Era uma vez na Anatólia (2011)
Título original : Bir Zamanlar Anadolu’da
Dirigido por: Nuri Bilge Ceylan
Escrito por: Nuri Bilge Ceylan, Ebru Ceylan, Ercan Kesal
Com: Muhammet Uzuner, Yilmaz Erdogan, Ercan Kesal, Taner Birsel, Firat Tanis
Sombrio, diferente, lento, sensível, masculino, sublime!
Este filme turco que levou o Grand Prix em Cannes 2011 vem causando um certo alvoroço no meio cinematográfico, que vê nele um novo marco no cinema do século XXI.
O que certamente não acontece em vão, já que o filme é, de fato, de excelente qualidade e bem diferente do que estamos acostumados a ver.
Primeiro, é super longo e lento. Nada de muita ação nem muitas revelações. O que domina é o subliminar, o não dito, o por dizer.
Segundo, sua primeira parte (cerca de uma hora) acontece em plena escuridão, com pouco a ser visto, mas bastante a ser sentido e percebido.
Terceiro, trata-se de um filme predominantemente masculino (quase não há personagens femininos em cena), embora as mulheres se façam bastante presentes no “arrière-plan”.
Em quarto lugar, “Era uma vez na Anatólia” apresenta planos absolutamente sublimes, sombrios, lindos, praticamente saídos de uma tela de Rembrant.
Por meio de um bem trabalhado jogo de “chiaroscuro”, e de enquadramentos originais, Nuril Bilge Ceylan consegue dar à sequência da “aparição” da filha do prefeito, por exemplo, um ambiente espiritual, onírico, quase divino. Um dos planos mais belos do cinema dos últimos tempos!
O filme conta a história de um grupo de homens de diferentes estratos da hierarquia do crime – suspeito, delegado, procurador, médico, motorista, soldados, etc. – que juntos erram em busca de um corpo.
As cenas são de grande contraste, variando de lindos planos gerais das paisagens da Anatólia, a planos extremamente “apertados”, em que vemos homens espremidos dentro de carros, que parecem pequenos demais para abriga-los todos.
E é neste ambiente “huit clos” que suas sensibilidades vão aos poucos se revelando, que vamos devagarzinho descobrindo as angústias, razões de viver e de ser desses homens de barbas mal feitas, e de almas frágeis e sofridas.
E talvez seja justamente aí que o filme se mostre ainda mais diferente, interessante e belo, nos revelando idiossincrasias de homens rudes, apresentando com eles (e por meio deles) situações que nos fazem pensar até onde nos interessa saber a verdade dos fatos, as razões dos acontecimentos que marcam nossas vidas…
“Era uma vez na Anatólia” me fez pensar em “Nos tempos da diligência” (1939) de John Ford, em que um grupo composto de diversas classes sociais se desloca de um ponto a outro no deserto do Arizona e onde, devagarzinho, vamos descobrindo suas histórias, suas nuances, suas belezas e suas vergonhas. Sendo que no caso de Ford, as mulheres se fazem bem mais presentes em cena.
Um filme para todos os que apreciam o grande cinema!