O Show de Truman (1998)

Título original: The Truman Show

Origem: EUA        

Diretor: Peter Weir

Roteiro: Andrew Niccol

Com: Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah Emmerich

Original, instigante, inteligente, um filme a ver e a rever em família.

Em tempos de Jogos Vorazes (leia a crítica neste mesmo site, publicada em 1/4/2012), em que a sociedade do espetáculo em que vivemos é recolocada em questão, creio que vale a pena voltarmos um pouquinho no tempo para analisar este filme do fim do século 20 que retrata tão bem a confusão atual entre o real e o ensaiado, entre o natural e o artificial.

Com vocês O show de Truman!

O filme conta a história de Truman (Jim Carrey), um homem casado, que leva uma vida estável e confortável, com um bom emprego, casa e carro próprios, um bom e fiel amigo de infância, uma mãe compreensiva e participativa, e uma esposa enfermeira que sonha em aumentar a família. Tudo em torno dele parece perfeito, ensaiado, tudo tão em ordem que não parece real. As pessoas o os lugares são sempre os mesmos, todos se conhecem, se cumprimentam e a vida segue uma rotina sem grandes novidades, sem grandes emoções, uma vida meio sem vida.

Truman, que teve seu espírito aventureiro podado desde a infância, mantém em seu íntimo, o sonho de um dia chegar as ilhas Fiji, impulsionado por uma paixão da adolescência. Mas ele é prisioneiro de seus medos (ele perdeu o pai em um acidente de barco e tem fobia de água), de sua ilha, de sua própria ignorância. Mas devagarzinho as coisas vão mudando, até o dia em que ele pensa ter esbarrado em seu pai “morto”, começando a desconfiar de que há algo de estranho em sua vida.

E essa será sua grande luta, ir atrás de seu pai, descobrir se ele está mesmo morto, ultrapassar a fronteira do medo e descobrir o que se esconde do outro lado da ponte, saciando assim sua fome de conhecimento e de aventura.

O filme é em tudo brilhante, a começar pelo nome escolhido para seu protagonista e grande estrela do show: Truman. Um nome que já traz em si a “verdade”, batizando ironicamente um personagem que não conhece a verdade sobre sua família, sua cidade, sua vida… sobre nada.

A escolha estética de Peter Weir foi a de filmar Truman sob diversos pontos de vistas, indo desde tomadas “normais”, com planos gerais, planos americanos, etc., até tomadas feitas sob ângulos “estranhos”, dando a impressão de tomadas feitas por câmeras de segurança (com distorções), ou câmeras escondidas, que têm como resultado uma série de cenas emolduradas por diferentes caches, por vezes em contra-plongée, outras em plongée. Enfim, uma profusão de câmeras subjetivas cujos olhos são os dos próprios espectadores do Show de Truman, disfarçados em anéis, colares, retrovisores, etc.

O Show de Truman nos faz pensar em até que ponto se pode manipular a vida de uma pessoal em prol de uma boa audiência. Nos faz também refletir sob até onde nossas vidas, fora do estúdio, não são também manipuladas, orientadas por determinados papéis que a sociedade nos impõe interpretar. Papéis muitas vezes bem diferentes do que realmente somos ou sonhamos. E que fazemos sem questionar. Será que a vida que se vive fora de um reality show é tão melhor ou mais real do que a que se vive lá dentro? Será que não somos nós também grandes atores, atuando, fingindo, interpretando papéis diversos, a depender do que a circunstância exige? E quem é o nosso diretor, a qual “deus” obedecemos?

Por fim, o filme de Peter Weir nos remete também ao mito da caverna de Platão, nos fazendo questionar se não há algo lá fora de nossas vidas, algo que vai além desta vida que levamos, algo mais real, mais sincero, mais honesto e coerente com nós mesmos. Só que para encontrarmos a resposta é preciso ter coragem de sair da caverna e enxergar a luz, a verdade!

Fica aqui a sugestão de um bom filme para pensar. Excelente para assistir e discutir com adolescentes.

~ by Lilia Lustosa on abril 22, 2012.

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