abrindo o apetite de muita gente aqui na Europa e promete ser o novo campeão francês de bilheteria em 2012, seguindo de perto o exemplo de seu compatriota Intocáveis (leia a crítica no post de 4/12/11).
O fato não é sem razão de ser.
O filme é baseado na vida e nas lembranças de Danièle Mazet-Delpeuch – por dois anos cozinheira particular do presidente François Miterrand – registradas no livro escrito por ela mesma, de título Mes Carnets de Cuisine – du Périgord é l’Élysée, publicado em 1997.
No filme – que mistura ficção e realidade – Danièle se chama Hortense Laborie, maravilhosamente interpretada por Catherine Frot. Uma mulher forte, determinada, talentosa, filha e neta de grandes cozinheiras especializadas na cozinha típica de Périgord, região localizada no sudoeste da França. E de um pai agricultor, dedicado à venda de produtos selecionados, de altíssima qualidade. Detalhe: essas informações não nos são apresentadas pelo filme, que pouco nos fala sobre sua vida pessoal e pregressa.
A história, contada por meio de uma série de flash-backs, começa inusitadamente na Antártica, com dois personagens jornalistas falando em inglês. Nada de Palácio, nada de França e nada de cozinha.
Depois de alguns minutos de “será que estou no filme certo?”, somos finalmente apresentados a uma mulher solitária, de traços e atitudes fortes, única representante feminina em meio àquele grupo de homens de barbas mal feitas, confinados no frio da Antártica.
E é lá, então, que vamos descobrir finalmente que a cozinheira da missão é também aquela mesma mulher elegante e forte que foi durante dois anos a cozinheira pessoal do presidente François Miterrand. Monsieur, le Président é interpretado ironicamente pelo escritor, filósofo e jornalista de direita Jean d’Ormesson. Aliás, uma atuação questionável, com pausas excessivas, e até mesmo com uma certa dificuldade de articulação das palavras.
Dali, somos transportados, então, para um universo mais quente e colorido, menos úmido, mas não tão menos masculino: para a região de Périgord, no sudoeste da França. De onde seguiremos – junto com a personagem principal – para o endereço do poder maior da França: o número 55 da rua Faubourg Saint-Honoré. Para a cozinha onde Hortense vai conhecer de perto os sabores e dissabores do poder.
A partir daí o filme entra em um jogo constante de vai e vem, misturando cenas do presente gelado da Antártica com o passado quente do Eliseu. Contrastando as cores frias de hoje com as cores quentes de ontem. A simplicidade de uma base militar, com a sofisticação, a hierarquia e a complexidade da casa que abriga o poder maior da República Francesa.
Mas não se enganem, Les Saveurs du Palais não é um filme sobre política. Longe disso. Trata-se de um filme sobre o prazer da boa mesa, sobre a arte da culinária e sobre a forte ligação da França com sua gastronomia, que – com todos os seus rituais – reflete muito de seu jeito de ser, de pensar, de se comportar. Não é a toa que a gastronomia francesa recebeu em 2010 o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
É claro que, tendo a política como pano de fundo, o filme não poderia deixar de salpicar aqui e ali questões relacionadas à hierarquia do poder, retratando, assim, situações de inveja, competição e controle, tão características da guerra pelo comando (da cozinha) do Palácio.
Finalmente, Les Saveurs du Palais é um filme sobre uma paixão comum – a gastronomia – entre uma mulher simples, um homem poderoso e toda uma nação apreciadora da arte da boa mesa. Uma paixão capaz de transpor certas fronteiras, mas incapaz de muda-las totalmente de lugar. Um filme sobre a arte de encontrar na simplicidade o maior prazer da vida.
Um filme PRA SE DISTRAIR e PRA SE ENCANTAR.
PS. As cenas dos pratos são de dar água na boca. Meu conselho é que, antes de ir ao cinema, vocês já façam uma reserva em um bom restaurante e cheguem preparados para engatar um delicioso jantar após o filme. Programa perfeito para gourmands e gourmets de todas as idades!